No Brasil tem sido assim há décadas: as tragédias anunciadas se materializam, mudando a vida e a rotina das comunidades afetadas.
Os casos são muitos, mas vale destacar o que
acontece nos municípios onde as cidades são banhadas ou cortadas pelo Rio
Mundaú, como São José da Laje, União dos Palmares, Branquinha, Murici e Rio
Largo.
Quantas enchentes, quantas famílias vendo a água levar móveis, carros, até deixar as paredes no chão e famílias enlutadas. Tem sido assim desde 1969, quando a primeira grande enchente destruiu boa parte da cidade de São José da Laje, matando mais de mil pessoas.
2000 e 2010 também protagonizaram enchentes cada vez mais fortes e destrutivas, fruto da expansão imobiliária desordenada e, na maioria dos casos, da inexistência do saneamento básico.
Tragédia anunciada
Em 2010, depois dos seguidos avisos, apelos e recomendação da Defesa Civil
Estadual, nenhum município da região do chamado Vale do Mundaú tinha Defesa
Civil Municipal pronta para agir. Naquele ano choveu forte em Pernambuco,
deixando a capital e 15 municípios em situação de alerta máximo. Em Alagoas
foram 14 municípios atingidos.
Para os moradores do Vale do Mundaú havia o aviso da possibilidade de rompimento
de uma represa na cidade de Correntes (PE). As rádios da região noticiavam a
possibilidade de rompimento e consequente catástrofe, mas a maioria dos
moradores, acostumados aos alertas falsos (cheias menores) só decidiam deixar
suas casas no momento limite. Em 2010 não deu. A represa não suportou, a chuva
não deu trégua e o pior aconteceu. A cidade de Branquinha foi destruída pela
água e dois toneis de álcool da Usina Laginha, que se desprenderam e também destruíram
casas e uma rua completa em Murici. Desta vez também não deu tempo para que
todos saíssem a tempo. Além de todos os pertences, vidas também se foram, com
alguns corpos nunca encontrados. Naquele mesmo ano Rio Largo também conheceu
seu pior momento.
8 anos e meio depois
É aí onde vem a lição para os moradores do Pinheiro, Bom Parto,
Bebedouro e Mutange. Após a tragédia de 2010 a Defesa Civil condenou trechos
próximos ao Rio Mundaú em São José da Laje, União dos Palmares, Branquinha,
Murici e Rio Largo. O Governo Federal demorou a agir ao ponto de João Lyra
reerguer e colocar a Usina Laginha para moer antes mesmo que a primeira das
milhares de casas construídas para os “desabrigados” fosse entregue. Em Branquinha
e Murici a fotografia da cidade mudou, novos conjuntos habitacionais surgiram,
a população aumentou sem planejamento, mas as casas que deveriam ter sido
demolidas continuam lá, inclusive com novos moradores.
Uma nova tragédia
Nos municípios ribeirinhos os moradores têm a previsão de uma
catástrofe a cada 10 anos. Ou seja: pela teoria popular o próximo ano é de
enchente.
A situação dos moradores dos bairros citados no imbróglio do momento não tem nada a ver com os ribeirinhos, mas o alerta é um ponto que não pode ser ignorado. Em 1941, quando as sondas perfuraram o solo nas áreas de mangue da Lagoa Mundaú, o objetivo do Conselho Nacional do Petróleo era a prospecção de petróleo, mas o que encontraram foi um “leito” de sal-gema, na região do Mutange.
A partir dali houve uma disputa acirrada pelo monopólio, envolvendo o dono de um terreno na área (Euvaldo Luz), a Sudene, o BNDE e até um grupo americano. Foi daí que, em 1966, surgiu a Salgema Indústrias Químicas Ltda.
A construção da fábrica de cloro-soda, o campo de salmoura e o terminal marítimo, em Maceió, tiveram início em 1974. A partir de 1975 a Petroquisa e a Du Pont assumiram o controle da estatal Salgema Indústrias Químicas S/A. A produção comercial só teve início em 1977 e a unidade de dicloretano, em 1979.
O local
Um detalhe chama a atenção: Quando da escolha do local para a construção
da indústria durante o governo de Divaldo Suruagy, o coordenador do projeto de
implantação era o economista Beroaldo
Maia Gomes.Foi ele quem revelou, no início dos anos 80, que a escolha do local foi
feita por um grupo de técnicos que veio dos
Estados Unidos e dele participava o vice-presidente da Dupont: “Eles acharam
que o único lugar adequado, possível na época, seria onde hoje a Salgema está
instalada. Era lá ou em nenhum outro local. Eu ainda sugeri outras áreas; mas
não foi possível dissuadi-los. Eles garantiram que não haveria riscos para a
população”.
E agora?
O que os moradores dos bairros em atenção precisam é da verdade. Os primeiros
estudos não indicam nenhuma boa notícia. Também não há como dizer, pelo menos
agora, o tamanho do problema. Mas, imaginando que o risco de catástrofe seja
real, o que fazer, para onde levar os moradores e como será o ressarcimento?
A verdade dos fatos, que correm em segredo de justiça, é a primeira e melhor resposta para todos, mas antes que o pior aconteça.
O difícil, caso o problema seja oriundo da extração do sal-gema, será uma empresa do porte da Brasken reconhecer a culpa pelo desastre.
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