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Maceió/Al, 29 de março de 2024

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26/03/2020 às 11:51

Eu tenho visto a população brasileira dividida em duas e dessa vez a polarização não está entre “bolsonaristas” x “petistas”; entre “direita” x “esquerda”.

Renan Silva - é arquiteto e urbanista

De um lado estão aqueles que defendem a quarentena e do outro aqueles que precisam da volta à normalidade social para poderem gerar renda e emprego. Os primeiros não são “contra a economia” e os últimos não são “a favor da morte”. 

A verdadeira cisão, nesse momento, é resultante da fragmentação da abordagem à crise. E nossos governos têm grande responsabilidade sobre isso.

A crise, na verdade, são AS crises. Temos duas acontecendo simultaneamente: uma sanitária e outra socioeconômica. 

A pandemia é uma realidade factual. Estamos no meio dela, no olho do furacão. E a estratégia para enfrentá-la é consensual: isolamento social para fazer o que se tem chamado de “achatar a curva”, ou seja, controlar a velocidade de propagação do vírus, para que as contaminações sejam graduais e para que possamos conseguir dar o melhor atendimento à maior quantidade de pessoas possível entre as vítimas do COVID-19 e aquelas que demandam serviços médicos por outras razões. O número de mortos da pandemia será diretamente proporcional às ações que são realizadas agora. Isolar apenas os grupos de risco não é uma medida de controle. O vírus é muito fácil de ser transmitido e fatalmente os não isolados o levaria para casa. Além, é claro, do fato de que não pertencer aos grupos de risco não torna alguém imune aos riscos de complicações e até morte.

Ok, então isolamento social é a melhor estratégia para controle da pandemia, mas acontece que isolamento social não é uma opção para todo mundo. Uma coisa é ficar de quarentena numa casa confortável, trabalhando em casa, mantendo seus rendimentos, com a geladeira e o armário cheios e podendo sair para reabastecê-los quando vier a escassez. Ou mesmo poder ficar em casa, sem trabalhar, e ter uma reserva para não passar necessidade.

Outra coisa é você fazer quarentena quando depende da correria do dia para conquistar o pão da noite. Ou ter uma empresa que depende da vida social se desenvolvendo em sua normalidade para poder atuar e movimentar a economia. E o que dizer dos moradores de rua e de comunidades mais pobres, em que muitos vivem em moradias com ocupação excessiva, sem banheiro ou água potável? 

Um período de isolamento prolongado pode ser um tormento para os trabalhadores informais e a sentença de morte para muitas empresas, um colapso para a economia, aumento de depressão e suicídios, um caos!

Vivemos duas crises simultâneas. E só é possível tratá-las de forma inteligente de maneira também simultânea.

Um colapso na saúde impacta na economia. Um caos na economia impacta na saúde. Ambas as crises são uma ameaça à vida humana.

Não temos como escolher entre saúde e economia. Não dá pra ser um ou outro. Tem que ser os dois!

Precisamos de um isolamento severo, como tem aconselhado todas as autoridades de saúde pública do mundo, com um olhar atento às peculiaridades da ocupação do território e das condições socioeconomicas do Brasil. E tal política pública precisa vir acompanhada de um plano de sustentação econômica que possibilite que as empresas não quebrem e que não esperemos que trabalhadores tenham que escolher entre se isolarem ou passarem necessidades ou até mesmo fome. 

Sabemos qual a estratégia mais eficiente até então para tentar combater a crise na saúde. Como equilibrar isso com o controle da crise socioeconômica eu deixo para os economistas. Há ações sendo tomadas em outros países que podem servir de referência para nós e muitas ideias já estão sendo colocadas no debate público específicas para o Brasil. Exemplos de estratégias são a ideia da renda mínima básica, para que as pessoas de baixa renda possam ficar em casa, mantendo minimamente seu poder de compra, e políticas fiscais e financeiras para oxigenar as empresas que reduzirão ou pararão suas atividades com a quarentena. Os economistas chamam essas estratégias de política fiscal anticíclica.

O fato é que enquanto nós não conseguirmos unir as duas frentes de batalha, enquanto não conseguirmos conversar de forma humana e transparente com toda a população brasileira, em toda sua imensa diversidade, nós seguiremos nessa cisão, com alguns segmentos da sociedade clamando pelo respeito às medidas de segurança de controle da pandemia e outros clamando pelo retorno à normalidade da vida em sociedade (se é que é possível, diante do que vivemos) para não padecerem com a crise econômica. 

E essa cisão talvez seja mais perigosa do que o COVID-19.

Precisamos enfrentar as duas crises juntos!

No meio dessas duas crises, como se não bastasse, temos uma terceira acontecendo: uma crise política, com presidente e governadores indo para lados opostos, concentrando-se somente em uma das faces da mesma moeda.

Precisamos enfrentar as duas crises juntas!

Presidente e governadores precisam dialogar e trabalharem no mesmo tom!

Não é hora de politicagens ou ideologias baratas entre gestores e entre nós mesmos.

Precisamos parar de apontar o dedo pro sobrinho “esquerdopata” ou pro tio “bolsominion”. Esqueçamos esteriótipos, apelidos, pirraças. Todos nós queremos o mesmo. 

Queremos Viver!

Queremos preservar nosso maior patrimônio: a vida!

E não dá pra esperar! Tem que ser AGORA!

http://sociedademovimento.arq.br/2020/03/26/precisamos-enfrentar-juntos-a-crise/



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