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20/04/2020 às 10:48

Educação 4.0: revolução educacional em tempos de Covid-19

Sandro Melros - é advogado, escritor e professor Instagram: @sandromelros 

De tempos em tempos o mundo se depara com uma convulsão tão intensa em seu modo de viver, de agir e de pensar, pela qual historicamente e, às vezes, de modo inapropriado dá-se o no me de “Revolução”. O fato é que hoje se acredita nessa máxima, em razão de uma evolução profunda dos costumes, a partir do uso cada vez mais disseminado da tecnologia. Entre elas, o uso da internet sobressai-se como um divisor de épocas na evolução dos costumes da sociedade. 

Neste cenário de mudanças acontece a denominada Educação 4.0. O termo está ligado à revolução tecnológica que inclui linguagem computacional, inteligência artificial, Internet das coisas (IoT) e contempla o learning by doing. Esta última expressão, em inglês, significa basicamente “aprender por meio da experimentação, projetos, vivências e mão na massa”. Quarta Revolução Industrial, afirmam alguns precipitados e eloquentes desenvolvedores de teses evolucionistas. Mas, é preciso fazer um sério estudo em torno dos acontecimentos que possam abalizar uma denominação tão cientificada muito além de um comportamento em massa. Na verdade, carece-se de uma maior investigação sobre as bases em que se fundam a efervescência dos usos tecnológicos e as mudanças perpetradas por suas práticas junto às diversas comunidades no mundo. 

Não foi uma mudança gradual à base de muitos estudos e experimentações que trouxeram a mudança tão aguardada no cenário da educação. Ao contrário, o ambiente escolar provou de uma imponente procura de auxílio às aulas cotidianas, de modo jamais visto em todas as partes do mundo. Um vírus da doença denominada pela OMS de COVID 19 é o executorprotagonista de modificações que se anunciam profundas na educação mundial. Isso ocorre após medidas de isolamento social serem adotadas pela maioria dos países como uma forma eficiente de o vírus não se espalhar com uma velocidade difícil de controlar com eficiência e diminuir as taxas de óbito. 

As pessoas em casa começaram a ter - aos poucos e aos muitos – de retomar suas atividades ou mesmo encontrar alternativas a fim de não sucumbirem economicamente. Como já havia um número grande de ferramentas de comunicação disponíveis à população, aumentou-se a demanda por serviços como o de teleconferência. Nesse ínterim, surge o ambiente escolar que – apesar de ter ao longo das duas últimas décadas um crescimento grandioso – experimentou uma verdadeira explosão de atividades da então escola presencial, como um recurso auxiliar. Em breve transformouse em única ferramenta de educação, mesmo não alcançando uma expressiva parte da população em idade escolar, em razão da ineficiência tecnológica da internet e a pobreza escancarada a que estão expostas bilhões de pessoas no mundo. 

Nua e crua a verdade desabrochou: professores aportados nas ferramentas educativas do século passado não estavam preparados para utilizar tantos recursos novos, com infindáveis possibilidades comunicativas, em tão pouquíssimo tempo. Em pouco mais que um mês ferramentas como, por exemplo, o habitual e popular WhatsApp foram expostas como saída premente ao ordenamento das atividades escolares. Assim, outros nomes foram se acrescendo às novidades comunicativas. Antes a serviço quase que totalmente ao universo corporativo das empresas, agora plataformas virtuais como Zoom, Hangouts, Meet, Moodle, Google Clasroom estão nas reuniões – todas virtuais, claro – das escolas públicas e particulares liderando a nova ordem da educação, qual seja de videoaulas e de atividades apresentadas aos alunos numa nova lógica do ensino global. 

No Brasil, o “ranço” tecnológico dá-se por várias situações de oposição ao despontar da educação crítica e libertadora das amarras da ignorância a que restou atada desde que o país era uma mera colônia de Portugal. Nesse caos educacional, notam-se traços de privação de atenção à qualidade na educação e ações de controle político do coronelismo servil. O fato é que quanto mais controle se tem sobre o povo, maior será a possibilidade de prosperar no intento perverso de não se deixar a educação provocar as mudanças esperadas em um povo verdadeiramente informado, em que as possibilidades críticas são despertadas, como traço natural de uma população. Essas situações postas provocam uma barreira que para se transpor será mais complexa e de difícil condução. 

Mesmo assim, vê-se no país uma transformação que se faz realizar nas diversas escolas – de maior organização nas particulares – que fará da tecnologia uma protagonista realizável e promissora. Não se pode fazer um exercício de futurologia, mas não se pode negar que nada jamais será como antes na educação. Haverá mudanças e se desenham inúmeras possibilidades de investigação social tendo como objeto principal a educação no modelo remoto contemporâneo. 

A Educação 4.0 chegou para solidificar esse conhecimento proposto nas academias, em instâncias governamentais, com a sociedade organizada, enfim, por diversos setores da sociedade há décadas. Deixam de pertencer ao campo das defesas vibrantes e entusiastas de estudiosos a fim de compor o roteiro cotidiano das escolas em todo o país. Na verdade, isso vem acontecendo há muito tempo, com técnicas mais rudimentares, devido a ausência quase que total, em muitas escolas, de equipamentos aptos à utilização de um ensino diferenciado. Praticamente duas condições pavimentaram o caminho da Educação 4.0 até aqui: o improviso genial dos professores e a vontade de aprender da comunidade escolar. Apenas recentemente resolveu-se somar-se à prática o uso massivo da tecnologia. 

A Educação 4.0 se arvora como um alento e – a depender da reação de norte a sul do país – um modo de rever as negativas de possibilidade de crescimento de uma educação absorvida na qualidade, como requerem os textos legais brasileiros – com deferência da Constituição Federal de 1988 – que inauguram uma nova ordem, ao menos no papel – do ensino nacional. Por ser um país de dimensões geográficas imponentes, o Brasil tem uma diversidade de condições no tocante à composição de sua rede educacional. Algo muito complexo e de extremos que reduz as possibilidades de desenvolver uma agenda em que a execução e o financiamento consigam estar em pura sintonia. 

O Brasil confronta-se com os modos de integrar os três entes - União, estados, Distrito Federal e municípios – conjuntamente ações educacionais, propostas eficientes dos gestores e habilidade no uso hábil dos recursos. Para que isso aconteça, há que se perceber a existência de um regime colaborativo destoante do apontado na Constituição Federal. Há que se compor um Sistema Nacional de Educação (SNE), apto a absorver as peculiaridades dessa imensidão territorial, com suas diversas comunidades. Desta forma, com um entendimento sobre o papel de cada entidade e suas situações distintas, não há afronta a autonomia jurídica de cada ente federativo. A educação, assim, será uma confluência de intensões cooperativas, em que todos saem ganhando enquanto nação, posto que a ideia é de concepção qualitativa de um dos mais fundamentais direitos da população brasileira: a educação. 

Da alfabetização ao ensino superior, a educação brasileira precisa ajustar-se para um momento de concepção da percepção de que só há desenvolvimento social quando o conhecimento é partilhado com igualdade. O contrário disso é egoísmo, um flerte com a separação entre as pessoas e suas potencialidades reais. A Educação 4.0 presta-se ao exercício da equidade, de modo que todos possam ter acesso às ciências, superando-se as dificuldades de alguns e solidarizando o conhecimento já alcançado por outros. Somados estes dois aspectos, haverá mais gente trazendo informações, participando de cargos de decisões e preenchendo os empregos outrora vagos – como os ligados à tecnologia de alta ponta – a partir de um cenário em que a justiça social faça toda a diferença. 

A solidificação da Educação 4.0 ainda depende do compromisso exercido por milhares de trabalhadores da educação, principalmente, nas escolas públicas, posto que os empregados colaborem – inclusive financeiramente – com as práticas inovadoras. Mesmo num país em que professor é remunerado ao desejo – ou falta de reconhecimento – do político encastelado no poder, ainda sobram empatia e boa vontade aos montes a fim de assegurar dias melhores à aprendizagem dos alunos. 

 Não se desejam improvisos e medianismos quando o que está em jogo são vidas que precisam prosperar através do conhecimento. Apregoa-se o fim de investimentos fajutos que mal garantam a rotina estapafúrdia de salas de aulas quentes – ou com ar condicionado que não refrigeram. A sociedade pode clamar pelo fim do cinismo político que pululam números em esquemas malfadados de estatísticas, de modo a denotar uma mínima mudança de melhoria. Atentando-se ao real: só há mudança, se os compromissos com a educação não desprezar a geração de emprego e rendas aos pais de alunos que lotam filas da merenda escolar – leia-se: única possibilidade alimentar, muitas vezes. 

Aqui e ali se vê formação nas escolas cujo tema resplende-se em “EDUCAÇÃO 4.0”. Todavia, nada adianta se não se irá praticar o conhecimento aprendido em salas de aula invertidas, leituras num arejado jardim, salas confortáveis de leitura e com disponibilidade de acesso a computadores, laboratórios equipados e com matérias-primas na validade. De sonho esse país já vive há mais de 500 anos. Requer-se o despertar da educação através das mãos daqueles que realmente se importam com ela, de modo que haja oportunidades de crescimentos individuais e coletivos. Assim, pode-se dizer que a Revolução Educacional concretiza-se a bem do povo brasileiro. 

No isolamento social a que se fez necessário, em razão do coronavírus, há um cenário de boa vontade, mas faltam práticas de planejamento e preparação. Não se pode conviver apenas com amadorismos e um ambiente de “melhor isso que nada” que se instalou no país inteiro. Há muita vontade de aprender por parte dos professores, mesmo quando compelidos a realizar sem conhecimentos mais avançados. Não se trata apenas do direito à sobrevivência de uma classe de trabalhadores, perpassa-se ao dever de querer ensinar bem, com o uso eficiente das tecnologias que estão à disposição. Para que isso aconteça, pode-se elaborar um Comitê de Governança Educacional, oferecendo suporte, promovendo debates, ofertando cursos, de modo constante e profícuo a fim de instituir maior segurança nessa crise, em que todos reconhecem não haver culpados – até agora – mas que, caso demores mais, será um desastre à sociedade, principalmente, quanto à educação do Brasil. 

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