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05/08/2019 às 20:50

A Logorreia do presidente da República e os reflexos na democracia brasileira

   Fidel Dias de Melo Gomes (*)

Os mais experientes quando aconselham os seus rebentos costumam se valer de sabedorias populares ou de suas vivências. É muito comum a frase, que não posso atribuir a nenhum autor, que diz: “Filho, Deus nos deu dois ouvidos e uma boca para que possamos escutar mais do que falar”. Isso é genial. É um resumo perfeito da necessidade de escutar, aprender, ficar quieto e, com isso, evitar um sem número de problemas no decorrer da vida.

   Parece que no caso da família do nosso atual presidente da república esqueceram de lhe dar esse tão fundamental conselho. Diariamente a sociedade brasileira é acordada com entrevistas dadas pelo presidente da república onde o mesmo se manifesta sobre os mais variados temas. Economia, meio-ambiente, legislação pátria e outros. 

    Especialmente na última semana, parece que trocaram sua água mineral da manhã por água de janeiro. Declarações em contraste com o que apresentam os órgão oficiais sobre o desmatamento na Amazônia foram capazes de demitir um experiente diretor do INPE que, antes de ser demitido deixou claro que sua demissão era certa, uma vez que não se pode discordar do atual presidente. 

   Não contente, resolveu falar sobre a morte do pai do atual presidente da OAB. Mais uma vez contrariando os dados oficiais, afirmou que sabia como o pai do Senhor Felipe Santa Cruz teria morrido. Afirmou ainda que o representante máximo da advocacia brasileira não iria querer saber da verdade. A declaração foi motivada pelo fato de Felipe Santa Cruz ter cumprido seu papel institucional de garantir que o sigilo profissional dos advogados, que na verdade é uma segurança para o cidadão, fosse respeitado. Obviamente que as preferências políticas da vítima dos ataques foi fundamental para a postura do presidente da república.

   Em que pese suas declarações sejam, na grande maioria das vezes, sem embasamento algum, mostra muito do perfil do atual presidente. O mesmo escancaradamente resolveu governar para “os seus”. Pessoas que pensam diferente são afastadas indiscriminadamente dos cargos que lhe foram conferidos e, outras que eram uma real esperança que o governo poderia olhar para todos, leia-se, para os diferentes, os que não coadunam com as ideias do atual governo, como por exemplo o General Heleno, precisaram se curvar de maneira vergonhosa para garantir seu emprego. No caso do general, até marinheiro está fazendo o coitado. Tudo para agradar o chefe.

   Os reflexos na sociedade não param de aparecer, torcedor preso em estádio de futebol por se expressar contra o chefe de governo, mulher agredida em academia por falar mal de Bolsonaro, portaria com novas possibilidades de deportação para justificar a expulsão de jornalistas estrangeiros que fazem matéria contrárias às posturas do governo e até requerimento para órgãos do poder legislativo tentando evitar a exposição de programas de tv. Estamos em 64? 

   A democracia é a forma de governo que tem no seu íntimo e na sua razão de ser a necessidade de se respeitar os diferentes, mesmo que sejam a minoria. O indivíduo é importante e ele é um fim em si mesmo, independentemente de suas escolhas político partidárias, sua opção sexual ou religiosa. Cabe ao chefe de Estado em uma democracia lutar para que as diferenças e os direitos humanos sejam respeitados e acolhidos. Ele, a figura principal de tal regime, é quem deve respeitar os que pensam diferente de seu ponto de vista, de sua visão de mundo e garantir-lhe os direitos de ser assim. Um acalanto é perceber que, quanto mais se afasta de seus eleitores democratas, em que pese crie uma legião de fanáticos que não conseguem deixar de segui-lo, o presidente se enfraquece. 

   Para incontinência intestinal, doença que muitas pessoas podem vir a ter na vida, especialmente no estado senil, é comum o tratamento com modificação da dieta, remédios constipantes e até cirurgias. Para a incontinência verbal ou logomania e para se obter um pouco de empatia e tolerância, a leitura é uma excelente ferramenta que poderia ajudar nosso presidente da república, espera-se que ele adote esse tratamento antes de literalmente ferir mais pessoas.     



(*) Advogado criminalista, pós graduado em Direito Penal e Processual Penal, membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/AL e conselheiro da Acrimal


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