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04/10/2019 às 10:32

Panapaná: como as borboletas, as pessoas precisam ressignificar vidas

Sandro Melros - é advogado e professor

Instagram: @sandromelros 
@lugares_da_literatura

O nome panapaná determina um coletivo de borboletas que migram certas épocas, formando verdadeiras nuvens. A vida de uma borboleta pode ser dividida em quatro estágios: ovo, larva, pupa (ou crisálida) e adulto. Essa é a metáfora que desejamos no nosso cotidiano, qual seja de progredir ante o decorrer dos anos. Os indivíduos, muitas vezes, apenas estão na vida num conformismo inconsciente. Com os anos, não conseguem permitir mudanças e, assim, não alcançam as oportunidades de modificações sensíveis que tragam conforto as suas existências.

A metamorfose que se deseja experimentar passa pela própria sobrevivência humana. Não é uma invenção acadêmica, mas um imperativo da história da evolução da humanidade. A transformação a que o ser humano postula, não deve se desviar do propósito de se coabitar em harmonia. O indivíduo pode ter desenvolvimento não comprometendo a coexistência com outros. Nessa senda, a cooperação para se viver em sintonia com diferentes sujeitos torna-se imperativo.

Na categorização de transformação em que a sociedade anseia, há que se perceber que as possibilidades são infinitas. Por falar nisso, pode-se considerar que as relações entre as pessoas atam-se ao progresso de suas interpelações sobre o que é certo e aquilo que se considera censurável em uma inter-relação. A humanidade ainda não entendeu que não se consegue ser conveniente à sociedade quando poucos indivíduos vivem com o máximo conforto em detrimento de uma maioria de pessoas carentes de absolutamente todos os meios de preservação da vida, com acesso a alimentos, a remédios e, por dignidade, a afetos. Não há como compreender evolução da espécie humana se a muitos são negadas as condições mínimas de sobrevivência.

Que panapanemos a vida, então! Que mudemos com e no outro, de modo a perceber que o progresso do indivíduo deve estar atrelado ao sucesso de todos. Não há discurso vazio em se defender a igualdade de oportunidades. Não se trata de discurso socialista, comunista, franciscano ou cristão, como podem supor algumas mentes conservadoras de plantão. Aventa-se que evoluir na vida ocorre através da coletividade. Distante dela experimenta-se solidão, isolacionismo, egoísmo puro. Defende-se aqui o progresso percebendo que o outro precisa crescer também. 

O fato é que viemos do mesmo infinito para onde retornaremos. Se não sabemos com certeza absoluta de nossas origens, podemos ao menos experimentar uma vivência lúcida em que as pessoas se respeitem e se encarem como iguais nas suas subjetivas diferenças. Difícil entender que um indivíduo para se sentir confortável precise diminuir o outro à condição de servo. Triste perceber essa relação entre senhor e lacaio, numa sociedade que se hasteia crescida. No passado recente da história a escravidão era uma condição aceita pelo opressor e arcada pelo oprimido. Passa-se o tempo e as relações apenas mudam de nome, de características, de conceitos, mas a opressão continua intacta em sua saga por diminuir pessoas em detrimento do conforto egocêntrico, da riqueza desmedida, do luxo descartável e da opulência de poderosos.

Kafka dizia que o momento decisivo na evolução humana é algo perpétuo. Nisso, credita-se que se experimente a aprendizagem com atos extremos como a crueldade das guerras; a desumanidade da fome; a truculência da submissão de um indivíduo a outro; e, o seu oposto, qual seja a união de povos, independentemente de ideologias, crenças e costumes; a vastidão do compartilhamento entre os seres e, a compreensão dos movimentos mais sutis, tal qual a agitação das borboletas: panapaná.

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