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Maceió/Al, 25 de abril de 2024

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19/10/2019 às 10:22

Sobre partidas, mas também sobre chegadas

Sandro Melros - é advogado e professor

Intagram: @sandromelros
@lugares_da_literatura

Escrevo sobre o amor, mas amor sem sofrimento é algo que não existe. Perder queridos dói, mesmo sabendo que o amor perdura-se, eterniza-se. Mesmo entendendo que há laços que jamais serão rompidos, dói. É angústia com a qual não se acostuma nunca. É aflição que invade a alma e leva um pouco de nós. Desconstrói nossas ideias, desmonta nossos esforços, desfaz nosso entendimento de mundo.

Realizo apontamentos com o fito de poder continuar flertando com a vida, porque - às vezes - falta vontade de seguir em frente. Há dias que experimento um emurchecer de sentimentos, um apavoramento de intento, um secar de esperanças. Isso ocorre, principalmente, quando vejo afastarem-se pessoas que são tão próximas. Quando penso em partida, não são apenas as saídas das pessoas de nossa rotina porque se mudaram, ou não trabalham mais conosco ou mesmo porque saíram do nosso convívio em razão de um desentendimento, de um desconforto no entendimento, mas também estou a tratar de um afastamento metafórico da vida, em razão da morte, do fenecimento daquilo que se apresenta como matéria; do que está num plano físico. A ausência de alguém se faz como um rio que percorreu um espaço e não mais retornará.

Registro de modo a demonstrar tristeza nas partidas e, da mesma forma, para realizar a tarefa difícil de compreender que elas virão, cada vez mais, posto que, com o tempo, perde-se mais do que se ganha na vida. Passa-se, assim, a perceber que isso, apesar de natural, não traz conforto algum. Ao contrário, realiza um infindável nó na garganta; condiciona uma incompletude amargosa, que azeda o resto da existência.

Diante do inevitável, dialogo com o ato de prosseguir na vida e, quando a hora de partir chegar, levarei como bagagem o bem que realizei. Esperarei pelo abraço de no mínimo um alguém e pensarei que, por fim, posso fazer falta a alguém.

Discorro, ainda, porque a escrita permite-me criar e atuar em mundos diversos; espaços em que eu não conseguiria alcançar apenas vivendo. A saudável arte de escrever faz-se um alento numa existência de meias verdades ou verdades incompreensíveis.

Escrevo, por fim, para acalmar meu coração e permitir partidas, mas também para bendizer chegadas. Como sabiamente diz o poeta, o trem que chega é aquele mesmo trem da partida. Penso nisso afastando-me da emoção para dar oportunidades ao porvir, entendendo que seja o ciclo normal da vida e, assim, far-se-á a existência e a ausência dela, sem que possamos ter controle. Ficam saudades, amor, resignação, experimentação, deslindes. Ao fim de tudo, retorno ao princípio, posto que nada se esgote totalmente quando a minha existência grudou na pele de outros.

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