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28/06/2016 às 08:30

Pesquisa propaga conhecimento acerca do legado arquitetônico de Alagoas

Professora Adriana Capretz e bolsista Manuela Viana (Foto Ascom Fapeal) Professora Adriana Capretz e bolsista Manuela Viana (Foto Ascom Fapeal)

Ascom Fapeal

Com o advento de um olhar mais atento ao patrimônio da cidade, um projeto busca aliar estudos de educação patrimonial ao conhecimento da produção arquitetônica, utilizando a web para compartilhar mais sobre a História e a contemporaneidade de Maceió.

O grupo de pesquisa Representações do Lugar (Relu), ligado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), estuda linhas dentro da área arquitetônica de preservação, com o auxílio de duas professoras: Adriana Capretz, que coordena o projeto e orienta abordagens nos campos de memória e história da arquitetura, patrimônio cultural e design, e Josemary Omena, que produz trabalhos na área de restauro e participa de produções acerca do inventário do patrimônio imaterial de Alagoas.

O grupo integra vários estudos e o Portal de Arquitetura Alagoana é um deles. Idealizado em 2009, a proposta visava construir um levantamento do legado histórico na capital do Estado. No princípio, foram feitas as coletas de materiais, produção de fotografias e desenhos do acervo de períodos variados (fim século 19, início do século 20 e meio do século, o chamado período moderno). Reunido em um volume de material interessante a partir do tema inicial, percebeu-se que havia mais pautas a serem exploradas.

Nessa perspectiva, os estudiosos pensaram inicialmente em disponibilizar mais materiais compilados num portal. “No curso de arquitetura é frequente a produção de desenhos de nossos monumentos e às vezes este material fica perdido. São produtos de TCCs, aulas e tudo fica sem uso após as disciplinas”, alega Adriana Capretz. Com o site, o material estará sempre disponível e os alunos não repetirão as mesmas criações. Eles podem estudar pelos projetos existentes e realizar novos para serem publicados.

Para a execução dos procedimentos, as pesquisadoras contam com o auxílio fixo de duas bolsistas da graduação, Manuela Viana, do curso de arquitetura, e Juliana Cavalcanti, de Ciências da Computação, que é responsável pela configuração do site, além do auxílio e contribuição de estudantes atuantes no doutorado e mestrado da FAU.

Estruturação

Desde 2010 as pesquisas começaram a ser disponibilizadas online, porém, a partir de 2013, devido à boa repercussão do site, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal) passou a ampliar o escopo de apoio concedido ao projeto. A Fapeal já financiava bolsas do Programa de Iniciação Científica (Pibic), em conjunto com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Ufal.

No ensejo de otimizar o projeto, o CNPq prospectou recursos através do edital Universal, o que possibilitou a compra de aparato tecnológico. Já a Fundação, passou a incentivar o programa com aportes próprios, a serem utilizados em produção gráfica, na compra de ferramentas especializadas e de material de divulgação e publicações. Foram produzidos cerca de 10 mil folders, 150 livros de jogos da memória e cadernos para colorir, 150 jogos de capa, assim como adesivos, pastas e papeis timbrados.

A coordenadora ressalta ainda a importância do apoio obtido a partir da chamada de auxílio à pós-graduação, fornecido pela Fapeal: “Com estes investimentos foi possível garantir suporte para a contratação de serviços técnicos específicos. Devido à grande demanda, tivemos de contratar um programador para a plataforma, designer, fotógrafo, coisas que fogem às habilidades dos alunos, e estes subsídios foram garantidos através da Fapeal”.

Tais ações reverteram em crescimento produtivo e o quadro foi aprimorado, sendo possível atualmente acessar mais temas. São eles: igrejas, escolas, casas e todas as 55 Unidades Especiais de Preservação (UEP) em Maceió. “Nós já estamos trabalhando em novos materiais com pautas em museus, edifícios públicos e monumentos em memória. Até o fim do ano, serão publicados arquivos com novos objetos”, ressalta Capretz. Os conteúdos foram escolhidos desta forma porque trata-se de obras que estão próximas à realidade da sociedade.

Os recursos convergiram em esforços para a equipe, que explica que o propósito do site foi ampliado nesse processo evolutivo. Inicialmente, o desejo era agregar as pesquisas e formar um grande acervo virtual. No entanto, isso ainda era pouco para o alcance que o conjunto poderia adquirir. Os resultados acumulados representariam uma atividade para um público específico, um site limitado aos estudantes do curso.

O foco foi simplificado e o projeto passou a voltar-se para uma classe que não tinha acesso, que não estudava ou não conhecia o meio. Nesta etapa criativa, foram elaboradas ferramentas de interação com novos públicos.

O portal começou a promover uma educação patrimonial, incluindo materiais voltados ao público infantil e uma linguagem compreensível por leigos na temática. O design ganhou uma configuração mais simplificada, de fácil acesso e sistematizou suas informações em tópicos. Foram disponibilizados de forma gratuita para download, desenhos para colorir e jogos da memória, todos baseados em construções da história alagoana.

Porém, apesar das mudanças, não foi deixado de lado o campo mantido para os acadêmicos de arquitetura. O ambiente virtual continua ofertando a área de acesso, que contém os desenhos facilitados para as análises e referências.

Atualmente, estão disponíveis fotografias das edificações, colocando sempre um registro antigo e outro mais recente, revelando a História nesta correlação, bem como maquetes eletrônicas, que apresentam as obras em 3D, um grande atrativo do site, para conhecer os espaços de Maceió a partir de novos ângulos.

O projeto deverá ser divulgado nos planos das escolas de ensino público, mas há estratégias de expandi-lo também ao âmbito privado, pois o desconhecimento é generalizado em Alagoas. As professoras e a coordenação podem analisar o material com o intuito de baixar os desenhos e jogos e reproduzir o conhecimento através das biografias narradas em acompanhamento.

Motivação 

Bolsista do estudo, Manuela Viana explica que teve a oportunidade de realizar intercâmbio numa universidade nos Estados Unidos e lá participou de um projeto de preservação patrimonial.

A partir disso, surgiu o interesse em promover algo similar em Alagoas.  “Nós possuímos muitas vezes estruturas mais antigas, nobres e interessantes, de grande importância à produção histórica, mas que não recebem a atenção devida. Quando voltei, eu vi o projeto realizado pela professora Adriana e ali pude me inserir, utilizando o que eu aprendi e construindo também um conhecimento voltado não só à arquitetura, mas com o objetivo pedagógico de divulgar a história local”, explica a aluna.

Manuela é atualmente responsável por fotografar e manipular as imagens, formatando os produtos ao site.  A rede que se tornou dinâmica e atual, já configura um modelo exitoso e é divulgada em sites conhecidos como o da Secretaria de Estado da Cultura (Secult), no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e na Secretaria Municipal de Planejamento e Desenvolvimento (Sempla).

Desafios

Adriana Capretz explica que um dos maiores obstáculos enfrentados hoje é o hábito de se entender como patrimônio apenas obras de feições antigas, o que ocasiona a perda de propriedades únicas.

Para os moradores é frequente o não reconhecimento de projetos do estilo moderno, uma vez que eles não apresentam elementos característicos a um padrão mais clássico. Entretanto, este é o gênero estrutural que é comumente encontrado em Alagoas e é considerado como legado arquitetônico. Ele condiz ao intervalo entre guerras, anos 20 a 50 e, no Brasil, é estendido até as décadas de 60 e 70 por influência da estética de Brasília. Com isso, as edificações, por não serem facilmente identificadas e rotuladas como riquezas patrimoniais, acabam sofrendo degradação.

A “casa rosada”, que ficava no bairro de Pajuçara, é um ótimo exemplo desta herança, que foi perdida e demolida. O seu desaparecimento deu origem à criação das Unidades Especiais de Preservação (UEP), que serviu para que as autoridades atentassem a esta realidade, isolando 55 unidades na capital. Elas não fazem parte de um conjunto, como o centro de Maceió, que é uma Zona Especial de Preservação (ZEP), e por isso esta tarefa se torna mais complexa.

Na cidade encontram-se várias construções solitárias e o portal procura contribuir para que estas obras não fiquem obsoletas. Nele, estão presentes para visualização a localização das obras, tanto no Google Maps como no Google Street View, incentivando o turista e cidadão a conhecer o que Alagoas tem em produção histórica.

Planos Futuros

Como metas futuras o programa visa iniciar as visitações nas escolas em larga escala e implantar os materiais no processo de aprendizado em conjunto com professores.

Ampliar o site também é um viés trabalhado, utilizando-se novos temas e pautas a serem compiladas, no entanto a equipe destaca um conteúdo especial do patrimônio em memória. Formulado a partir de edificações que não existem mais, nele será mostrado, por exemplo, a casa rosada como referência entre outras obras demolidas ou algo como o Gogó da Ema, que representa o único monumento natural presente, assim como simboliza uma referência importante e histórica.

Concluindo estas atividades, o grupo analisa, em longo prazo, lançar a idealização de um guia arquitetônico de Maceió, em que seriam evidenciados os possíveis ambientes de que se dispõe para turistas ou cidadãos que desejem encontrar elementos específicos da cidade.

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