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02/07/2020 às 11:57

“No meu tempo” é agora: o mundo dos dados mudando pessoas

Sandro Melros é advogado, escritor e professor Instagram: @sandromelros 

O senso comum determina uma máxima: muitos temem o novo. Isso acontece em razão de compreensões do mundo através de conexões culturais, de costumes resistentes às inovações, entre outros elementos que caracterizam uma determinada comunidade ou mesmo de natureza subjetiva. Ocorre que os conhecimentos estão postos, cada vez mais se utilizando da tecnologia como elemento de transferência de informações. 

A internet tem sido o veículo que permite a transferência de informações e um alcance cada vez maior dessas no mundo. Pessoas de todas as idades têm em seus aparelhos eletrônicos (celulares em sua maioria absoluta) acesso às redes sociais através da internet. Um estudo recente da União Internacional de Telecomunicações – UIT - agência das Nações Unidas, apontou que mais da metade da população mundial está conectada à internet. São 3,9 bilhões de pessoas (o equivalente a 51% da população mundial) ligadas à rede. 

O mundo dos dados veio para ficar e modificar o comportamento da sociedade, encurtando caminhos, realizando empreendimentos mais fáceis, elaborando projetos no cotidiano. Fornecer informações em tempo real é a maior mudança do mundo. 

Os dados têm – num crescente comportamento - maior valor econômico no mundo. Por sua característica em ser infinito, as probabilidades de serem atribuídos valores econômicos tem se mostrado eficientes. Então, a área rentável tem se evidenciado eficiente em rendimentos. Sendo assim, vários empreendimentos legalizados estão sendo criados diariamente nesse espaço virtual. De igual modo, há aqueles que desejam se aproveitar das oportunidades, mesmo sem autorizações que a lei determine. 

Há que se compreender que nada – ou quase nada – será ofertado sem um encargo de qualquer natureza. Em se tratando dos produtos ofertados através da internet, há na maioria das vezes um ganho em razão dos dados. Nessa senda, os algoritmos (sequência de instruções dizendo ao computador o que realizar) encontram-se como elementos indispensáveis a fim de que se confirmem essas transferências de dados. Se algo é gratuito em relação ao uso de tecnologias, tenha certeza que o “produto” é o indivíduo. Pode ser negociado pelas empresas o fluxo de pessoas, por exemplo, oferecendo o acesso aos dados através de algoritmos, oferecendo a marca de uma determinada empresa em um jogo eletrônico ou mesmo vendendo dados de uma pessoa a empresas, como as de call center. 

O uso da Cibernética tem sido cada dia mais intenso, posto que seja realizada através de dados repassados entre máquina. São robôs acessando a rede e seus serviços e, assim, trocando dados entre si, através de um “Big Data”, que vem a ser a área do conhecimento que estuda como tratar, analisar e obter informações a partir de conjuntos de dados grandes demais para serem analisados por sistemas tradicionais. 

Há dados que, por serem públicos, são facilmente acessados e apropriados de modo livre por empresas. É o que ocorre, por exemplo, com bancos que almejam permitir créditos, através dos chamados “rastros digitais”. Estes rastros digitais configuram-se em mapeamento de conversas em redes sociais, curtidas, trocas de e-mail, busca de um determinado produto ou serviço na rede. Os dados são rastreados por empresas, a fim de se descobrir mais sobre uma pessoa. O Facebook corresponde a um caso clássico desses dados fáceis de serem identificados, posto que traz em sua composição essas situações cotidianas, em que se apropria de peso, altura, gostos pessoais, amigos virtuais mais frequentes, por exemplo. Deste modo, percebe-se o quão grande é a condição de se apropriar dos dados sobre uma pessoa. Imperativo se faz compreender como ocorre tudo isso. De igual forma, deve-se estar disposto a controlar o que se pode e deva ser divulgado, com a finalidade de aumentar a segurança em torno da própria vida. 

Personagens presentes no ambiente virtual, o hacker e o cracker figuram entre necessários e temerários às informações que são fornecidas em redes sociais, preenchendo cadastros, exercendo atividades de trabalho em geral na rede. Compreende-se por hackers como indivíduos que elaboram e modificam softwares e hardwares de computadores, seja desenvolvendo funcionalidades novas ou adaptando as antigas. Já cracker é o termo usado para designar quem pratica a quebra (ou cracking) de um sistema de segurança. Em outras palavras, hacker pode ser essencial ao desenvolvimento de um sistema, posto que localize as lacunas, as falhas desse sistema; enquanto o cracker evidencia a ilegalidade no uso de dados sem autorização, com práticas, inclusive, de natureza criminosa.

Algumas empresas contratam hackers a fim de que descubram a vulnerabilidade de seus sistemas e, deste modo, faça-se a proteção contra os crackers. Alguns países têm punições severas em relação às práticas de crimes virtuais e, quando da condenação, muitas vezes, transformam crackers em hackers como parte da pena a ser cumprida. O fato é que, tal quais as atividades físicas, as virtuais requerem cuidados com o uso do que é legitimamente pessoal ou coletivo combinado com legislações atentas e conhecimentos atualizados sobre as tecnologias que não param de se reinventarem, fruto da Indústria 4.0 (também chamada de 4ª. Revolução Industrial ou 4ª. Revolução Digital) que se faz presente. 

Então, a frase muito ouvida “no meu tempo” que, geralmente, categoriza-se uma desculpa de que houve uma transformação que não fora acompanhada, tem servido de mote para evidenciar uma fuga ao que está posto na atualidade. Ou seja, hoje, sendo outro espaço temporal, com outras práticas, o indivíduo pode seguir com sua vida – comodamente - sem precisar ter conhecimentos sobre as tecnologias vigentes. Trata-se de um erro que pode colocar sua vida financeira e sua segurança física no controle dos que conseguem ter domínio das informações. A inabilidade com a tecnologia criará um caos na segurança de dados. As informações que se partilha no dia a dia não podem ficar no encargo exclusivo do Estado. A sociedade urge se apropriar desses conhecimentos de modo colaborativo, preventivo e ágil, com o intuito de salvaguardar-se de criminosos, inclusive. 

Os algoritmos estão à disposição das pessoas no dia a dia, por exemplo, pedir o Huber, pedir comida, encontrar pessoas no WhatsApp, fazer uma receita, solicitar um medicamento, seguir instruções sobre o funcionamento de algo. Recentemente, toda população do mundo tem se apropriado dos algoritmos no tocante à educação, com gigantesca intensidade, em razão do isolamento social provocado pela Covid-19. Essa capacidade computacional tem sido absorvida por todos, sem que se deem conta das possibilidades positivas de seu uso e das implicações que configuram dificuldades na rotina de uma pessoa. Ao se distanciar desse conhecimento, o indivíduo está sendo afastado da segurança pessoal, principalmente, legando a outros a interpretação e a condução dos fatos advindo do cenário virtual. 

O papel dos dados na sociedade deve ser compreendido não só como um relevante desenvolvimento econômico – na pauta capitalista - mas também como o começo de uma nova fase na história humanidade. Há quem entenda se tratar do surgimento de um “colonialismo” de dados, baseado na apropriação da vida humana, que abrirá caminho para um novo capitalismo. De toda forma, mesmo considerando as críticas, faz-se necessário estar atento à nova ordem social apta a consolidar modos de desenvolvimento da sociedade contemporânea. 

Assevera-se, destarte, que este novo meio cria novas dependências de plataformas por meio das quais os dados são extraídos. Não há como negar, nesse ínterim, novas formas de discriminação social, baseadas na reinvenção do conhecimento social. A manipulação da sociedade é a análise mais intuitiva partilhada a partir desse novo cenário. Quanto à exploração, pode ser mitigada através do conhecimento engendrado no seio da sociedade, com intensidade, equidade e eficiência. Algo que, seguramente, não se compõe isoladamente. Todavia, uma junção de esforços pode confirmar uma reação à tirania. Conhecimento é tudo.

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