Um aplicativo desenvolvido no Campus Arapiraca da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) promete gerenciar informações das consultas de mulheres que fazem uso do dispositivo intrauterino (DIU) de cobre, auxiliando o trabalho dos profissionais de enfermagem que acompanham a saúde da mulher nas unidades básicas de atendimento. A equipe responsável pela solução tecnológica já registrou o programa no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) e aguarda o reconhecimento da patente.
O DIU, conforme o Ministério da Saúde, é um método contraceptivo que apresenta alta efetividade e pode ser inserido a qualquer momento da vida reprodutiva, desde que não apresente nenhuma contraindicação. De acordo com as idealizadoras, a cada consulta realizada, os profissionais poderão coletar e registrar informações no programa, possibilitando um ágil acompanhamento para as pacientes que inseriram DIU.
“Com base nos dados coletados, será possível medir se o nível de cólica ou sangramento menstrual aumentou após a inserção; calcular, em forma de gráficos, se a paciente apresentou alguma alteração ginecológica que esteja relacionada à inserção de DIU e revisar se este método contraceptivo permanece bem instalado no corpo feminino. Esta ferramenta também é capaz de predizer se a usuária precisa de uma consulta de algum procedimento de revisão de urgência”, detalhou a professora do Campus Arapiraca, Karol Fireman de Farias, coordenadora do projeto de pesquisa que resultou na criação da tecnologia.
O uso do aplicativo é destinado a profissionais de enfermagem capacitados a inserirem e a retirarem o DIU, a fim de fortalecer o atendimento no planejamento reprodutivo. A ideia de criá-lo surgiu durante as atividades de pesquisa desenvolvidas no Programa de Pós-graduação em Enfermagem (PPGENF) da Ufal, pela mestranda Cristiane Ferreira, sob orientação da professora Karol, a partir de entrevistas com enfermeiras e enfermeiros que alegavam a ausência de informações que permitissem acompanhar a paciente após o procedimento de inserção do dispositivo.
“Inovações costumam nascer em laboratórios. A nossa nasceu no ambulatório, ouvindo profissionais da enfermagem e planejando ações para oferecer resolutividade para as necessidades apresentadas”, resumiu Karol de Farias. As responsáveis pelo projeto buscam uma parceria com o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) para implementação de um piloto em unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) e, dessa forma, ampliar o alcance da solução em nível nacional.
Funcionalidades para otimizar o acompanhamento
Conforme os desenvolvedores, por meio programa criado no Campus Arapiraca, a equipe de enfermagem terá acesso a um checklist guiado logo após a inserção do DIU e que ajusta, automaticamente, a agenda de retornos com base no perfil clínico e nos sintomas relatados pela paciente.
Todas as informações armazenadas são coletadas no momento da consulta. Ao adicionar novos dados, são realizadas análises e emitidos relatórios comparativos com base em consultas anteriores. Atualmente, o aplicativo é somente para o profissional da saúde, mas existe a possibilidade de uma versão para a paciente, a fim de que a mulher também possa registar possíveis sintomas ou ocorrências.
Alertas inteligentes enviados à equipe de saúde diante de sinais como pressão arterial elevada, histerometria (medida do comprimento da cavidade uterina) fora do padrão, tamanho do fio do DIU acima do esperado e painel com dados sobre o acompanhamento feito na unidade de saúde estão entre as funcionalidades oferecidas pelo produto tecnológico.
Fórum colaborativo que permite a troca de experiências entre os profissionais, manuais e documentos oficiais também estão disponíveis para consultas, além da formação de um banco de dados cifrado, com garantia de anonimato, cuja base poderá ser utilizada, de modo ético, para pesquisas científicas e práticas clínicas baseadas em evidência. A equipe ainda trabalha para oferecer os suportes de teleorientação, integração com prontuários eletrônicos e ações voltadas à formação continuada de profissionais da saúde, bem como o compartilhamento de dados entre secretarias de Saúde do Brasil no sentido de planejar políticas públicas.
“Esse aplicativo se coloca na vanguarda do cuidado reprodutivo. Desde 1996, o Brasil possui uma lei que garante o direito ao planejamento familiar. No entanto, na prática, as mulheres ainda enfrentam filas, falta de acompanhamento e pouca integração de dados. Nesse cenário, um aplicativo móvel capaz de acompanhar, continuamente, as mulheres que recebem um DIU de cobre não é apenas conveniência tecnológica, é a ponte entre o direito previsto em lei e o cuidado efetivo na ponta do serviço público”, afirmou José Roberto da Silva, estudante de Ciência da Computação, que participou da criação do programa.
Da pesquisa à inovação
Numa ação que envolveu docentes, discentes e técnicos do Campus Arapiraca, a criação do aplicativo seguiu o percurso da pesquisa à inovação. O produto foi desenvolvido durante as atividades do projeto ‘Desenvolvimento de protótipo e aplicativo inovador para acompanhamento das mulheres submetidas à inserção do DIU TCu 380ª’, coordenado pela docente Karol Fireman de Farias.
A pesquisa foi desenvolvida no âmbito do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (Pibiti), com início em 2022, e teve três trabalhos contemplados com o Prêmio de Excelência Acadêmica 2023/2024 concedido pela Ufal. Já o aplicativo registrado no Inpi e no aguardo da patente é o ‘GestãoDIU: gerenciador de consulta de enfermagem ginecológica”.
Ao se deparar com uma demanda real, a equipe trabalhou, de setembro de 2023 a agosto de 2024, para desenvolver o produto tecnológico que auxiliasse na gestão de informações e otimizasse o trabalho de atendimento de enfermeiras e enfermeiros. E coube a uma equipe de discentes muito dedicada colocar a ideia em desenvolvimento: José Roberto da Silva, Aloisio Batista Júnior, Caio Henrique Santos, José Lucas dos Santos e Saul Côntelo Batista, do curso de Ciência da Computação, foram os responsáveis pela criação do aplicativo. Para isso, houve a contribuição das estudantes Adryelle Aparecida dos Santos, do curso de Enfermagem, e Maria Clara Sales Veríssimo, do curso de Medicina. Cristiane Ferreira, na época mestranda em enfermagem pelo PPGENF, foi quem realizou a supervisão das atividades.
“Eu me sinto imensamente orgulhoso e motivado. Ter um produto registrado no Inpi, ainda durante a graduação, representa muito mais do que um reconhecimento técnico. É a prova de que ideias desenvolvidas dentro da universidade podem gerar impacto social, especialmente, na área da saúde pública”, destacou José Roberto da Silva.
E acrescentou: “Isso valida cada hora de pesquisa, cada linha de código, cada revisão bibliográfica. É um impulso na carreira provando que somos capazes de transformar conhecimento acadêmico em tecnologia útil e inovadora, que pode melhorar a vida das pessoas. Além disso, é um incentivo enorme para continuar pesquisando, empreendendo e colaborando, sempre com o objetivo de contribuir para uma sociedade mais justa e bem cuidada. Pesquisa, extensão e inovação podem, e devem, andar de mãos dadas”.
Cristiane Ferreira, atualmente, é doutoranda no Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Ufal. Ela conseguiu um avanço significativo em sua carreira profissional após a conclusão do projeto, uma vez que todas as ações realizadas durante a sua pesquisa contribuíram para a sua aprovação no doutorado.
“Minha trajetória na pesquisa tecnológica tem sido fundamental para impulsionar minha carreira acadêmica e profissional. Os produtos desenvolvidos não apenas aprimoraram meu currículo, mas também demonstraram minha capacidade de transformar conhecimento em soluções práticas. Essas conquistas foram essenciais para minha entrada no doutorado, onde posso aprofundar meus estudos e contribuir ainda mais para o avanço da ciência e da tecnologia. Sou grata a professora Karol Fireman e a todos os alunos que se dedicaram incansavelmente a este projeto”, destacou Cristiane.
Inserção do DIU por profissionais da Enfermagem
Conforme o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), em nota publicada no site da entidade no dia 3 de abril de 2025, a inserção ou retirada de DIU por enfermeiras e enfermeiros, devidamente capacitados, é autorizada pela Lei 7.498/86 e pelo Decreto 94.406/1987, normatizada pela Resolução Cofen 690/2022 e pela Nota Técnica 31/2023 do Ministério da Saúde, bem como reafirmada pelo Poder Judiciário em processos judiciais.
Ainda de acordo com o Cofen, a atuação desses profissionais na realização desse procedimento resultou em um aumento de 44% no número de inserções de DIU realizadas na rede do Sistema Único de Saúde (SUS) entre 2022 e 2023, expandindo os benefícios deste meio contraceptivo, sobretudo, entre as mulheres que mais precisam.
Ascom Ufal
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