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Maceió/Al, 18 de abril de 2024

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04/10/2021 às 14:59

Crônica: Minhoca’s

Rodrigo Alves de Carvalho (*)

Silvano tinha duas paixões na vida: pescar e cozinhar. 

Todo sábado de manhã juntava as tralhas e ia pescar no rio. Já nos domingos, preparava um almoço especial para a família e os amigos. 

Foi numa de suas pescarias que Silvano experimentou pela primeira vez a iguaria que mudaria sua vida para sempre. Após várias tentativas frustradas com vários tipos de isca naquele dia ruim de pescaria, Silvano decide recorrer às simples, mas eficientes minhocas. Porém, a bichinha se retorcia freneticamente em sua mão e como a outra mão segurava o anzol, sem perceber ele corta a minhoca ao meio com os dentes, quando deu por si estava com a metade do animal dentro de sua boca. 

Ao invés de cuspir, Silvano começou a mastigar, sentiu toda a textura e maciez daquela minhoca que desceu suavemente pela sua garganta. 

Aquela pescaria acabou logo, porque Silvano comeu todas as minhocas que usaria como isca. 

No domingo preparou uma saborosa macarronada para a família. Não preciso nem dizer que aquela macarronada não era macarronada e sim uma minhocada. Já que todos que comeram adoraram e até pediram mais, Silvano percebeu que uma grande oportunidade surgia e ele inaugurou seu restaurante, o “Minhoca’s”. 

Em pouco tempo o restaurante era sucesso na cidade, filas se formavam, todos queriam apreciar aquela minhocada ao molho branco com legumes. 

Com tanta demanda, abriu uma filial que também sempre estava lotada. 

A grande sacada foi a inauguração do Fast Food. Em menos de um ano o Minhoca’s estava espalhado em várias cidades do Brasil. 

Silvano criou outros produtos derivados da minhoca, como o hambúrguer de minhoca e a esfirra aberta de minhoca. O mais interessante é que outras redes de Fast Food tentaram incluir a minhoca em seus cardápios, mas os clientes não aprovaram, sentiam nojo e diziam quase vomitando: 

— Essas minhocas são tão horríveis que nem peixe come. Que coisa nojenta! 

Mas, no Minhoca’s era diferente, talvez pelo tempero, talvez pelo modo de preparo, o certo é que todos adoravam as minhocas do Minhoca’s. 

Quando a rede se espalhou para o mundo, com franquias em várias cidades dos Estados Unidos, Europa e também na China, Silvano era um dos homens mais ricos do mundo. Seu negócio empregava milhares de pessoas tanto nos restaurantes e lanchonetes como os produtores de minhocas e também catadores autônomos que vendiam as minhocas arrancadas em terrenos baldios para atravessadores. No mercado financeiro a minhoca passou a ter cotação próxima à soja.  

Silvano era conhecido como o Rei das Minhocas e administrava seu monopólio juntamente com os filhos. Viajava, reunia com mega-empresários, presidentes de nações e chegou a conhecer o Papa. Tudo estava indo bem para Silvano, até que as vendas em seus restaurantes começaram a cair. A crise se instalou no ramo das minhocas. Silvano perdeu mais da metade de sua fortuna. De uma hora para outra as pessoas não comiam tantas minhocas como antes. Silvano percebeu então que não podia ser soberano no reino dos Fast Foods. A concorrência é implacável e dessa forma teve que fechar várias filiais. 

Tudo porque uma nova rede estava atraindo consumidores do mundo todo: o “Besouro’s”. 

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