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Maceió/Al, 28 de março de 2024

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10/01/2022 às 15:48

Crônica: Cadeira giratória

Rodrigo Alves de Carvalho (*)

Luís sempre sonhou com uma cadeira giratória. Imaginava um escritório só dele, com vários livros nas estantes, quadros bonitos nas paredes, uma mesa grande de madeira nobre, e o mais importante e essencial, uma suntuosa e confortável cadeira giratória. 

Sabia que ao sentar em sua cadeira giratória, todos iriam se apequenar diante sua importância, já que ele seria o detentor da cadeira, e é claro, o chefe.  

Sem dúvidas, Luís acreditava que uma portentosa cadeira giratória era um símbolo de status. Quantos megaempresários, milionários, chefes de Estado e pessoas importantes deveriam se sentar em cadeiras giratórias? 

Porque Luís tinha certeza absoluta que uma cadeira normal, imóvel, sem graça e ignóbil não teria o peso e a credibilidade que só uma cadeira giratória proporciona a seu usuário. Com certeza, o bumbum que repousa em uma confortável cadeira giratória será de uma pessoa bem-sucedida. 

Contudo, Luís demorou muito para sentar-se em sua cadeira giratória. Os rumos que o destino escreveu para o pobre rapaz foram bem diferentes do que ele objetivava para sua existência. 

Estudou até a oitava série, mas deixou os estudos para se dedicar ao esporte, queria ser jogador de futebol e depois de encerrar a carreira seria empresário de jogador, sentado em sua cadeira giratória. 

Mas, a carreira não foi longe graças a seu joelho estragado, e quando percebeu que não tinha outras escolhas a não ser pegar no pesado, sua ideia de ganhar a vida em uma cadeira giratória teve que ser adiada. 

Trabalhou na construção civil, trabalhou como estivador, trabalhou como motorista de caminhão, mas não trabalhou em uma cadeira giratória. O mundo girou, a cadeira não, e Luís envelheceu... 

Quando se aposentou, não havia esquecido seu sonho de possuir uma cadeira giratória e sendo assim, comprou-a. 

Agora sim, Luís ficou satisfeito, colocou a bonita cadeira na sala de sua casa, onde recebia as visitas, almoçava e assistia TV, sempre se balançando, reclinando o corpo e se espreguiçando em sua cadeira giratória. 

Infelizmente o destino também não havia escrito uma história longa para Luís e logo ele faleceu. Mas, no leito de morte exigiu que fosse enterrado sentado em sua cadeira giratória, em um caixão especial que ficasse em pé, ao invés de deitado. E assim foi feito. 

Hoje acreditamos piamente que Luís esteja em paz e feliz, da vida que levou neste mundo, dando voltas e mais voltas em sua cadeira giratória... lá no céu.  


(*) Nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta possui diversos prêmios literários em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2018 lançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela editora Clube de Autores.


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