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Por Rodrigo Alves de Carvalho (*)

Um velho político do mais alto escalão, um dia decide sair de seu carro para comprar uma garrafa de água e algo para comer, enquanto passava por uma praça da cidade. 

Por acaso, ao passar por um banco de cimento, logo na entrada da praça, encontra sentado numa ponta, um senhor de meia idade, esquelético, barba por fazer, cabelo espetado, com o rosto encardido e enrugado. O político, pede para o assessor ir comprar a água numa lanchonete do outro lado da praça, enquanto ele se senta na outra ponta do banco. 

— Boa tarde, caro cidadão! Aproveitando essa linda tarde para um descanso, após o almoço? 

O senhor com os olhos semiaberto, talvez já com o avanço da catarata, diz com a voz embargada: 

— Não senhor doutor. Sentei aqui porque tive tontura, acho que é porque ainda não almocei. Na verdade, faz muito tempo que não sei o que é almoço ou janta. Só sei o que é a fome. 

— Ora caro cidadão. Como assim sem almoço ou janta? Não vai me dizer que também está aderindo a esses regimes da moda? O senhor já está bem magrinho para cortar os carboidratos! 

— Não senhor doutor. Eu não tenho o que comer. Estou passando fome! 

— Falácia, nobre amigo. Nesse país, onde politicamente desenvolvemos mega projetos desenvolvimentistas, em prol de nossos interesses... 

— Não sei o que é isso não, senhor político. Só sei que estou desempregado e faminto, assim como minha família e muitas famílias carentes... 

— Isso é impossível, caro amigo. Nossa política amplia o leque de oportunidades para o engrandecimento das iniciativas privadas se estruturarem. Garantindo apoio à nossas bancadas... 

— Também não temos privadas onde moramos não. Na verdade, nem precisa, porque não temos o que colocar na barriga. 

— Mas vou fazer melhor, caro cidadão votante. Vou apresentar uma proposta para criarmos mecanismos que ajudem nossos correligionários conseguirem créditos para negócios com outros setores e consequentemente teremos mais apoio... 

— Mas, senhor doutor, eu preciso de comida. Eu preciso alimentar meus filhos. 

— Exatamente! O alimento é o desenvolvimento! Projetos para o empresariado. Projetos para apoiadores! Bancos, estatais, temos que investir nosso dinheiro na perpetuação do poder! Fazer política para o engrandecimento de nossa política! 

— Mas, o senhor não vai fazer nada pra acabar com a fome? 

— Claro que vou. Para acabar com a fome, eu vou comer! 

Seu assessor chega com a garrafinha de água e um enorme pastel de carne, que o político sai comendo em direção a seu carro. 

Deixando o faminto mais faminto. Porém, com a promessa do desenvolvimento progressivo, das bases políticas em futuros investimentos e lobbies em várias esferas de bases partidárias e blá-blá-blá... 

(*) Nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta possui diversos prêmios literários em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2018 lançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela editora Clube de Autores.