Arnóbio Cavalcanti

A política fiscal expansionista de Lula ou a contracionista de Bolsonaro: Qual é a mais Eficaz?

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Afinal, o que é política fiscal?

A política fiscal, também conhecida como política orçamentária, constitui um dos principais instrumentos da política econômica. Ele envolve notadamente o uso do orçamento do Estado, incluindo os recursos (impostos) e as despesas, tendo como objeto a garantia da sustentabilidade econômica do país.

A efetividade da política fiscal na economia se deu em dois momentos.

Antes da década de 1930, quando a principal função do orçamento do Estado era garantir apenas o financiamento das administrações (serviços públicos), a política fiscal exercia um papel passivo.

Com a crise de 1929, no entanto, o Estado passou a ser considerado uma alavanca da política econômica. A teoria keynesiana mostrou que o orçamento estatal pode ser usado para estimular a demanda agregada e influenciar a atividade econômica. A partir de então a política fiscal passou a ser considerado um instrumento ativo para o desenvolvimento da atividade econômica.

Ela pode ser expansionista, quando o Estado faz uso do aumento da despesa pública, ou, ao contrário, restritiva.

Em períodos de desaceleração do crescimento ou crise, ela é utilizada para apoiar a atividade econômica. Isso é chamado de política de estímulo fiscal. Por outro lado, em períodos de forte crescimento, durante os quais o superaquecimento da atividade econômica pode causar inflação ou déficits externos significativos (desequilíbrio comercial com o resto do mundo), ela permite que a atividade seja contida pela redução da demanda dos agentes econômicos. Isso é chamado de política de austeridade fiscal.

Política Fiscal no governo Bolsonaro

Durante o governo Bolsonaro, foi imprimido uma política fiscal contracionista caracterizada pela alocação de mais de metade das receitas tributárias para o pagamento de juros, encargos e amortização da dívida pública, demonstrando uma prioridade absoluta aos compromissos financeiros com o “mercado”. Paralelamente, foram implementados cortes nas despesas públicas, nos investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e realizados reajustes mínimos nos benefícios sociais e salários dos trabalhadores. Não houve aumento real do salário mínimo, tampouco atualização da tabela do imposto de renda.

Com isso, o índice de endividamento do país permaneceu abaixo de 70% do PIB, e a economia sob Bolsonaro registrou um crescimento médio anual de 1,5%.

É importante ressaltar que o governo Bolsonaro postergou para anos futuros o pagamento de aproximadamente R$ 140 bilhões em precatórios, além de assumir uma obrigação de R$ 40 bilhões com os estados subnacionais em decorrência da diminuição da alíquota do ICMS sobre os combustíveis. O governo Bolsonaro adotou uma abordagem de Estado Mínimo, reduzindo a intervenção do Estado na economia.

Política Fiscal no governo Lula III

O governo Lula herdou uma dívida acumulada de R$ 200 bilhões com precatórios e compromissos assumidos com os estados, segundo dados divulgados pelo Tesouro Nacional, em dezembro de 2022.

Ao longo de três anos de seu 3º mandato, o presidente Lula vem adotando uma política fiscal expansionista e já deve contabilizar mais de R$ 300 bilhões em gastos extraordinários, ou seja, despesas que ficaram de fora das regras ficais. Grande parte desse valor foi devido a compromissos herdados do governo anterior.

O governo implementou uma política de ajuste real do salário mínimo e organizou uma série de concursos públicos. Ademais, está prestes a aprovar a isenção do Imposto de Renda para aqueles que recebem até dois salários mínimos — R$ 3.036 mensais, levando em conta o valor atual. O panorama geral do emprego no país indica que a taxa de desemprego caiu para 6,1%, o menor nível já registrado.

Segundo a Instituição Fiscal Independente (IFI), órgão do Senado, a dívida pública deve alcançar 86,3% em dezembro de 2026, considerando esse cenário e uma taxa de crescimento econômico de 2,8% ao ano.

Reflexão

Pelo exposto, qual é a melhor política fiscal para o Brasil? A política expansionista de Lula ou a contracionista de Bolsonaro?

Arnóbio Cavalcanti

Arnóbio Cavalcanti

Sobre

Doutor em Economia pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, HHESS, França. Professor da Universidade Federal de Alagoas com linhas de pesquisa em Finanças Públicas, Economia do Setor Público, Macroeconometria e Desenvolvimento Regional.

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