Arnóbio Cavalcanti

A Nova Escola Clássica e sua aplicação na Economia Brasileira: economia para não economistas

Introdução

A Nova Escola Clássica representa uma das vertentes mais influentes do pensamento econômico contemporâneo. Desenvolvida na década de 1970, especialmente na Universidade de Chicago, essa corrente teórica buscou resgatar e atualizar os princípios do liberalismo clássico, formulando uma crítica contundente às políticas intervencionistas de inspiração keynesiana. Entre seus principais expoentes destacam-se Robert Lucas , Thomas Sargent , Edward Prescott e Finn Kydland , todos reconhecidamente reconhecidos por suas contribuições à macroeconomia moderna e laureados com o prêmio Nobel da economia.

Desenvolvimento

A base conceitual da Nova Escola Clássica é a noção de expectativas racionais : os agentes econômicos — consumidores, empresas e investidores — são capazes de usar todas as informações disponíveis para tomar decisões de forma lógica e previsível. Assim, acredito que os mercados tendem naturalmente ao equilíbrio, e que as administrações governamentais, em geral, geram distorções.

Segundo essa visão, a política monetária é neutra no longo prazo, ou seja, alterações na oferta de moeda não afetam variações reais, como o produto ou o emprego. Para Robert Lucas , o uso da emissão de moeda como instrumento de estímulo econômico apenas provoca inflação, pois os agentes antecipam os efeitos dessa política e ajustam seu comportamento de maneira racional.

Outro ponto central é a defesa da autonomia do Banco Central , com o objetivo de reduzir as políticas de pressão sobre a condução da política monetária e garantir maior variação junto aos mercados. Além disso, os novos clássicos sustentam que o papel do Estado deve se limitar à oferta de bens públicos essenciais, como educação, infraestrutura e saúde, mantendo sempre o equilíbrio orçamentário.

A chamada “Crítica de Lucas” (1976) consolidou metodologicamente essa corrente. Lucas argumentou que os modelos keynesianos, baseados em correlações empíricas do passado, não são capazes de prever o impacto de novas políticas econômicas, pois ignoram a capacidade de adaptação dos agentes diante das mudanças no ambiente econômico.

No Brasil, a influência da Nova Escola Clássica pode ser observada em economistas de orientação liberal, como Paulo Guedes , Marcos Cintra e Gabriel Kanner , que defendem maior abertura de mercado, simplificação tributária e menor intervenção estatal como caminhos para o crescimento econômico sustentável.

Conclusão

A Nova Escola Clássica propõe uma visão de economia autorregulada, baseada na racionalidade dos agentes e na eficiência dos mercados. Contudo, a aplicação de seus princípios em economias emergentes, como a brasileira, ainda é motivo de debate. Num país marcado por desigualdades estruturais e ineficiências institucionais, a completa ausência de intervenção estatal pode gerar desequilíbrios sociais e econômicos importantes.

Assim, permanece a questão: os fundamentos da Nova Escola Clássica seriam, de fato, uma solução viável para a economia brasileira, ou tratam-se de ideais teóricos que nem sempre encontram respaldo na realidade prática?

Arnóbio Cavalcanti

Arnóbio Cavalcanti

Sobre

Doutor em Economia pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, HHESS, França. Professor da Universidade Federal de Alagoas com linhas de pesquisa em Finanças Públicas, Economia do Setor Público, Macroeconometria e Desenvolvimento Regional.

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