A Economia da Penúria: Uma lição para a economia atual
Por muito tempo, o colapso das economias socialistas do Leste Europeu pareceu um tema incômodo para boa parte dos economistas ocidentais. Em vez de tentar entender as causas profundas do declínio, a academia prefere voltar seus esforços para integrar aquelas economias ao capitalismo emergente. Poucos se aventuraram a compreender o que, de fato, levou o sistema socialista a ruir — e entre essas raras vozes, duas se destacam: o francês Emmanuel Todd e o húngaro János Kornai .
Em 1976, com apenas 25 anos, Todd publicou A Queda Final: a suspensão do sistema soviético . Com base em dados demográficos, como os bônus populacionais e as taxas de mortalidade, ele previu o colapso da União Soviética — e acertou em cheio. Tornou-se, assim, o jovem historiador que ousou anunciar o fim de um império.
Poucos anos depois, em 1980, János Kornai
lançava Economia da Penúria ( A Economia da Penúria ), uma obra que se tornaria clássica. Kornai fez uma crítica devastadora ao modelo econômico soviético, mostrando que seu colapso não foi um acidente, mas uma consequência resultante da própria lógica do sistema.
Segundo ele, o socialismo soviético alcançou, sim, resultados expressivos em sua fase inicial — mas foi condenado, desde a origem, a gerar escassez e ineficiência.
Professor respeitado nas universidades da Europa e dos Estados Unidos, Kornai foi o economista mais influente do mundo socialista e pós-socialista nas últimas cinco décadas. Sua teoria do desequilíbrio em economias planejadas e os conceitos de restrição de demanda e deficiência ainda-se pilares para compreender as limitações estruturais do planejamento centralizado.
A lógica da penúria
Kornai parte de uma ideia simples e poderosa: nas economias capitalistas, o limite da produção é a demanda . As empresas resultam enquanto há consumidores gastando em comprar. Se o lucro cai, ajustam-se os custos ou encerram as atividades.
No socialismo, ocorre o inverso. O limite não é uma demanda, mas sim os recursos disponíveis . Como as empresas pertencem ao Estado e não podem falir, o objetivo deixa de ser o lucro e passar a ser o cumprimento do plano estabelecido pelo governo.
O resultado é previsível: produção ineficiente, desperdício e falta de estímulos para inovar. Enquanto o capitalismo sofre com crises de superprodução, o socialismo sofre com crises de escassez .
O comportamento do comprador
Kornai também observou como a escassez altera o comportamento das pessoas.
Em uma economia de mercado , quando um produto fica escasso, o preço sobe, a demanda diminui e novos produtos entram no mercado para aproveitar a oportunidade.
Em uma economia socialista , porém, os preços são fixos. Quando há falta de produtos, o resultado é fila — não concorrência. O sistema não se ajusta, e a penúria se perpetua.
Para Kornai, essa é a essência da tragédia socialista: a penúria se autoalimenta .
A deficiência gera mais deficiência, até que o sistema se torne insustentável.
Um olhar que continua atual
Décadas após a queda do Muro de Berlim, a obra de Kornai continua relevante. Suas análises não são apenas um retrato do passado, mas um alerta sobre os limites de qualquer sistema econômico que sufoque a iniciativa, ignore os incentivos e substitua a lógica do mercado por metas políticas.
Em tempos de debates sobre intervenção estatal e novos modelos de desenvolvimento, as lições da “Economia da Penúria” continuam ecoando.
O cenário econômico mundial passou por momentos de incerteza e oscilações, principalmente por causa das políticas impostas pelo governo de Donald Trump. Pensando nos efeitos dessas ações e nas lições de Kornai, você acha que a economia global consegue superar essa falta de diálogo, eficiência e responsabilidade?