Marset, o PCC e a fronteira em chamas: estratégias, alianças e desafios ao Poder Público
Resumo
O presente artigo faz uma breve análise da trajetória criminal de Sebastián Enrique Marset Cabrera (conhecido como “El Jugador”), bem como de sua articulação logística transnacional e associação operacional com o Primeiro Comando da Capital (PCC). Analisa-se a utilização de fachadas empresariais (incluindo clubes de futebol), a cadeia de transporte Bolívia–Paraguai–Brasil–Europa, e as fragilidades institucionais que explicam a persistente impunidade. Resultados indicam padrão narco-empresarial baseado em logística, corrupção e alianças interestatais criminosas, exigindo respostas integradas de policiamento, inteligência financeira e cooperação jurídica internacional.
Abstract
This article examines reported criminal activity attributed to Sebastián Enrique Marset Cabrera (“El Jugador”), focusing on his transnational logistics, use of business facades, and operational ties with Brazil’s Primeiro Comando da Capital (PCC). Using investigative journalism and official reports, the study maps routes, methods of concealment and laundering, and institutional weaknesses that sustain impunity. Findings point to a “narco-entrepreneur” model that calls for integrated law enforcement and international judicial cooperation. Palavras-chave: narcotráfico; fronteira; PCC; logística; Marset.
1. Introdução
O surgimento de atores com perfil de “narco-empresário” transforma o mapa do tráfico internacional: em vez de só dominarem territórios, essas organizações refinam cadeias logísticas e criam parcerias transnacionais que atravessam instituições estatais e portos globais. O caso Sebastián Marset é paradigmático: figura pública em vídeos e fotos, atuando a partir de Santa Cruz de la Sierra, e associado a envios massivos de cocaína a portos europeus e a alianças com o PCC.
2. Breve resumo da vida criminal de Sebastián Marset
Sebastián Enrique Marset Cabrera, nascido em Montevidéu (1990/1991), ganhou projeção no crime organizado após passagem por penitenciárias e atuação inicial no tráfico local. Utilizou o futebol e empresas de fachada como instrumentos de lavagem e de legitimação social, adquirindo clubes e investimentos comerciais que mascararam movimentações financeiras e facilitaram mobilidade internacional. Após ganhar influência logística na rota Bolívia–Paraguai–Brasil–Europa, passou a ser identificado como articulador de grandes carregamentos de cocaína; reportagens e comunicados apontam envios atribuídos à sua rede que totalizariam dezenas de toneladas destinadas à Europa, além de práticas de refino e armazenagem em Santa Cruz de la Sierra e em pontos de fronteira. Marset aparece em vídeos ao lado de integrantes do PCC e teria consolidado uma aliança operacional com a facção brasileira para garantir proteção, controle de rotas internas no Brasil e exportação via portos do Mercosul. Ele figura em investigações internacionais, tem mandados e recompensas emitidas por vários Estados, e permanece foragido; parentes e colaboradores já foram detidos e processados em diferentes jurisdições.

3. Rotas, volumes e apreensões
Rotas: Bolívia (Santa Cruz) → Paraguai (Pedro Juan Caballero / Ponta Porã) → Brasil (Mato Grosso do Sul; portos de Santos e Paranaguá) → Europa (portos belgas e holandeses).
Volumes: a rede de Marset já sofrera apreensões de dezenas de toneladas (10–16 t em operações associadas) destinadas à Europa nos últimos anos.
Modus operandi: uso de aviões pequenos e aeroportos clandestinos para chegada da droga; reembarque em contêineres sob cargas agrícolas; utilização de caminhões, aeronaves, embarcações e criação de gado como métodos de lavagem e logística, conforme apreensões vinculadas às operações policiais.
4. Facções e atores regionais identificados
PCC (Primeiro Comando da Capital): apontado como parceiro estratégico brasileiro, com presença de “operadores das ruas” relacionados à proteção e à distribuição no Brasil.
Estruturas paraguaias (Clã Insfrán e grupos ligados a operações em Pedro Juan Caballero): são referidas em investigações que conectam fornecedores e intermediários paraguaios à logística de exportação. Não podemos esquecer que há outras facções brasileiras além do PCC que atuam no Paraguai, tais como: Comando Vermelho (CV), ADA (Amigos dos Amigos),Terceiro Comando, PGC (Primeiro Grupo Catarinense), Guardiões do Estado, Sindicato do Crime, Bonde dos 40 e Família do Norte.
Atores bolivianos e o PCC: O Santa Cruz Cartel (“La Conexión”). Este cartel atua em Santa Cruz de la Sierra, está envolvido em tráfico de drogas, lavagem de dinheiro, assassinatos etc. Há uma rede chamada Narcosul, associada ao PCC. A Bolívia é descrita como “santuário” desse cartel. "O Narcosul, o cartel do PCC, é a organização criminosa que mais cresce hoje no mundo", afirma o procurador de Justiça Márcio Sérgio Christino. (https://noticias.uol.com.br/ul...).
As aeronaves usadas pelo PCC dentro do NARCOSUL são controladas desde 2021 por Valdeci Alves dos Santos, vulgo Colorido e associados.
Há duas outras grandes estruturas criminosas bolivianas que se destacam: uma comandada por Yasser Andrés “Coco” Vásquez Cardona, e outra por Sebastián Marset (conhecido como “Rei do Sul”).
Conexões europeias (organizações criminais de distribuição, p. ex., máfias italianas): constatou-se redes de distribuição ligadas à ‘Ndrangheta e organizações balcânicas.

5. Discussão crítica
Acerca da expansão do PCC e a vulnerabilidade das fronteiras brasileiras destacamos os autores brasileiros Hashimoto e Beuren Araujo que estudam a internacionalização da facção e das implicações para segurança pública nas fronteiras.
O fenômeno descrito nos relatos sobre Marset confirma padrões discutidos na literatura sobre crime transnacional: i) deslocamento da centralidade do uso da violência para o domínio da logística e da corrupção; ii) utilização de negócios legais como fachadas de lavagem; iii) formação de “joint ventures criminosas” entre cartéis regionais e facções armadas (no caso, a cooperação declarada entre um cartel uruguaio e o PCC) para otimizar rotas e proteger ativos. Enquanto a imprensa documenta a exposição pública e simbólica (vídeos, ostentação), as respostas estatais parecem fragmentadas e reativas, reforçando a necessidade de cooperação judicial e de inteligência financeira internacional para atacar o núcleo empresarial do crime e não apenas suas células operacionais.
6. Conclusão
As evidências públicas construídas por investigações jornalísticas e da leitura de operações policiais configuram Sebastián Marset como parte de uma nova modalidade de narcotráfico: o “narco-empreendedor” cuja força reside em logística, corrupção sistêmica e alianças com facções estabelecidas (PCC, intermediários paraguaios e redes de distribuição europeias). A persistente impunidade, apesar da visibilidade, aponta para lacunas institucionais e para a necessidade de ações coordenadas — judiciais, financeiras e de inteligência — entre países afetados.
Nesta toada, vemos a necessidade de sanções exemplares para esses tipos de “capos” mafiosos latinos. Não é outro o entendimento de Romagnosi (Escola Clássica) quando lecionava que: “(...) o fim da pena é a defesa social e que a pena funciona como um contraestimulo ao impulso criminoso” (Genesi del diritto penale. Giuffré:1996). Com efeito, prender e processar com eficácia lideranças
logísticas como Marset, além de ser um desestímulo a outros celerados é condição primordial para desarticular cadeias de suprimento e produzir efeito exemplar, conforme defendem estudos sobre securitização de fronteiras e combate ao crime transnacional, notadamente o narcotráfico.
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