Narcomilícias e a Zona Oeste carioca em ebulição: quando o Estado terceiriza a ordem e o mercado ilegal vira política
A zona oeste do Rio vive uma guerra híbrida entre narcomilícias e facções, resultado de décadas de leniência institucional, captura política e disputa por mercados ilegais; dados recentes mostram aumento territorial do CV e oscilações nos indicadores criminais que exigem resposta coordenada e firme, mas com respeito a direitos e governança democrática.
Resumo
Esta é uma breve reflexão que analisa a escalada da violência na zona oeste do Rio de Janeiro como produto de uma longa permissividade institucional que permitiu a convergência entre milícias e facções. Atualizamos os indicadores mais recentes e discutimos por que o modelo de “domínio territorial” — exploração de serviços, imóveis e mercados ilegais — transformou-se em guerra híbrida. Propomos lições do método Bukele em El Salvador e ponderamos riscos democráticos. Concluímos com recomendações para um endurecimento seletivo do enfrentamento, combinado com medidas de governança e prevenção.
Abstract
This paper examines the surge of violence in Rio’s West Zone as the outcome of decades of institutional tolerance that enabled militias and drug gangs to converge into ‘narcomilícias’. We update criminal indicators, compare enforcement models (including Bukele’s approach in El Salvador), and argue for a calibrated hardening of state response paired with democratic safeguards and social policies.
Introdução
Se a segurança pública fosse um jardim, a Zona Oeste carioca foi deixada sem poda por décadas — e hoje colhe-se uma floresta de narcomilícias que vendem gás, internet e medo. A leniência institucional e a captura política permitiram que agentes do próprio Estado transformassem monopólios de violência em negócios lucrativos; o resultado é uma disputa armada que já mudou o mapa do crime no Grande Rio.

Atualização dos dados e diagnóstico
Tendência territorial: estudos recentes mostram que o Comando Vermelho ampliou áreas sob seu domínio em 2023, enquanto as milícias perderam parte do controle, num cenário de realinhamentos e alianças locais.
Indicadores criminais: o Atlas/ Ipea registrou aumento de homicídios no RJ em 2023, com 4.292 casos reportados; a qualidade dos dados e subnotificações complicam interpretações, mas a tendência aponta para recrudescimento localizado que impacta o Sudeste.
Apreensões e produtividade policial: o ISP (Instituto de Segurança Pública-vinculado a SSP/RJ) reportou recorde de apreensões de fuzis e queda da letalidade em 2024, sinalizando ganhos operacionais, ainda que insuficientes para desmontar redes políticas e econômicas criminosas.

Autores que defendem endurecimento
Rafael Soares, Daniel Hirata e Robert Muggah são referências que, em diferentes graus, defendem respostas mais firmes ao crime organizado, combinando repressão dirigida e reformas institucionais para cortar vínculos entre milícias e o Estado.
O “método Bukele” e lições críticas
A experiência salvadorenha mostra que redução rápida de homicídios pode vir acompanhada de erosão de direitos; ganhos de segurança exigem institucionalidade para serem sustentáveis — lição essencial para o Rio, este é entendimento dos estudiosos progressistas. De outra banda, a maioria da população carioca e mesmo brasileira, está disposta a ter menos zelo pelos direitos humanos e, mais dureza contra os bandidos que estão nas ruas e favelas espalhando mortes, traficando drogas e assaltando.

Conclusão
O recrudescimento é real e documentado por especialistas internacionais e brasileiros (Muggah; Hirata); porém, há sinais de que ações integradas — apreensões de armamento, bloqueio de receitas e políticas urbanas — podem reverter tendências. Relatos analíticos apontam caminhos para ganhos duráveis se combinarmos pressão policial seletiva, reforma institucional e políticas sociais; essa é a aposta otimista de parte do campo acadêmico e técnico.
Referências bibliograficas: Rafael Soares; relatório The Dialogue sobre El Salvador; Atlas da Violência / Ipea; reportagens sobre Mapa dos Grupos Armados (GENI/Fogo Cruzado); boletins do ISP.