Wadson Regis

História política da década de 60 revela particularidades entre os governadores Luiz Cavalcante e Renan Filho

Comparar pessoas, governos e realizações é algo que pode soar como um insulto. E muitas vezes é o objetivo da análise.

Vou contar trechos de uma história para chegar no ponto onde os tempos (passado e presente) se encontram, convergem, divergem e se distanciam.

Nas eleições de 1960 o major Luiz Cavalcante venceu Abrahão Moura para o governo do Estado. Abrahão, natural de Pindoba, enfrentava o candidato nascido em Rio Largo e criado em Capela, que era apoiado pelo governador Arnon de Mello. Os adversários tinham o Vale do Paraíba e parte do Agreste como bases eleitorais.

Coube a Abrahão criar o fato novo da disputa ao afirmar que, no dia seguinte à sua posse como governador, assinaria a ordem de serviço para a construção dos 10,9 km, da AL 445 até Pindoba. A proposta era um insulto ao adversário e um chamamento ao povo da pequena Pindoba, que sonhava com o asfalto no lugar do barro.

Da história tira-se muito para os dias de hoje. Abrahão venceu em todos os municípios do Estado, mas perdeu a eleição na capital e a diferença de pouco mais de 1.700 votos fez de Luiz Cavalcante um dos maiores nomes da política de Alagoas em seus 200 anos. Seu vice foi o menestrel Teotônio Vilela.

Luiz Cavalcante não só governou para pobres e ricos, pretos e brancos. O legado deixado nos cinco anos de mandato (1961-1966) entraria para a história se os mesmos números fossem agora em 2017.

Em cinco anos, com o plano trienal em ação, Alagoas viveu uma das fases mais prósperas de investimentos governamentais. Foram construídos mais de 100 escolas, o que gerou mais que o dobro de alunos matriculados. Se depois viramos o campeão brasileiro de analfabetos a culpa não foi do Major Luiz Cavalcante, que também acompanhou de perto a construção de três pontes, pavimentação de quilômetros de rodovias e energia para mais de 40 núcleos urbanos. Se 51 anos depois ainda há localidades em Alagoas sem energia elétrica é porque os governantes não seguiram a linha do Major Luiz Cavalcante, que aparelhou três hospitais e inaugurou uma penitenciária. Se a segurança pública não foi prioridade nos governos seguintes, ao ponto de Maceió e Alagoas serem a capital e Estado mais violentos do país não foi culpa de Luiz Cavalcante, que tinha uma equipe de notáveis e jovens promissores no primeiro e segundo escalão, como Ib Gato Falcão, na Saúde, Deraldo Campos, na Educação, e jovens promissores, como o jurista Marcos Mello, os economistas Divaldo Suruagy e Ronaldo Farias, entre outros.

No início da década de 60 o governo Luiz Cavalcante, apontado por pesquisadores da gestão pública de Alagoas como o governo que montou a infraestrutura econômica e administrativa do Estado, pensava e trabalhava para as pessoas. Foi no governo de Luiz Cavalcante que surgiu o Banco da Produção, a Casal e a Ceal. A Comissão de Desenvolvimento Econômico de Alagoas (Codeal) passou a planejar e criar projetos, analisar concessões de incentivos fiscais e administrar a área onde está o Polo Multifabril Luiz Cavalcante.

Luiz Cavalcante foi um acidente de percurso que deu certo na política. Foi trazido de volta para Alagoas na década de 50, no governo de Arnon de Mello. Engenheiro por formação, contou com a indicação do irmão, Lincoln Cavalcante, assessor de primeira ordem de Arnon.  
Como diretor da Comissão de Estradas e Rodagens (atual DER), Luiz Cavalcante começou a fazer sua própria história na política comandando a construção de estradas e rodovias, como a que liga Maceió  a Palmeira dos Índios, um dos principais marcos do governo Arnon de Melo.

Luiz Cavalcante foi um ponto fora da curva política e venceu e convenceu pela simplicidade. Como governador demonstrava mais apreço ao reconhecimento popular do que às honras militares, por isso trocou a segurança militar pela companhia de amigos e aliados. Foi assim que viajou o Estado, dando ordem de serviço e inaugurando obras importantes.

Fazia questão de prestigiar as festas culturais e esportivas da classe trabalhadora. Gostava de ir e de manter o contato com as pessoas. Sua liderança o tornou tão popular que, ao deixar o governo, foi eleito deputado federal e duas vezes senador, com facilidade.

Só para lembrar, no governo de Luiz Cavalcante também houve tempestade na política nacional e a renúncia de Jânio Quadros culminou, em 1964, com o Golpe Militar que destituiu João Goulart da presidência.

A LIÇÃO
Luiz Cavalcante era engenheiro civil e entrou na vida pública pela indicação do irmão mais novo. Mostrou serviço e conseguiu, com simplicidade, que seu nome fosse o escolhido para a sucessão de Arnon de Mello. Como governador revolucionou e os números impressionam, inclusive para os dias de hoje.

Luiz Cavalcante é muito diferente dos políticos do século 21, a maioria líderes que valorizam mais a fotografia. Pensam em si e fazem de cada momento um marco particular de seu governo.

Isso não acontece só em Alagoas, mas é aqui que nasci e é aqui que devo me despedir deste mundo. Claro, imagino que ainda é cedo, mas certamente verei que só 51 anos depois do governo de Luiz Cavalcante a população das pequenas cidades de Belo Monte (27 km), Pindoba (10,9 km) e Coqueiro Seco (8 km) terão estrada pavimentada e Alagoas terá 100% de pavimentação nos acessos. Foram preciso 200 anos para tão pouco. Se o governo de Renan Filho concluir as três pequenas obras será um marco, mas apenas porque os outros não fizeram. Para o Estado é quase nada, para os munícipes é quase TUDO.

Sobre os perfis de governo, referências de tratamento com as pessoas e os aliados, não há como aproximar a comparação entre o Major Luiz Cavalcante e Renan Filho

Na época de Luiz Cavalcante a rede social era a voz do povo, que sentia firmeza e reconhecia seu líder como um exímio timoneiro. No mundo moderno, com as informações e contrainformações na palma da mão, é preciso que o líder também seja um exímio timoneiro.

Um governo de 5 anos, na década de 60, foi real, aprovado e ovacionado. Os primeiros quatro anos do atual estão no campo das promessas e algumas realizações. O planejamento é para quebra de paradigmas, mas neste intervalo até o final há muita água por debaixo da ponte e é preciso que os navegantes saibam nadar para que não haja mortos e feridos (politicamente falando).

Em outubro de 2018 saberemos se Renan Filho soube comandar, como exímio timoneiro, o barco chamado Alagoas

Wadson Regis

Wadson Regis

Sobre

Jornalista profissional, formado pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal), é editor-geral do AL1.

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