Wadson Regis

“O clima é de guerra”, avisa detento, por telefone, de dentro do presídio

Domingo, 22 de janeiro de 2017.

Em Rio Largo, agência do Bradesco incendiada.
Em Arapiraca, agência da Caixa explodida.
Na sede da Prefeitura de Campo Grande, apenas a parede pichada.

Nos três casos a evidência de alerta do crime organizado. Em nenhuma das investidas houve tentativa de roubo aos terminais eletrônicos ou cofres. Não houve mortes, tampouco tentativa de homicídio, mas os bilhetes deixados na agência da CEF e na Central de Monitoramento Eletrônico de Presos, em Arapiraca, não podem ser considerados achismo.

A cúpula da Segurança Pública sabe que pode fazer pouco, frente ao poderio devastador das facções Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV), que polarizam o controle criminoso dentro do sistema carcerário alagoano.

O Estado sabe que, se for para o enfrentamento o sangue será derramado; se ficar de sobreaviso o sangue será derramado. E o que fazer? Em tempo recorde só é possível orar, rezar e fazer preces. É isso, ainda que o Estado não concorde. Há de ressaltar que o plano de segurança nos presídios tem surtido efeito, mas apenas como paliativo, porque o problema é antigo e está enraizado.

A responsabilidade pela segurança pública é do Estado, mas a guerra que estamos a assistir é filme antigo, com versões atualizadas dia a dia, em 100% do sistema carcerário do País.

No caso de Alagoas, com os avisos “pacíficos” deste domingo o crime organizado mostra que não quer problema – pelo menos por enquanto. Por algum motivo o PCC não quer mudar a regra do jogo, por aqui.

A bomba está sem pavio”. “...o clima é de guerra”.

As frases foram divulgadas pelo portal Gazetaweb, neste domingo. A reportagem mostra uma conversa, por telefone, do jornalista Rafael Maynart com um detento, preso em algum presídio do Estado. Parabéns ao Rafael, que conseguiu mostrar como é fácil a comunicação com quem não deveria ter um telefone.

O crime é organizado. O sistema é operacional. As regras entre eles são claras. Por outro lado, o judiciário continua lento e 50% - dos chamados reeducandos - que estão nos presídios alagoanos não foram condenados a crime algum. Sobre isso o detento, por telefone, alertou que, quem se nega a entrar na facção corre o risco de morrer. “O Estado tem que olhar para as pessoas que estão decretadas de morte. Isto é muito importante. Tem as partes que são os decretados de mortes pelas facções, por alguns motivos”.

O detento também falou sobre as duas mortes na semana passada. “O promotor se equivocou, porque realmente foi briga de facção”. E avisa: Mesmo separados – PCC em Maceió e CV no Presídio do Agreste se confrontam por telefone. "Como não podem brigar farão rebelião para chamar a atenção".

O preso também falou sobre as várias armas artesanais, constantemente encontradas nas varreduras. Disse que as facas, facões, espetos e punhais são feitos com madeiras tiradas das camas e o ferro das portas.

Outro detalhe na entrevista foi a opinião do detento sobre a Lei de Execuções Penais. “Meu querido, a lei de execuções é uma lei muito bonita, mas não está funcionando no Brasil inteiro”. 

Mais triste é saber que todo Judiciário sabe disso e pouco se faz para mudar tal realidade.

Wadson Regis

Wadson Regis

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Jornalista profissional, formado pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal), é editor-geral do AL1.

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