Wadson Regis

A mentira que decide eleição

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Como a fake news desfigura a realidade e molda o voto. Esse é um novo tom às vésperas do ano eleitoral.

Em tempos de bolhas de informações rápidas as fake news não são apenas curiosidades digitais, têm sido instrumentos de poder político que exploram a ansiedade, o medo e a desconfiança dos desavisados.

Nos processos eleitorais, boatos, vídeos editados, fotos fora de contexto e manchetes sensacionalistas circulam mais rápido do que verificações factuais, criando um cenário que não condiz com a realidade dos fatos e, ainda assim, conseguem influenciar escolhas de milhares de pessoas. O ‘vulgo’ acordão de Brasília é um ótimo exemplo, assim como a confirmação de que Renan Filho vai disputar o Governo ou de que é um dos preferidos de Lula para ser seu vice. Nas muitas versões para JHC, ele fez um acordo com Renan Calheiros e ficará até o final do mandato, ou vai disputar o Governo, ou disputar o Senado.

O mecanismo é simples, mas devastador, onde fontes duvidosas, âncoras de credibilidade questionável e conteúdos sem verificação são apresentados como evidência. Por fim, o público, exposto repetidamente à narrativa enganosa, internaliza-a como verdade, reduzindo a capacidade crítica de distinguirmos entre informação confiável e desinformação.

A vulnerabilidade não está apenas na audiência. A própria arquitetura das plataformas digitais costuma favorecer conteúdos que provocam reações rápidas, sem exigir verificação profunda. Algoritmos priorizam engajamento, não precisão, criando um ecossistema onde a desinformação tem maior alcance do que a correção. Em ambientes polarizados, o efeito é ainda mais grave: bolhas informacionais se fecham, dificultando o acesso a fontes diversas e confiáveis.

Em um cenário inundado por mentiras, eleitores podem votar com base em percepções distorcidas. O jornalismo responsável, com checagem de fatos, contextualização histórica e rigor metodológico, continua sendo um dos pilares mais importantes para preservar a verdade em tempos de eleição. Mas esse modelo está sucumbindo.

Em tempo:

No livro “Os engenheiros do caos”, de Giuliano da Empoli, o primeiro escrito sobre impacto das redes sociais na política, o prefácio traz uma frase que diz: “uma mentira dá a volta ao mundo no mesmo tempo que você amarra seus cadarços.”

É o que está acontecendo.

Wadson Regis

Wadson Regis

Sobre

Jornalista profissional, formado pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal), é editor-geral do AL1.

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