Wadson Regis

Crime politizado. Protestos politizados. Não se deve tocar fogo na Braskem sem que queime os políticos (omissos)

Sou de uma cidade (Murici) onde pessoas não suportaram as seguidas enchentes (1914, 1941, 1988, 1989, 2000, 2010, 2022 e 2023) e tiveram que deixar suas casas e comércios. Na Rua Floriano Peixoto (onde temos residência), na área do antigo centro comercial, vi Dácio, Mário-Chefe, Bibiu, João Pessoa, Demário e tantos outros pais de famílias, alguns aposentados e com muitos anos naquele trecho, deixarem suas casas por não suportarem a ressaca dos seguidos pós desastres. 2010 foi a gota d’água, também, para as senhoras Marli (minha mãe), Odete, Luzia, Nira, Diva e Lourdes, que passavam horas, a partir do pôr-do-sol, nos famosos (e saudosos) bate-papos entre vizinhas.

O que ainda acontece em Murici, São José da Laje, União dos Palmares, Santana do Mundaú, Branquinha, Rio Largo, Matriz de Camaragibe, Jundiá, Santana do Ipanema, São Miguel dos Campos (durante o inverno) deve ser reconhecido como crime de abandono a tantas famílias.

No sertão é o verão que castiga com a falta de água, nas torneiras e nas plantações. Da mesma forma deve ser reconhecido como crime de abandono.

E o que dizer das lagunas Manguaba e Mundau, poluídas e assoreadas? Ninguém faz nada. Especialistas e pesquisadores têm tudo anotado e asseguram que é possível salvá-las e, por consequência, gerar oportunidade de renda para pescadores e marisqueiros. A pesca nas lagunas tem dias contados.

Assim como os invernos e verões, nas diversas regiões do estado, a ausência de um olhar humanitário de políticos e autoridades deve ser reconhecido como crime de abandono às famílias e descompromisso com o meio ambiente. É triste – e vergonhoso.

Assim, pelo menos essa é a minha opinião, também deve ser considerado e reconhecido o crime de abandono pela negligência política e jurídica com as famílias e os comerciantes dos cinco bairros vítimas de um brutal e covarde abandono (coletivo).

Gritar, a partir de agora, quando já não há mais o que fazer; cobrar revisão de negociação financeira depois da evacuação dos bairros, depois da destruição de milhares de casas, apartamentos e comércios é politizar (de maneira cruel e covarde) uma situação irreversível. Protestar fechando ruas e avenidas, a esta altura, com bandeirões de partidos políticos e setores representativos que se calaram durante anos é abominável.

Não há como pedir punição à Braskem sem que haja o mesmo rigor para todos os que poderiam fazer sua parte e se calaram.

Se a Braskem tem culpa, os omissos da justiça e da política têm muito mais.

Que os responsáveis pelas catástrofes sejam punidos. Politizar também é uma forma de crime. 

Veja no vídeo abaixo quantos crimes (da mineradora, da justiça e dos políticos) aconteceram para chegar neste trágico momento.


Wadson Regis

Wadson Regis

Sobre

Jornalista profissional, formado pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal), é editor-geral do AL1.

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