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Velhos, com a alma jovem

Por Rodrigo Alves de Carvalho

Esses dias, estava sem muito o que fazer e fui me olhar no espelho. Então me dei conta de uma coisa que eu já sabia que estava acontecendo, mas até então, não quis pensar muito nessa constatação.
Eu estava ficando careca.
Olhei um pouco mais atentamente para meu rosto, e não percebi aquela cútis lisinha que há bem pouco tempo me proporcionava um barbear rápido, sem precisar esticar a pele das bochechas. Agora, a pele estava um pouco mais flácida, e de vez em quando, parece que estou com o rosto um pouco caído.
Também percebi uma pequena papadinha abaixo do queixo, a orelha parece que cresceu um pouquinho e quando faço uma expressão de espanto, minha testa se enche de rugas.
Com tantas observações de meu rosto e também outras partes do corpo, como uma barriguinha bem saliente, e uma pequena curvatura na coluna (se bem que isso, acredito que tenho desde criança), não dá mais para disfarçar a condição que me afeta e que não disfarço, mas também ainda estou tentando me acostumar:
Estou envelhecendo.
Contudo, e por incrível que pareça, não me sinto envelhecer. Estou me vendo ficar velho, com todas essas constatações, porém, meu sentimento é de que tenho vários anos a menos do que realmente tenho.
Depois penso: mas o que é a idade?
Não faz muito sentido essa contagem de anos, que determina quando é a hora da gente se sentir velho. Tenho uma coleção de primaveras em minha existência, mas minha concepção de mim mesmo, é de que ainda tenho muito o que fazer, muito o que conhecer, aprender, desfrutar, viver...
Não me vejo envelhecer, a não ser quando me olho no espelho. No trabalho, na rua, com amigos, ou qualquer lugar, minha alma é jovem, minha idade mental é jovem, mesmo que eu tenha uma vivência maior, o que me proporciona uma certa cautela nas ações, uma certa experiência antes de uma decisão, o que um jovem, muitas das vezes, não tem.
No trabalho, na rua, com amigos ou qualquer lugar, sou cabeludo, cútis lisinha, barriga mais ou menos definida e coluna ereta (ainda que sou um pouco curvado desde criança), e é assim que me sinto, enquanto não penso em mim mesmo como havia me visto no espelho.
E é assim mesmo que todos devem se ver, se sentir e viver. Não se entregar à idade como se isso determinasse o momento em que o viver deve ter limites, como se a idade te ordenasse o momento de se entregar a uma condição de velho.
Aproveite cada momento, sinta-se mais jovem, se dê valor, procure cuidar da saúde, se exercitar, curtir a família, os amigos e principalmente, não deixe o espelho te desanimar, tenha orgulho daquela imagem refletida, tenha orgulho de quem você é.
Desejo a todos um feliz 2026, com muita paz e saúde, e também, muitos e muitos outros felizes anos novos, para ficarmos cada mais velhos, com a alma cada vez mais jovem.

RODRIGO ALVES DE CARVALHO nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta, possui diversos prêmios em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas promovidas por editoras e órgãos literários. Atualmente colabora com suas crônicas em conceituados jornais brasileiros e Blogs dedicados à literatura.

Em 2018, lançou seu primeiro livro intitulado “Contos Colhidos”, pela editora Clube de Autores. Trata-se de uma coletânea com contos e crônicas ficcionais, repleto de realismo fantástico e humor. Também pela editora Clube de Autores, em 2024, publicou o segundo livro: “Jacutinga em versos e lembranças” - coletânea de poemas que remetem à infância e juventude em Jacutinga, sua cidade natal, localizada no sul de Minas Gerais. Em 2025, publicou o terceiro livro “A saga de Picolândia” - série de relatos sociopolíticos acontecidos em Picolândia – uma pequena cidade do interior, cuja sua principal fonte de renda é a produção de sorvetes. Com um tom humorístico e irônico, com uma pitada de realismo fantástico, a obra reúne diversas crônicas engraçadas narradas por um morador desta cidade.


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