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Quem empreende melhor: o brasileiro criativo ou o americano disciplinado?

Diante das tensões que envolvem os governos do EUA e Brasil, a expansão dos negócios entre esses países praticamente se paralisam. Mas, os aprendizados tirado nas diferenças entre ambos ainda permanecem, indo além de aprender uma nova língua ou adaptar um produto. Para os empreendedores que cruzam a fronteira entre Brasil e Estados Unidos. O verdadeiro desafio muitas vezes está nos detalhes invisíveis: valores culturais, formas de comunicação, atitudes em reuniões e até na maneira como se entende o sucesso.

De um lado, a flexibilidade e a criatividade do empreendedor brasileiro; do outro, a objetividade e o foco em resultados do americano. Cada estilo tem seus pontos fortes — e suas armadilhas. Segundo Fernanda Spanner, CEO da Spanner Consulting, consultoria especializada em internacionalização de empresas, entender essas diferenças é essencial para quem busca fazer negócios sustentáveis e eficazes fora do país.

“Não é sobre certo ou errado. É sobre aprender a jogar o jogo local com inteligência, sem perder a identidade. Quando o empreendedor brasileiro entende como pensa e age o americano, ele ganha poder de influência, negociação e adaptação”, afirma Fernanda.

A seguir, exploramos as principais diferenças entre os perfis de empreendedores dos dois países — e o que cada um pode aprender com o outro.

1. Comunicação: espontaneidade versus objetividade


O empreendedor brasileiro costuma ser mais informal, emotivo e espontâneo. É comum quebrar o gelo com piadas, usar o toque físico como forma de conexão e suavizar críticas com elogios.

Já nos Estados Unidos, o tom é direto, claro e objetivo. Feedbacks — inclusive os negativos — são dados com naturalidade, mas sempre com profissionalismo. A informalidade, se mal dosada, pode soar como falta de seriedade.

“O brasileiro pode aprender com o americano a ser mais claro, assertivo e respeitar a formalidade inicial nas relações. Já o americano tem a ganhar ao incorporar um pouco mais da empatia e flexibilidade brasileira, especialmente na gestão de pessoas”, aponta Fernanda.

2. Relação com o tempo e prazos


Pontualidade, cumprimento de prazos e planejamento são pilares para o empreendedor americano. Reuniões começam e terminam no horário, e atrasos são vistos como sinal de desorganização.

No Brasil, a relação com o tempo costuma ser mais flexível, com margem para imprevistos e certa tolerância cultural ao atraso.

“Pontualidade é uma forma de respeito. No ambiente americano, ser pontual transmite comprometimento. É uma mudança de mentalidade que muitos brasileiros precisam fazer ao empreender lá fora”, comenta a CEO.

3. Visão de sucesso


No Brasil, sucesso empresarial muitas vezes está relacionado a status, estabilidade e cargo. Nos EUA, o foco está em métricas: crescimento, escalabilidade, inovação e impacto.

Falhar, nos EUA, não é vergonha — é parte do processo. No Brasil, ainda há um forte estigma em torno do fracasso. “O brasileiro pode aprender a ver o erro como aprendizado, e o americano pode aprender a valorizar mais a construção de relações de longo prazo, algo que o brasileiro costuma fazer muito bem”, diz Fernanda.

4. Estrutura e profissionalismo


O empreendedor americano geralmente constrói negócios com base em processos, contratos formais, políticas internas e compliance rigoroso. Já o brasileiro tende a improvisar mais, confiar no “jeitinho” e resolver informalmente.

“Muitos brasileiros se surpreendem ao contratar nos EUA e perceberem o grau de responsabilidade legal envolvido. Não existe ‘CLT’, mas há regras rígidas sobre discriminação, assédio e deveres do empregador. É um ambiente que exige preparo e estrutura”, alerta Fernanda.

5. Hierarquia e colaboração


Enquanto o ambiente corporativo brasileiro tende a ser mais hierárquico, com ênfase na autoridade do cargo, nos EUA há uma cultura mais horizontal e colaborativa, onde ideias contam mais do que títulos.

“Isso não significa que não haja respeito à liderança, mas sim que todos são incentivados a contribuir. É um modelo que estimula inovação e engajamento”, explica Fernanda.

Como unir os dois mundos


Fernanda defende que o ideal é construir uma cultura empresarial híbrida, que una o melhor de cada estilo. “A base pode ser americana: processos claros, foco em resultado e profissionalismo. Mas isso não precisa excluir o calor humano, a empatia e o senso de comunidade que o brasileiro traz.”

Empresas que conseguem fazer essa integração cultural tendem a ser mais inovadoras, resilientes e preparadas para crescer globalmente.

Aprendizados práticos para empreendedores brasileiros

Ao empreender nos EUA, é essencial desenvolver algumas habilidades-chave:

Pontualidade e respeito a prazos
Comunicação clara, sem rodeios
Capacidade de lidar com feedback direto
Atenção a normas legais e compliance
Postura ética e foco em métricas

“Adotar esses padrões aumenta a credibilidade do empreendedor e reduz atritos com clientes, fornecedores e parceiros. É um investimento em confiança. O empreendedor que consegue navegar entre culturas com flexibilidade e inteligência tem muito mais chances de construir algo sólido e duradouro”, resume Fernanda.

Fonte: Assessoria