Por que os alagoanos deveriam adorar a segunda-feira?
Atravessar o fim de semana em Alagoas é como atravessar Aleppo, a cidade síria devastada pela guerra

Carlos Nealdo
Josivaldo Tavares de Souza, de
40 anos, acaba de virar estatística. No sábado, 06, o destino lhe apunhalou pelas
costas. Literalmente. Seu algoz – que fugiu depois de cometer o crime, ocorrido
na noite da Cidade Universitária – se aproximou dele por trás e desferiu vários
golpes de faca nas suas costas e cabeça. Josivaldo não resistiu. Passou desta para o Relatório de
Ocorrências do Centro Integrado de Operações da Secretaria de Segurança Pública
de Alagoas.
Ele é apenas mais uma das vítimas que incham os números negativos da violência em Alagoas e fazem do fim de semana um verdadeiro campo de guerra no Estado. Segundo as estatísticas da própria Segurança Pública, nos cinco primeiros meses deste ano, o domingo registrou 152 assassinatos, número que corresponde a 20% de todos os crimes ocorridos no Estado, no período.
Se contabilizarmos as 118 mortes ocorridas no sábado, o fim de semana responde sozinho por 34% do total de crimes letais. Atravessar esses dois dias em Alagoas, portanto, é tão perigoso quanto atravessar Aleppo, a cidade síria destruída por conflitos.
A diferença é que, em Alagoas, a violência é ordinária, não invade o noticiário televisivo nem mostra prédios devastados. É silenciosa e íntima: vai ferindo individualmente um a um, até que todos se amontoem em dados estatísticos e passem a ser apenas números. Perdem a identidade.
Sinônimo de diversão, o fim de semana em Alagoas é de meter medo. Portanto, se estiver lendo este texto, sinta-se um privilegiado: você conseguiu sobreviver a mais um fim de semana de sangue. É claro que passar a segunda-feira por aqui não é lá um mar de rosas. Ainda segundo os números da Segurança Pública de Alagoas, a segunda detém 13% dos assassinatos ocorridos nos cinco primeiros meses no Estado.
Entre os dias úteis, a sexta-feira é a campeã, com 15% do total de homicídios. Foram 115 nos cinco primeiros meses. A terça-feira “perde” o fôlego com 98 assassinatos até chegar a quarta-feira, o dia – digamos – mais “tranquilo” em número de crimes no Estado: foram assassinadas “apenas” 93 pessoas de janeiro a maio. Os números voltam a crescer na quinta (foram 97 assassinatos no período) e seguem em alta até domingo.
Encravada no meio da semana, a quarta-feira é uma espécie de divisor de trabalho. É como se o crime respirasse da barbárie do fim de semana anterior e começasse a planejar o próximo. Quem sobreviverá até segunda-feira?