Wadson Regis

A Casa rachou, deixou sequelas e brecha para o retorno de um líder

Assisti atentamente a votação da nova Mesa Diretora da Assembleia Legislativa (ALE), que tem como único remanescente o presidente Luiz Dantas (PMDB), reconduzido ao cargo na mais polêmica sessão que pude acompanhar na Casa de Tavares Bastos, nos 20 anos cobrindo política.

Sem entrar no mérito das articulações do grupo, ficou claro que alguém errou na estratégia. Estava evidente nas falas dos deputados Marcelo Victor (PSD), depois Ricardo Nezinho (PMDB) e por fim com Antonio Albuquerque (PTB). Os três fizeram uso da palavra após o deputado Olavo Calheiros (PMDB), em questão de ordem, solicitar a Luiz Dantas, já reeleito, a suspensão da eleição dos integrantes da Mesa, que tinha apenas uma chapa registrada. O argumento de Olavo estava baseado num requerimento assinado por Bruno Toledo (Pros) solicitando a suspensão da eleição, em bloco, dos membros da Mesa. O tal requerimento não foi encontrado.

“Tentamos por várias vezes, presidente, o consenso e o senhor é testemunha disso”, alertou Marcelo Victor, ao fezer um discurso que gerou várias linhas de interpretação.

“A construção desta chapa, senhor presidente, não foi feita do dia para a noite. Ela foi resultado do descontentamento de muitos com o que estava acontecendo”, disse Nezinho.

“Senhor presidente, tudo isso poderia ter sido evitado”, foi o que me chamou a atenção no a parte de Antonio Albuquerque.

O resultado da eleição, que teve todos os caminhos desviados para que houvesse o desgaste desnecessário, naquele momento, foi o fruto colhido pela interpretação equivocada ou míope, de quem tinha o controle da missão.

O surgimento da campanha de Bruno Toledo, definida na noite anterior à eleição, durante o confinamento do grupo oposicionista num hotel, foi a gota d' água para que o clima chegasse ao ponto de ameaça.

Se tem alguém que não merece pancada, neste momento, é justamente quem mais ficou fragilizado: o presidente reeleito e único membro da Mesa anterior a permanecer no cargo.

Contrariando o amigo e querido Ricardo Mota, a quem respeito e admiro intensamente, o vencedor da batalha de ontem, na ALE, não foi Marcelo Victor. E por que Marcelo Victor, na minha opinião, não pode ser tido como grande vencedor do pleito? porque jogou pesado demais. Falou demais. Ameaçou demais. Marcelo não só perdeu o controle emocional, como ao se dirigir até as costas do presidente da Casa e dizer-lhe o que quis, e ainda aguardar, pelas costas de Dantas, a decisão de se haveria votação, se apequenou e revelou-se disposto a tudo naquele momento.

Para os mais atentos, após o veredicto de Luiz Dantas, mantendo a votação para aquele momento, Marcelo Victor abaixou a cabeça e precisou ser retirado pelos militares que fazem a segurança da Casa.

Luiz Dantas ainda é uma unanimidade para comandar o Poder Legislativo, mas o golpe por ele sofrido deixou sequelas que podem “matá-lo” a qualquer momento.

Pelo que assisti, Marcelo tinha razão em cobrar a realização da votação, como ficou muito bem claro no aparte de Dudu Holanda (PSD). “Senhor presidente, o senhor nos convocou, por meio do Diário Oficial, para a votação do presidente, em separado, o que já aconteceu, e para a votação dos integrantes da Mesa, que só tem uma chapa inscrita, conforme o regimento desta Casa. Não restando dúvida, acredito que o senhor não tem outra opção a não ser colocar em votação”, justificou Dudu, que arrancou, em seguida, o sim de Luiz Dantas.

Resumo da batalha, quase campal:

Luiz Dantas venceu, mas ficou fragilizado;

toda Mesa anterior caiu;

alguns membros da nova composição terão que acertar contas com o governador, porque o rumo foi mudado. Haverá punição aos “traidores”;

Marcelo Victor conseguiu o que queria. Mesmo com a razão do pleito, jogou qualquer possibilidade de harmonia para os próximos dias.

É aí que vejo a possibilidade de retorno de um líder. “A suprema arte da guerra é vencer o inimigo sem lutar”, Sun Tzu (eu disse ontem, no texto sobre o líder (clique aqui e confira ).

Albuquerque não tem nada com o que aconteceu, aliás, foi sereno. E por que acredito que ele ressurgirá? Porque Luiz Dantas, no discurso final, deixou claro que não há clima para a harmonia entre os pares, pelo menos por enquanto. “Tentarei ser o presidente de todos, sei que será difícil, e se não conseguir veremos o que fazer”.

Experiente, Luiz Dantas sabe que os próximos dias serão ainda mais difíceis.

Marcelo pode ter vencido mais uma batalha, mas certamente está gravemente ferido, além de ter perdido muitos soldados.

Albuquerque, o mais articulado de todos, é o primeiro da fila. Não duvide. É assim que a banda toca.


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Wadson Regis

Wadson Regis

Sobre

Jornalista profissional, formado pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal), é editor-geral do AL1.

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