Bordado Filé da Região das Lagoas Mundaú-Manguaba é certificado com Indicação Geográfica

*Mariana Lima
Uma solenidade na Associação Comercial de Maceió, marcou a concretização de seis anos de trabalho e esforços de diversas instituições alagoanas, mas, principalmente, da força e tradição de um grupo de artesãs de nosso estado. O presidente do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), Luiz Otávio Pimentel, entregou a Petrúcia Lopes, presidente do Instituto do Bordado Filé (Inbordal), o certificado de Indicação Geográfica (IG), na modalidade Indicação de Procedência, atestando que não há, no Brasil ou no mundo, bordado igual ao produzido na região das Lagoas Mundaú e Manguaba.
Pimentel explicou aos presentes que a IG é um signo distintivo que reúne em seu significado vários elementos – no caso do bordado filé, qualidade, tradição, história, cultura e um saber que vem sendo ensinado de mãe para filha por mais de 100 anos. Esse é o primeiro selo de IG para o artesanato alagoano e representa um marco que pode ser utilizado apenas pelas artesãs que vivem nos 252 km² ao redor das lagoas, que abrangem os municípios de Marechal Deodoro, Pilar, Santa Luzia do Norte, Coqueiro Seco, Satuba e Maceió.
A Indicação Geográfica foi descrita, também, como uma forma de ajudar a comunicar os saberes e fazeres de Alagoas para o mundo, de acordo com Vinícius Lages, diretor de Administração e Finanças do Sebrae Nacional, presente na solenidade. Alagoano, Lages destacou que a IG é uma ferramenta importante para o desenvolvimento dos pequenos negócios, pois contém componentes para produção e gestão voltadas para o mercado.
“Eu fico muito feliz quando vejo que a cultura passa a ser um dos eixos de desenvolvimento desse meu querido estado, porque todos nós sabemos que esta é uma terra que pinta e borda muito bem, terra de gente que sabe fazer bem feito, de gente que costura sem agulha na política, nos negócios, nas artes, na capacidade de encantar o Brasil e o mundo. É sobretudo, e esse é um dos principais ativos do nosso estado, terra de gente valorosa e competente, que dá nó em pingo d’água”, celebra Vinícius Lages.
O processo para registro da IG entre as artesãs alagoanas foi resultado de uma série de parcerias desde 2010, encabeçada pelo Sebrae em Alagoas, com apoio do Governo do Estado, por meio, especialmente, da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico e Turismo (Sedetur), da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), da Prefeitura de Maceió, através da Fundação Municipal de Ação Cultural (Fmac), do próprio INPI e da Braskem. Porém, acima de tudo, pela persistência das bravas artesãs de Alagoas, como destacou o superintendente do Sebrae em Alagoas, Marcos Vieira.
“O processo para registro da Indicação Geográfica não conquistou apenas um selo para as artesãs dos municípios da região das lagoas. Os anos de labuta ajudaram a reconquistar a autoestima dessas mulheres, organizá-las enquanto profissionais e lhes garantir uma marca de trabalho, reposicionando o filé no mercado e mantendo viva a tradição do bordado em Alagoas”, afirma Vieira.
Os aspectos econômicos de tal certificação foram destacados também por Helder Lima, titular da Sedetur, que destacou o trabalho das artesãs como uma grande alavanca para o desenvolvimento social de Alagoas. “Além de gerar desenvolvimento social natural às artesãs e pessoas ao seu redor, isso também agrega um traço fundamental para nosso turismo. Porque quando os turistas vêm para cá e têm acesso a uma arte com a qualidade que vocês fazem, conhecem o processo de trabalho, a história de vocês, isso torna a experiência dele muito mais rica, personalizada e humanizada. Então isso também acaba agregando valor ao nosso turismo”, declara.
Entrega solene
O momento da entrega formal da certificação da IG às artesãs foi carregado de emoção. Petrúcia Lopes ergueu o documento, enquanto era aplaudida pelas colegas e demais presentes. Foram feitas fotos oficiais com todas as artesãs do Inbordal e com todos os profissionais que contribuíram durante os seis anos do processo de avaliação do pedido de registro. Bastante emocionada, a presidente do Instituto do Bordado Filé apenas agradeceu a dedicação de todos.
“É um dia extremamente representativo para nós, artesãos do filé. Foram seis anos construindo essa realidade que se concretiza hoje. É uma honra, como presidente do Inbordal, representar todas as artesãs do autêntico e genuíno filé alagoano”, afirmou Petrúcia.
Entre as artesãs representadas estava Camila Marques, de 23 anos, a terceira geração de bordadeira na família. Aprendeu os pontos com a mãe, dona Sebastiana, ainda criança, e exerce o ofício de artesã desde então, ao lado das duas irmãs. Ela reconhece a importância do selo de IG na preservação do passado e proteção do futuro da arte delas. “Mas isso não quer dizer que precisamos ficar paradas no tempo. Temos que renovar sempre, lutando para que o genuíno bordado filé das lagoas Manguaba e Mundaú tenha sempre o padrão de qualidade. Por isso que quero prestar vestibular para Moda, para aprender a como aplicar o filé em diferentes formas e seguir evoluindo seu uso”, revela Camila.
Ponto de vista econômico
Agora que estão de posse do certificado, começa o trabalho a médio e longo prazos de trabalho no mercado. Marcos Vieira, superintendente do Sebrae em Alagoas, enumerou as vantagens competitivas e econômicas que as artesãs vão poder desfrutar.
“O reposicionamento no mercado é um dos motores do registro de IG. Há um aumento no valor agregado dos produtos, diferenciando-os dos demais, gerando uma melhoria na comercialização, facilitando o acesso aos mercados através da reputação alcançada e o estímulo a investimentos na forma de produção, com valorização das propriedades e pontos de venda, melhoria no padrão tecnológico, aumento no fluxo de turistas, na geração de negócios, emprego e renda”, pontua Vieira.
É por enxergar essas vantagens estratégicas que o Sebrae, em todo o país, tornou-se um grande parceiro do Instituto Nacional da Propriedade Industrial na difusão das indicações geográficas e mobilização para registro, como defendido pelo próprio presidente do INPI, Luiz Otávio Pimentel.
“Posso dizer que o Sebrae tem sido um motor nacional em torno das IGs, seja no artesanato, seja nos produtos alimentícios. Hoje, para se ter uma ideia, existem no Brasil 104 pedidos de IGs, e já foram concedidas 40 indicações de procedência e 17 denominações de origem. Em praticamente todas elas o Sebrae esteve presente, com seu corpo técnico de alto nível, dando uma contribuição imprescindível para nosso país, principalmente em um momento em que nós temos que colher oportunidades para sair da crise e sermos um país sustentável em desenvolvimento”, declara Pimentel.
*Algo Mais Consultoria e Assessoria