Marlene Almeida apresenta a instalação Terra Viva na 36ª Bienal de São Paulo

Intimidade e mistério permeiam a relação de Marlene Almeida com a terra, matéria primeira da sua pesquisa e criação artística há mais de 50 anos. Esse processo de coleta de pigmentos minerais e naturais, que resultou na criação do Museu das Terras Brasileiras, fomenta uma produção vigorosa e precursora no olhar para as questões da natureza. Aos 83 anos, ela revisita sua trajetória e o estado atual dos seus estudos em constante expansão em Terra Viva, instalação que será apresenta em sua primeira participação na Bienal de São Paulo, de 06 de setembro de 2025 a 11 de janeiro de 2026, no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, no Parque do Ibirapuera.
Em sua 36ª edição, a Bienal de São Paulo tem como tema Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática, propondo uma reimaginação das relações interpessoais e da humanidade com a natureza e a cultura. São provocações poéticas e éticas que atravessam o trabalho de Marlene Almeida desde os anos 1970, mas que já vêm sendo construídas décadas antes. Nascida em Bananeiras, no Brejo Paraibano, estudou filosofia em João Pessoa, onde, além de se envolver com movimentos artísticos, se engajou no combate à ditadura militar e à favor da classe trabalhadora, no campo e na cidade, e na ainda incipiente causa da preservação ambiental.
A adoção da terra como material de trabalho e fonte de inspiração converge, portanto, muitos de seus interesses e inquietações nos campos político, afetivo e filosófico. O resultado é, na verdade, processo: mais de 50 anos de dedicação à coleta, pesquisa e possibilidades de fabulação, a partir da criação com os solos, suas texturas e seus pigmentos, usados na criação de telas, instalações e esculturas. Regularmente, Marlene ainda sai em expedições de coleta de solo e sua posterior catalogação no Museu das Terras Brasileiras, criado e mantido por ela, seu companheiro, Antônio Augusto, e o filho, o pesquisador e artista José Rufino.

Desse processo, nasceram não só obras, como também um acervo robusto de cores criadas a partir dos solos de diferentes regiões do país. Marlene Almeida estabelece um olhar abrangente para a terra, entendendo-a em suas potências como material e como disparadora de reflexões. Terra Viva, que ela apresenta na 36ª Bienal de São Paulo, é atravessada por essas questões, em relação direta, também, com a trajetória da artista.
“Essa instalação é uma continuação do meu trabalho, dos muitos anos de pesquisa, e também um reforço da ideia da ancestralidade que está presente não só na minha obra, como na minha prática e no material. O trabalho de pintura com a terra é ancestral. De alguma forma, acho que Terra Viva é como um resumo da minha pesquisa, uma obra-inventário. Retomo nela o uso de materiais que estiveram presentes na minha produção dos anos 1980, por exemplo, como as lâminas de arado, que sempre me interessaram por estarem ligadas ao trabalho com a terra, e também no que podem provocar nessa mistura do frágil com o forte”, explica Marlene.
O título da obra retoma o nome da exposição realizada há 36 anos na Galeria Ars, Artis, em São Paulo, com apresentação de Jacob Klintowitz e Mário Schenberg. Nessa mostra, Marlene também apresentou as terras em recipientes diversos, prática que incorpora na sua produção até hoje, a exemplo do que estará exposto em Terra Viva.
Na instalação atual, ela apresenta um conjunto de faixas de lona de algodão, pintadas com pigmentos minerais de diversas regiões do Brasil, especialmente da região Nordeste, e muitas com nomes poéticos, que fascinam a artista, como Serra da Saudade, do Cipó e Vale Vulcânico. Do alto, elas se espalham pelo piso, remetendo a uma grande falésia, outra referência para o nome da instalação. As faixas carregam as marcas deixadas pelo tempo na natureza, como cortes, riscos, falhas, dobras, texturas, em um processo contínuo de transformação.

“Me surpreendo com o fato de estar há tanto tempo trabalhando com um material e, ao mesmo tempo, perceber que ainda há muito por fazer. Hoje, o prazer é maior porque existe uma familiaridade. A terra é um elemento tão próximo, tão íntimo, que é como uma coautora. Essa obra reúne meu trabalho, o interesse com as cores da terra, os caminhos que percorri – alguns mais simples e outros mais conceituais. Ela é, sobretudo, um exemplo da fragilidade humana e da natureza”, declara Marlene Almeida.
Serviço:
36ª Bienal de São Paulo – Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática
Período: de 06 de setembro 2025 a 11 janeiro de 2026
Local: Pavilhão Ciccillo Matarazzo - Parque Ibirapuera, Portão 3, São Paulo - SP
Entrada gratuita
Mais informações sobre a Marco Zero:
(81) 98262-3393 | www.galeriamarcozero.com | @galeriamarcozero
Assessoria