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Legado do argentino Tulio Carella 65 anos após sua passagem pelo Recife, é tema de debate no Centro Cultural Benfica

O argentino Tulio Carella (1912-1979) chegou ao Recife em 1960, a convite de Hermilo Borba Filho, para ensinar no curso de teatro da Escola de Belas Artes. No centro da cidade, onde viveu, o intelectual experienciou a capital pernambucana em todas as suas contradições, das belezas às desigualdades sociais, e se lançou em aventuras amorosas e sexuais, principalmente com homens, registradas em diários posteriormente publicados no livro “Orgia”. Para rememorar a importância da passagem do escritor por Pernambuco, foi idealizado o encontro “Entre a cidade e o desejo: Tulio Carella no Recife, 65 anos depois”, no dia 27 de setembro, às 14h, no Centro Cultural Benfica.

A conversa conta com as participações de Alexandre Figueirôa, Anco Márcio Tenório Vieira, Felipe Gonçalves, Márcio Bastos, Moacir Japearson, Renata Pimentel e Rodrigo Dourado e abordará literatura, história, memória, teatro, questões LGBTQIAPN+, entre outros assuntos atravessados pela produção artística, intelectual e pelas vivências de Carella. O local onde o encontro será realizado também evoca a memória de Tulio, pois pertence à Universidade Federal de Pernambuco e abrigava a Escola de Música, parte da Escola de Belas Artes, onde Carella lecionou, cuja sede ficava no prédio em frente, onde atualmente está a Facepe.

A produção artística de Tulio Carella foi intensa e inclui ainda peças, livros de poesia, roteiros de cinema, entre outros, que lhe garantiram um lugar de prestígio na cena artística e cultural de Buenos Aires no seu tempo. O dramaturgo, diretor, pesquisador e poeta foi profundamente afetado por sua estadia no Recife. Além de exercer sua bissexualidade de forma intensa, também abriu novas percepções sobre a cultura e a própria geografia e dinâmica da cidade, registradas tanto em “Orgia” (1968) quanto no livro de poemas “Roteiro Recifense” (1966), ambos publicados pelo amigo Hermilo Borba Filho.

Tulio Carella viveu no Recife entre 1960 e 1961, período de grande agitação política no estado e no Brasil. Sua passagem foi bruscamente interrompida quando foi preso pelas autoridades locais, sob suspeita de pertencer a organizações de esquerda. Preso em Fernando de Noronha, foi demitido da universidade e retornou à Argentina. Com a publicação de “Orgia” no Brasil, em 1968, gera um escândalo na sua terra natal e entra em um ostracismo cada vez maior. A obra é atualmente considerada um marco na literatura LGBTQIAPN+ da América Latina.

Em 2011, “Orgia” ganhou nova edição no Brasil, pela editora Opera Prima, e, recentemente, o pesquisador e escritor Álvaro Machado lançou a biografia “Orgia e compadrio: Tulio Carella, drama e revolução na América Latina”, pela Cosac. Em agosto, “Orgia” foi lançado na Argentina, em sua primeira versão em espanhol.

O encontro tem apoio da Universidade Federal de Pernambuco, por meio da Superintendência de Cultura (Supercult), Centro Cultural Benfica e IAC - Instituto de Arte Contemporânea.

Jane’s Walk Recife:

Além da conversa, o legado de Tulio Carella também será celebrado com uma edição especial da Jane’s Walk Recife, no domingo (28), às 8h30. Com saída do Terminal do Cais de Santa Rita, a caminhada percorrerá locais do centro da cidade que marcaram as vivências de Tulio Carella pela capital pernambucana. O percurso termina no Cinema São Luiz, às 12h, onde será exibido o curta-metragem “Vagalumes”, de Leo Bittencourt.

A participação é espontânea e o percurso pode ser conferido no Instagram do projeto (@janeswalkrecife).



Serviço:

Roda de diálogo "Entre a cidade e o desejo: Tulio Carella no Recife, 65 anos depois"

Local: Centro Cultural Benfica (Rua Benfica, 157, Madalena)

Data: 27/09 (sábado)

Horário: 14h

Entrada gratuita

Fonte: Assessoria