Ufal fará entrega do título de Doutora Honoris Causa a Mãe Mirian na próxima 5ª

Dona de voz mansa e atenciosa com quem a cerca; possui uma luz própria que se destaca em multidões. Assim é Mírian Araújo Souza Melo, conhecida como Mãe Mirian, uma das maiores propagadoras da cultura e da religião afro-brasileira, que será homenageada com o título de Doutora Honoris Causa, concedido pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal), em cerimônia do Conselho Universitário, que acontece na próxima quinta-feira (28), durante o evento Pretas na Ciência.
Esta é uma das mais altas honrarias acadêmicas e agracia personalidades que se destacam por suas contribuições relevantes à sociedade. A escolha de Mãe Mirian é um reconhecimento à sua incansável luta antirracista, à defesa incessante das religiões de matriz africana e à preservação de saberes ancestrais que atravessam gerações.
Aos 91 anos, Mãe Mirian conta que vivencia sua mediunidade desde criança, mas que foi negada e ignorada por sua família. Até que, aos 12 anos, em uma fuga para a Praia da Avenida, onde fora resgatada por populares, sua mãe a levou a um centro afro-espírita. E foi lá que a menina, julgada rebelde, foi trabalhando sua vocação e se tornando uma das mais respeitadas referências de sua religião.
"Quando eu entrei na religião - eu era católica, minha família toda - eu entrei por motivos de estar recebendo obsessores. E na época, o candomblé era muito perseguido pela polícia, havia muita violência. E com a luta, hoje em dia, dos nossos grupos e movimentos, a religião está sendo reconhecida. Ainda não é o que nós merecemos, porque vai ser difícil, porque isso é um problema do início do mundo", contou.
Reconhecida como grande sacerdotisa da Nação Jejê Mina Popô, em 2012, Mãe Mirian foi escolhida para representar as casas, os terreiros e todos aqueles de religião de matriz africana no pedido de perdão realizado pelo governo de Alagoas pela “Quebra do Xangô”, episódio histórico ocorrido 100 anos antes, em que casas de candomblé e umbanda foram violentamente destruídas, e que resultou na morte de Tia Marcelina, a mais conhecida mãe de santo da época.
Em 2021, Mãe Mirian foi agraciada com o título de Patrimônio Vivo do Estado, pela sua dedicação e história. E é a madrinha da 11ª edição da Bienal Internacional do Livro de Alagoas, que tem como tema Brasil e África ligados culturalmente em seus ritos e raízes.
Com uma trajetória marcada pela resistência e pela valorização das raízes afro-brasileiras, Mãe Mirian fez de sua vivência um instrumento de transformação social, promovendo o respeito à diversidade religiosa e étnica. Seu legado transcende os limites do terreiro e ecoa como voz ativa na construção de uma sociedade mais justa e plural.
A entrega do título acontecerá na quinta-feira (28), no auditório da Reitoria da Ufal, a partir das 18h. A entrada é livre ao público.
Pretas nas Ciências
A entrega do título faz parte da programação do evento Pretas nas Ciências. Essa é a segunda edição do evento, que reconhece e celebra a trajetória ancestral, social, espiritual e intelectual de mulheres negras como ciência viva, e representa resistência em forma de cuidado, força e sabedoria.
Com o tema Ancestralidade, Política e Futuro, o evento acontecerá nos dias 28 e 29 de agosto de 2025, nos campi da Ufal e do Instituto Federal de Alagoas (Ifal), em Maceió. A programação contempla a conferência de abertura com a professora Jamile Borges, coordenadora do Centro de Estudos Afro-Orientais (Ceao) da Universidade Federal da Bahia (Ufba). Ela discutirá conhecimento, ancestralidade e protagonismo das mulheres negras na produção científica.
Também serão realizadas nove oficinas sobre fotografia, dança, religião, educação, saberes ancestrais e moda. Além disso, o evento também terá mesas-redondas, exposição fotográfica, feira de expositores e apresentações artístico-culturais.
Para se inscrever em uma das oficinas, acesse este link. Mais informações no Instagram @pretasnasciencias

Asom Ufal