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Fios e desafios da Atenção Terciária de Saúde do Amazonas

Francisco Araújo Filho (*)

As distâncias geográficas gigantescas que caracterizam o interior do Amazonas dificultam sobremaneira o acesso aos recursos oferecidos pelo estado, especialmente no que diz respeito à área da saúde. Rios, florestas, entre outros obstáculos naturais, muitas vezes complicam o deslocamento da população para centros com serviços terciários. O resultado disso é uma demanda reprimida de consultas, procedimentos e cirurgias eletivas. Ou seja, o que se observa, hoje, no cenário do sistema de saúde do estado do Amazonas é um acúmulo de casos que necessitam de alta complexidade, mas que não estão sendo atendidos na celeridade que deveriam.

Há uma sobrecarga nos prontos-socorros de alta complexidade, com atendimentos que poderiam ser resolvidos em níveis de menor complexidade. Em outras palavras, e para que se tenha um melhor entendimento do problema, casos que poderiam facilmente ser resolvidos em âmbito local, em uma unidade de atendimento básico, acabam “subindo” para hospitais terciários do estado – onde deveriam ser realizados apenas os procedimentos de grande porte e de alta complexidade, como os tratamentos que exigem tecnologia avançada e alto nível de especialização (tratamentos oncológicos, cirurgias de alto risco, transplantes, entre outros), que são encaminhados por unidades de nível de atendimento mais básico.

Essa é uma cadeia que, se mantida desde a base até a ponta, não tem como não funcionar. Mas um conjunto de coisas, como os recursos financeiros limitados, a infraestrutura inadequada, em alguns locais, e a desigualdade entre a capital e os municípios do interior do estado, compõe a raiz dessa problemática.

De acordo com os dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde – CNES, em abril de 2021, o estado do Amazonas tinha 615 leitos de UTI, sendo 483 para pacientes adultos, 61 pediátricos e 71 neonatais. Mas, mesmo com uma grande ampliação de leitos, realizada nos últimos cinco anos, o sistema de saúde desse estado continua enfrentando dificuldades.

O momento trouxe, no bojo da busca de soluções, a entrada das organizações sociais como estratégia de agilidade e avanços para a população. Algumas unidades da federação, como Santa Catarina e Goiás, deram esse passo, alguns anos atrás, obtendo um resultado relativamente positivo. No entanto, continuo a defender que o fortalecimento da Atenção Primária seja a grande estratégia, no presente e no futuro, para equacionar um desafio não só do estado do Amazonas, mas do nosso país como um todo.

(*) É especialista em Gestão e Sistema de Saúde