Por Rodrigo Alves de Carvalho (*)
Desde pequeno, nas aulas de educação artística no primário, sempre gostei de desenhar, e modéstia à parte, sempre desenhei muito bem.
No começo, desenhava casinhas, estrelas, flores..., mas o que mais chamava atenção dos professores era a facilidade que tinha em desenhar pessoas. Claro que, não eram perfeitos, porém, ao se comparar com os desenhos grosseiros, ou apenas tracinhos representando os corpinhos desenhados pelos coleguinhas, meus desenhos, com corpos bem definidos, braços, pernas, e principalmente, cabeças muito bem estruturadas, com os olhos, orelhas, cabelos, e o mais complicado, narizes muito bem detalhados, estavam muito à frente dos outros alunos naqueles primeiros anos de escola.
Quando já estava no colégio, meus desenhos chamavam tanto a atenção que por várias vezes ganhei concursos de desenho na cidade e na região, inclusive, cheguei a ser convidado para fazer estágio em uma conceituada editora de quadrinhos internacional. O qual meus pais não me deixaram ir, ao alegarem que era preciso que eu terminasse os estudos primeiro, mais tarde, acabei desistindo dessa ideia.
Com o passar dos anos, aperfeiçoei meu traço, tornando meus desenhos cada vez mais, com aspecto real.
E então, numa noite em que estava sem muito o que fazer, apanhei uma folha de papel sulfite e resolvi caprichar no desenho de um homem.
Me inspirei em mim mesmo, sendo muito semelhante às minhas características físicas, mesmo cabelo, mesmos detalhes no rosto alongado e um corpo esguio e magro. Aproveitei o momento, e desenhei ao seu redor todo um cenário bucólico em uma bela paisagem, com montanhas, árvores, alguns animais e um riacho borbulhante.
Após dar uma pausa para preparar uma xícara de chá, e retornar ao desenho, para meu espanto, o homem que acabara de desenhar não estava mais no papel. Todo o cenário permanecia no mesmo lugar, mas o personagem inspirado em mim, havia desaparecido.
Depois de muito analisar a folha de papel sulfite, pude observar que atrás de uma das árvores, algo se movia.
Incrédulo, joguei a folha sobre a prancheta, e aos poucos testemunhei algo inacreditável, o homem que eu havia desenhado tinha ganhado vida!
— Coisa chata esse lugar! Acabei de ser desenhado e já estou entediado!
O homem falava! E pior que isso, ele era um reclamão!
— Cara, desenha aí pra mim um videogame, uma televisão. Alguma coisa para eu fazer nesse lugar.
E então, para agradar minha criação, decidi fazer uma surpresa, e desenhei uma linda mulher.
Por um breve período de tempo, meu desenho ficou satisfeito com sua companhia. Caminhavam juntos pelos vales, se amavam debaixo das árvores...
Mas, logo os dois começaram a me pedir para desenhar outas coisas, como carros importados, viagens, casas na praia...
E a partir de então, tranquei meu desenho dentro de uma gaveta em minha mesa do computador, e somente de vez em quando dou uma olhada para ver como estão se virando.
Entretanto, logo fecho a gaveta e deixo para lá, ao ouvir suas reclamações infinitas e seus pedidos para que eu desenhe outras futilidades para bem viverem naquele mundinho em uma folha de sulfite.
(*) Nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta possui diversos prêmios literários em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2022 relançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela editora Clube de Autores, disponível na Amazon, Americanas.com, Estante Virtual e Submarino.
(82) 996302401 (Redação) - Comercial: [email protected]
© 2024 Portal AL1 - Todos os direitos reservados.