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27/09/2019 às 14:41

O mundo é a nossa casa; a única que verdadeiramente conhecemos

Sandro Melros -  é advogado e professor
Instagram:@sandromelros
@lugares_da_literatura

Nós crescemos com tantas certezas sobre como viveremos neste universo físico e que, logo depois, para muitas crenças, teremos outra morada. Em geral, isso nos conforta e faz com que amenizemos os impactos – dificuldades – que atravessam nossa existência ao longo das nossas experiências no mundo. O fato é que esses dogmas nos conduzem a criar expectativas. Permitem, inclusive, que nos aproximemos do “Excelso”com maior intimidade. O sobre-humano faz-se presente na vida daqueles que precisam de uma referência mais venturosa, particularmente, mais justa.

Às vezes, dá impressão de que mais importante que coexistirmos nesse mundo físico, prioriza-se a vida depois daqui. Então, por que as pessoas têm tanta ansiedade em viver aquilo que não conhecem ainda? Por que elas não têm um apreço maior pelo único lugar que sabem existir? Na verdade, os problemas da vida são de grandes dimensões ao ponto de desejarmos que haja outro espaço mais fácil e mais acolhedor de modo a exercermos, com tranquilidade, nossa vida. Assim, formamos uma opinião coletiva em razão de haver um ambiente puro – em outro nível de humanidade - que nos acolherá, nos protegerá, nos proporcionará infindáveis dias felizes.

Não há nada de negativo nesse sentimento. O fato é que deixamos de vivenciar as experiências mais próximas, de modo a considerar a hipótese de torná-las mais amenas entre nós. Não existe, no mundo, um só indivíduo que consiga a felicidade plena. Aliás, quando refletimos sobre isso, acolhemos a crença de que as alegrias aconteçam em um recinto onde a riqueza, abundância de dinheiro e tesouros infindáveis façam-se presentes. Se fosse essa a lógica, muitas desventuras seriam sanadas na vida daqueles afortunados. Não há essa garantia, todavia. A incompletude da vida faz parte da essência em ser humano. Nasce-se desse jeito: sem garantias, sem mapas da felicidade. Não se tem completamente o que se deseja de modo fervoroso, quais sejam todos os instantes de integral contentamento.

Longe de ser uma alegoria do conformismo, gostaríamos aqui de tratar sobre essa existência que conhecemos e que somente alcançamos soluções melhores quando se há um esforço coletivo por nos entendermos melhor. Compreendermo-nos em ação com o outro, de forma tal que possamo-nos ver em santidade nesta vida. Dir-se-á algo impossível – até mesmo utópico - tendo em vista que a lógica insofismável que teima em se apresentar: cada um por si e todos se confrontando por um espaço melhor no mundo. Egoísmo não deveria ser a palavra escolhida nessa vida com o propósito de evidenciar um conjunto de indivíduos que se arvoram civilizados, racionalizando atitudes, comandando decisões. Nessa medida, a arrogância é uma herança maldita que se acolhe enquanto se encontram privilegiados e se aceita por aqueles que são desprestigiados.

Apressemo-nos para viver, desejosos de tempos melhores, mesmo que não sirvam exatamente a nós, mas principalmente que promova outros num cenário mais favorável de existência. Vivamos várias vidas por dia, entendendo que algumas serão mais célebres que outras; percebendo que, se são sofríveis – e são mesmo – há como partilharmos, a fim de que os pesos dos contratempos nos ocorram numa carga menor. Por isso mesmo nossa existência em comunidade. Claro que muitos dirão que a dialética capitalista não admitirá essa condição. Parece-nos, desta feita, que precisamos mudar esse estado de coisas, tentando ver além do desprezível “metal”. O contrário disso é não nos permitirmos existir de modo digno nesse nosso ambiente terreno. 

Não desejamos findar as expectativas com o “Sagrado”. Ele será a segurança dos que creem firmemente na bondade etérea, na vida em perfeita harmonia, num mundo sem dores, cujo valor maior é o amor. Apenas pensamos em compartilhar palavras de gratidão. Portanto, àqueles que prezam pelo “Eterno” em suas vidas, há que se aprender um pouco com Fernando Pessoa ao perceberem o inusitado em ter uma história confirmada na singeleza cotidiana, na beleza proporcionada pela natureza, enfim, nas sutilezas percebidas em pequenos atos, quando o escritor português anuncia que às vezes ouvimos passar o vento; e só de ouvirmos o vento passar, vale a pena termos nascido.

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