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07/11/2019 às 12:13

Mudança, um jargão surrado e vazio

*Karin Koshima

Analista política e de mercado. Atuou na parte estratégica em todas as eleições nos últimos 20 anos. Diretora Executiva da Recomenda Pesquisas & Consultoria – especialista no comportamento do consumidor, eleitor e posicionamento de marcas e candidaturas. Se formou em psicologia na UFBA, é psicanalista,  com especialização em Psicologia pela USP (São Paulo), também Mestre em políticas públicas pela Universidade Federal da Bahia. 

O conceito de mudança está presente em toda campanha eleitoral.Candidato de oposição é sempre o candidato da mudança; candidato da situação foi o candidato da mudança um dia. A mesma “mudança” que o elegeu é a que o ameaça na eleição seguinte. 

Só que, ao pesquisarmos a percepção do eleitor, vamos sempre ouvir que nada mudou e que nada nunca muda, na verdade. É por isso que, contraditoriamente, o conceito se repete, alimentando uma falsa expectativa e levando sempre às mesmas frustrações. O cerne do problema está no fato de que para a massa de eleitores, mudança se mantém ligada à questões operacionais, apenas. Perguntado sobre o que significa mudança, o eleitor mais simples responderá que é “parar de roubar” e “olhar para os mais necessitados”. 

Convenhamos que, para uma república que vai completar 130 anos, é incrível que a expectativa se mantenha tão rasa, associada apenas às consequências e não às causas das distorções sociopolíticas. As razões dessa pobreza de avaliação são diversas mas duas parecem ser as mais evidentes: as repetidas más experiências do eleitor com as candidaturas vitoriosas e a sua absoluta falta de cultura geral, que impede que ele perceba a ideia de mudança atrelada a contextos históricos, geográficos e filosóficos e que compreenda que as transformações são bem mais do que produtos de resultados de eleições, mas de uma mobilização social permanente guiada pelo conhecimento. Essa ignorância a respeito do encadeamento dos fatos no tempo e no espaço acaba justificando uma baixa qualidade na oferta de candidaturas. 

Se o padrão de exigência do eleitor repousa numa objetividade simplória, serão raríssimos os candidatos preocupados com uma formação que sustente um discurso consistente, responsável e crível. A maioria dos políticos simplesmente não sente falta dela, preferindo repetir a ladainha de sempre. 

Infelizmente, sustentar o discurso de campanha num ideário de qualidade e que guiará uma gestão eficaz, ainda parece utopia para os padrões eleitorais e de governança pública no Brasil. Um sopro de esperança, no entanto, vem do movimento de algumas lideranças da sociedade, focado na criação de ambientes voltados para a formação de quadros capazes de promover uma renovação política. Uma iniciativa louvável, sem dúvida, e que já tem seus representes no Congresso e em alguns cargos executivos. Mas que não vai funcionar se não for acompanhada de um investimento pesado na Educação do povo brasileiro. É a capacitação intelectual do eleitor para o exercício de escolhas criteriosas o que vai promover uma verdadeira mudança no país. E permitir que se enterre de uma vez esse jargão eleitoreiro surrado, que trata de uma mudança que nunca mudou nada.


Artigo originalmente publicado no Jornal A Tarde


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