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O sete ciências de Anadia

Sabino Fidélis de Moura (*)

Qual canto é mais expressivo, o que brota da voz ou o do coração? Tenho guardado em mim as canções que a vida me ensinou - Traduzir-se, de Ferreira Gullar que proclama: "Uma parte de mim é todo mundo; outra parte é ninguém: fundo sem fundo. Uma parte de mim é multidão: outra parte estranheza e solidão. Uma parte de mim pesa, pondera; outra parte delira".

Talvez seja a que mais se aproxima do momento vivido ao cruzar as portas da Escola Rui Barbosa no sábado, 3 de dezembro de 2016. São tantas as lembranças presas na memória, são vívidos momentos em minha alma encravados... Contido pela regra que o cerimonial requer para uma solenidade com a presença de autoridades: governador do Estado, vice-governador e secretário de Educação, prefeito, vereadores, direção da escola, funcionários, ex-diretores, alunos e ex-alunos. Ah! Mas quebrei protocolo e pedi vênia ao vice-governador Luciano Barbosa para fazer uso da palavra... 

Nada comum para quem me conhece. Talvez legitimado pela condição de ex-aluno - fiz meu curso primário por completo no Grupo Escolar Rui Barbosa e, por ainda ter sido eleito presidente do seu grêmio estudantil, ter dançado no Guerreiro do Rui Barbosa e conseguido os recursos para a compra da sua única banda fanfarra... 

Perdeu-se no tempo momentos inesquecíveis, lembro um a um dos mesmo colegas de bancas de tiras da escola... Eternizadas estão as minhas queridas professoras: Denilde Palmeira, Genilda Messias, Maria Barros, Shirley Cavalcante e Bernadete Claudino... Gratidão é a palavra mas adequada para o momento e aproveitando estendo ao gesto do governador Renan Filho e vice Luciano Barbosa em propiciarem a reforma do que chamo de berço da formação cultural dos anadienses. 

Já fazia tempo que a Escola Estadual Rui Barbosa tinha passado por uma reforma - a última foi há exatamente 12 anos, no momento em que tive a honra de exercer o cargo de secretário de estado - e fui defensor ferrenho da mesma. A Escola Rui Barbosa traz consigo um linda história desde o seu nascedouro - onde a contribuição dos ilustres João Sapucaia de Araújo, Manoel Domingos Souto e tantos outros homens e mulheres de bem deram sua valiosa contribuição para a edificação e somaram para a realização da escola do saber. 

Não dá pra esquecer um período negro que a Escola Rui Barbosa passou - no ano de 1999, quando esteve para fechar suas portas por falta de professores. Um momento muito triste. Mas naquele momento tive a feliz ideia de convidar os meus amigos Daniel Pinto, Dra Ana Arcanjo, Dr. Fernando Pedrosa para de forma voluntária lecionar e evitar que as turmas de 1, 2 e 3 ano científico perdessem o ano letivo. 

Me juntei a eles e tive a mais vibrante experiência - a de lecionar por um ano, para os jovens da cidade que nasci, e por que sou apaixonado. De A a Z em todos os seguimentos das formações acadêmicas e da cidadania, espalhadas pelo mundo a fora estão ex-alunos do Rui Barbosa... Trilhando caminhos próprios, mas com o traço característico do saber bebido na fonte da Escola Rui Barbosa! Ah! E o sete ciências de Anadia?

Ouvi esse expressão justamente nas bancas do Rui Barbosa. As mestras queridas faziam questão de elogiar nas aulas os que se destacavam na leitura, na matemática, na tabuada, na geografia, na caligrafia... Nos corredores, no pátio da escola, na fila pra cantar o hino... O buxixo, o burburinho: "Fulano é um sete ciências". Apesar de ter passado pela bancas do Rui Barbosa, eu só consegui ter a posse de uma ciência - a de ser apaixonado por Anadia! Mas confesso, a Escola Rui Barbosa continua produzindo muitos Sete Ciências. Viva o Rui Barbosa! 

(*) É filho de Anadia e ex-secretário de Estado