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Maceió/Al, 26 de abril de 2024

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04/04/2022 às 13:50

Crônica: Pagode no vizinho

Rodrigo Alves de Carvalho (*)

­­— Descansou no sábado? Você disse que ficaria em casa para dormir cedo. 

— Não consegui dormir por causa do pagode. 

— Sabia que você partiria pra noitada! Seu sangue baladeiro não nega... 

— Nada disso. Meu vizinho resolveu fazer uma festa em sua casa neste sábado e o pagode rolou solto. 

— Pagode no vizinho? Você foi, é claro. 

— Claro que não. Mesmo sendo o único vizinho lá no meu bairro, eu estava decidido a não sair de casa. Inclusive não me aguentava de sono. 

— Mas até que horas foi esse pagodão? 

— Já era quase uma hora da madrugada. Eu sei que não teria ninguém para reclamar, exceto eu, mas a barulheira parecia não ter fim. As pessoas falavam alto, gritavam, cantavam, bebiam... 

— E você enfurnado na cama? Não é possível! 

— Estou falando sério. Foi então que não aguentei mais e liguei pra polícia. 

— Tá brincando! Você ligou pra polícia? 

— Liguei. Falei que era tarde e o som alto da festa estava me incomodando. 

— Mas o vizinho iria saber que foi você. Já que é o único vizinho dele. 

— Mas o que eu podia fazer? Estava com muito sono e só queria dormir. 

— E o que aconteceu? 

— A polícia chegou e o pessoal abaixou o volume do som. 

— Beleza. Aí você pode dormir. 

— Que nada. Foi só o carro da polícia ir embora e virar a esquina e o som voltou ao volume máximo. 

— Caramba! E o que você fez? 

— Liguei pra polícia de novo e falei que o pessoal estava desrespeitando a autoridade policial e mais coisas para colocar fogo na situação. 

— E aí? 

— A polícia voltou e chegou dispersando todo mundo. 

— Finalmente! Só então você pode dormir. Não foi? 

— Pior que não. Com tanta agitação e curiosidade para saber o que iria acontecer e com aquela adrenalina toda, acabei perdendo o sono. Fiquei tentando dormir por um tempo, assisti TV, li jornal e nada. Então decidi sair de casa para dar uma volta de carro para ver se o sono voltava. 

— E o sono voltou? 

— Voltou. Só que quando fui dormir já era sete horas da manhã. 

— Por quê? Onde você foi? 

— Coincidentemente também estava rolando um pagode no clube da cidade. E aí você sabe... o sangue baladeiro falou mais alto... 

(*) Nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta possui diversos prêmios literários em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2018 lançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela editora Clube de Autores.


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