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Maceió/Al, 26 de abril de 2024

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18/04/2022 às 15:25

Crônica: O modismo e o mendigo

Por Rodrigo Alves de Carvalho (*)

O modismo realmente é uma coisa que contagia muita gente. Basta um tipo de vestimenta, uma gíria, um produto, um estilo, um gênero musical ou musiquinha chiclete. Qualquer coisa que cause um impacto momentâneo e que o pessoal ache “maneiro” e pronto! 

Todo mundo quer fazer igual. 

Desde muito tempo atrás o modismo funciona assim: alguém faz alguma coisa que outras pessoas acham maneiro, todos fazem igual por um período de tempo; outro modismo chega, e todos esquecem o antigo modismo. 

O problema é quando alguém acaba perdendo a noção da realidade, se deixando levar por um modismo. E foi o que aconteceu com o Abelardo. 

O homem sempre foi um sujeito muito sugestionável, era só ver as pessoas fazendo coisas iguais, que também queria fazer. Passou a usar roupas da mesma marca das pessoas que via na rua, consumia todos os produtos que via nos comercias da TV, mesmo que detestasse alguns deles. Cortou o cabelo de vários estilos, deixou a barba crescer quando o galã da novela das nove tinha barba e a barba voltou às ruas, depois raspou a barba e deixou só o bigode, quando a novela acabou, e na outra, o galã era bigodudo. Cantou a música “Morango do Nordeste”, “Florentina” e “Caneta Azul” ... 

Enfim, Abelardo acabou não tendo seu próprio estilo e seus próprios gostos, ele passou a viver sua vida em função dos estilos e gostos dos outros e de tudo o que assistia na televisão e posteriormente, na Internet. Por isso, aos 58 anos de idade, Abelardo se tornara um homem triste e solitário, nenhuma mulher queria um sujeito que não possuía personalidade própria. 

Foi então que Abelardo viu na TV e redes sociais, a história de um mendigo que havia “conquistado” uma garota linda e se gabava, em suas entrevistas, que tratava as mulheres bem, e que isso o fazia desejável.

Abelardo imediatamente doou todos os seus bens, se desfez de suas roupas, ficando apenas com as que estava no corpo e foi morar nas ruas, como mendigo, pedindo dinheiro e aguardando conhecer seu grande amor. 

Hoje, Abelardo faz ponto próximo a um semáforo do centro. Começou a beber e não toma banho. Com isso, claro que não conseguiu conquistar mulher alguma.

Pelo menos, parou de seguir modismos, porque não acompanha mais TV e muito menos redes sociais. 


(*) Nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta possui diversos prêmios literários em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2018 lançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela editora Clube de Autores. 


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