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Maceió/Al, 18 de abril de 2024

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06/07/2020 às 14:41

Crônica: A água doce que queria ser mar

Rodrigo Alves de Carvalho (*)

Apenas dois homens conseguiram sobreviver ao terrível naufrágio em algum lugar na costa Asiática.

Após agarrarem uma boia salva-vidas foram nadando pelo mar um dia inteiro até conseguirem chegar a uma ilha deserta. Estavam na ilha há mais de uma semana à base de peixes e água de coco, pois não havia água potável no lugar. Foi aí que avistaram uma garrafinha boiando próximo às pedras, ao apanharem a garrafa plástica constataram ser água mineral.

Os dois homens ficaram num dilema para decidirem como iriam dividir aquela água, se beberiam um gole cada um alternadamente, se um tomaria a metade e depois o outro ou somente um deles beberia a água.

Sem uma resolução pacífica, os dois acabaram se atracando e o mais forte jogou a garrafinha d’água no mar. O outro caiu na água e foi nadando para alcançá-la, mas a maré estava forte e ele morreu afogado. Já o outro sobrevivente não aguentou muito tempo e também morreu na ilha.

Enquanto isso, a garrafinha d’água boiava sem rumo certo na imensidão do oceano.

- Quem é você?

Perguntou as gotinhas da água do mar à viajante enclausurada.

- Sou água doce de uma mina francesa. E vocês quem são?

- Somos a água do mar. Já fomos água doce como você, mas quando nos juntamos às nossas irmãs salgadas nos tornamos uma só família.

- Que legal! Eu também quero ser água salgada do mar, mas não consigo sair dessa garrafa!

- Que pena. Aqui é tão legal. Conhecemos um mundo incrível, as profundezas do oceano, peixes maravilhosos e ao mesmo tempo esquisitos e viajamos por vários países e continentes.

A água doce ouvia encantada todas as histórias que a água do mar lhe contava e sonhava em fazer parte daquele mundo de liberdade. Entretanto, presa naquela garrafa a única coisa a fazer era esperar o que iria acontecer.

Viajou por quase dois meses, pegou tempestades e sol forte, conheceu inúmeros peixes, baleias, golfinhos, pássaros e cada vez mais a água doce da garrafinha queria se libertar e se tornar como suas irmãs salgadas.

Numa tarde ensolarada a garrafinha d’água chega a um pequeno porto numa cidadezinha da indonésia. Um pescador barbudo e bastante rude encontra a garrafa boiando e a apanha.

A água doce se anima quando o pescador abre a garrafa. Ela imagina que o homem iria jogá-la no mar.

Mas o destino é outro e após cheirar o líquido, o pescador bebe a água em uma só golada.

Pobre água doce ao invés de conhecer o mar acabou conhecendo o interior daquele homem e no caminho até a bexiga perdeu algumas propriedades e ganhou outras.

Horas mais tarde ela percebe que algo iria acontecer e sem que esperasse é arremessada para fora em direção ao mar.

- Finalmente! Exclamou a água que outrora vivia na garrafa.

- Finalmente me encontrei com vocês minhas irmãs água salgada do mar e agora poderemos nos juntar como uma família...

A água salgada do mar respondeu secamente:

- Saí pra lá urina nojenta!

(*) Nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta possui diversos prêmios literários em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2018 lançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela editora Clube de Autores.


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