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Maceió/Al, 24 de abril de 2024

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25/01/2021 às 16:32

Crônica: Guerra de Pipas

Rodrigo Alves de Carvalho (*)

Nas férias escolares do final e meio do ano a cidade se transformava num grande campo de batalha. Cada bairro era palco de cruéis guerras de pipas que aconteciam nos céus daqueles saudosos anos oitenta. 

Não se tratava apenas de empinar pipa e sim ter conhecimentos técnicos, táticos e estratégias para ser um grande combatente naquelas pelejas inesquecíveis. 

Era preciso saber fazer uma boa pipa que debicasse para os dois lados e mergulhasse quase a tocar o chão e subir rapidamente como um raio. Era preciso saber fazer um cortante extremamente fino e eficiente (lembrando que hoje em dia o cerol é proibido) e por último, saber o momento certo de atacar a pipa oponente, o segundo exato do bote e a agilidade quando as linhas se cruzavam. 

No meu bairro existiam soldados respeitados, verdadeiros ases do céu que impunham respeito e amedrontavam o resto da molecada. 

Eu e meus irmãos nunca fomos ases do céu, mas cortamos muitas pipas dos vizinhos e moleques menos experientes. 

Porém, os grandes embates entre os bambambãs das pipas começavam quando um deles alçava voo com sua pipa multicolorida e pouco depois em outra rua o outro soltador também colocava sua arma no céu. 

A molecada logo se assanhava e os pescoços virados para cima era sinal de que um combate aconteceria. 

- Vem buscar! Vem buscar! 

Gritava o piloto que estava contra o vento e como um avião kamikaze o oponente soltava linha, debicava de um lado, debicava do outro e em poucos minutos estavam lado a lado para as vias de fato. 

O balé começava e pipas, linhas e rabiolas dançavam uma dança macabra, até que uma das pipas mergulhava sobre a outra, as linhas se cruzavam e o trágico final acontecia quando uma das pipas era arrancada de seu cordão umbilical e ficava flutuando no ar, caindo devagar em piruetas lentas até o chão. 

Naquele momento acontecia o arrastão.  

Pulavam muro, passavam por baixo de cercas, corriam sobre telhados. A molecada do bairro que acompanhava o duelo saia em disparada para capturarem a pipa alvejada que já não possuía mais dono.  

Quem pegasse ficava com ela.  

Essa era a lei das pipas... 

A não ser que o verdadeiro dono da pipa fosse muito maior que você. Aí era obrigado a devolver. 

(*) Nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta possui diversos prêmios literários em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2018 lançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela editora Clube de Autores. 


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