O papel da mulher na construção civil no Brasil, especialmente em São Paulo, é uma questão de crescente relevância e transformação. Tradicionalmente, a construção civil foi um setor predominantemente masculino, caracterizado por preconceitos e estereótipos que dificultavam a inclusão das mulheres. No entanto, nas últimas décadas, houve uma evolução significativa no papel das mulheres nesse campo, refletindo mudanças sociais e políticas mais amplas.
Historicamente, a construção civil no Brasil era vista como uma ocupação para homens devido às demandas físicas do trabalho e às normas culturais que restringiam as mulheres a papéis domésticos ou administrativos. A presença feminina nos canteiros de obras era praticamente inexistente até meados do século XX. No entanto, a partir dos anos 1980, com a intensificação das lutas feministas e a crescente demanda por igualdade de gênero, começaram a surgir iniciativas para incluir mais mulheres no setor.
Segundo informações do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), no Brasil, mais de 200 mil mulheres já atuam na construção civil, um mercado que cresceu 120% entre 2007 e o primeiro semestre de 2018, passando de 109.006 trabalhadoras registradas em 2007, para 239.242 em 2018.
Desafios e Conquistas
A inserção das mulheres na construção civil enfrentou muitos desafios, incluindo discriminação de gênero, assédio no ambiente de trabalho, falta de equipamentos de proteção individual adequados para mulheres e a ausência de políticas de suporte para a maternidade.
Em 1998, Maria Divina foi a primeira mulher diretora de base do Sintracon, nomeada por Ramalho da Construção eleito no mesmo ano, e que fez uma verdadeira revolução no Sintracon – SP, que tem hoje mais duas mulheres na direção.
Ramalho, que é hoje presidente licenciado do sindicato, esclarece que programas de capacitação e políticas públicas voltadas para a inclusão de mulheres na construção civil têm sido implementados, proporcionando treinamento técnico e apoio para que elas possam competir de igual para igual com os homens.
“Mulher em Construção” projeto criado por Bia Kern, em Canoas, uma organização social que, desde 2006, visa a inclusão da mulher periférica no mercado de trabalho da construção civil através da promoção da autonomia, da cidadania e do empoderamento daquelas que se encontram em situação de vulnerabilidade e violência doméstica, é uma iniciativa importante a ser citada.
Em Curitiba, neste ano de 2004, a Chapa “Sintracon na Luta” encabeçada por Maria Neuza Lima de Oliveira, venceu com 95% dos votos, e a baiana Maria Neuza se tornou a primeira mulher a presidir o Sintracon Curitiba, uma instituição de 93 anos de história.
Essas iniciativas ajudaram a aumentar o número de mulheres em diversas funções dentro do setor, desde operárias até engenheiras e arquitetas.
Ramalho comenta que nos canteiros de obras de São Paulo, as mulheres têm desempenhado um papel crucial, desafiando estereótipos e mostrando competência em diversas áreas. Elas atuam como pedreiras, carpinteiras, eletricistas, pintoras e em muitas outras funções. A presença feminina tem contribuído para a diversificação das habilidades e para a melhoria do ambiente de trabalho, promovendo uma cultura de maior respeito e colaboração.
Mulheres engenheiras e arquitetas também estão cada vez mais presentes, liderando projetos e trazendo novas perspectivas para o planejamento e a execução de obras. A sensibilidade para questões de sustentabilidade, acessibilidade e design inclusivo são frequentemente impulsionadas por profissionais mulheres, que estão mudando a face da construção civil.
Impacto Social e Futuro
A inclusão das mulheres na construção civil tem um impacto social significativo. Ela contribui para a redução das desigualdades de gênero, promove a independência econômica e fortalece a posição das mulheres na sociedade. Além disso, a diversidade no ambiente de trabalho pode levar a uma maior inovação e eficiência no setor.
Ramalho enfatiza que o futuro do papel das mulheres na construção civil parece promissor, com um número crescente de mulheres se formando em cursos técnicos e de engenharia, e mais empresas reconhecendo o valor da diversidade de gênero. No entanto, é essencial continuar promovendo políticas de inclusão, combater o preconceito e fornecer suporte adequado para que as mulheres possam prosperar nesse campo.
Dentre as ações para mudar este cenário e tornar a construção civil mais inclusiva e justa, está a divulgação do trabalho com participação feminina, sobretudo com programas de incentivo.
Criar espaços que sejam abertos à capacitação feminina e grupos de trabalho que se comprometam em trabalhar a equidade de gênero ano após ano são soluções permanentes para uma maior empregabilidade de mulheres na construção civil, na arquitetura, no urbanismo e em muitas outras áreas que encaram e ainda irão encarar desigualdade de gênero.
A trajetória das mulheres na construção civil em São Paulo é um reflexo de uma sociedade em mudança, que busca maior igualdade e inclusão. Embora os desafios persistam, as conquistas até agora mostram que as mulheres têm um papel vital a desempenhar na construção do futuro. A valorização do trabalho feminino nesse setor é um passo crucial para uma sociedade mais justa e equitativa.
Fonte: AL9 Comunicação
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