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Maceió/Al, 22 de março de 2025

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13/03/2025 às 19:07

Afastamento recorde por ansiedade, depressão e Sindrome de Burnout - o que está acontecendo nas empresas

Arte: Stephanie Ferreira Arte: Stephanie Ferreira

A sociedade contemporânea, marcada por um ritmo acelerado e mudanças profundas nas percepções de objetivos e propósitos, tem presenciado um aumento de problemas mentais no ambiente corporativo, como ansiedade, depressão e Sindrome de Burnout. Esse cenário impõe desafios às empresas, exigindo uma atenção redobrada aos fatores que influenciam a saúde mental dos colaboradores.

O fato é que o Brasil vive uma grave crise de saúde mental, que tem gerado consequências diretas tanto para trabalhadores quanto para empresas. Dados do Ministério da Previdência Social revelam que, em 2024, o país registrou quase meio milhão de afastamentos por questões de saúde mental, o maior número dos últimos dez anos. Foram 472.328 licenças médicas concedidas, o que representa um aumento de 68% em relação ao ano anterior.

“Essas números alarmantes são reflexos de várias gerações diferentes no mercado de trabalho, a situação e condições de trabalhos atuais, além dos reflexos deixados pela pandemia, que exacerbaram problemas como ansiedade, depressão e Burnout. A crise levou o governo federal a adotar medidas mais rigorosas, incluindo a atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que agora obriga as empresas a fiscalizarem o ambiente de trabalho e pode resultar em multas caso sejam identificados riscos psicossociais, como assédio moral ou metas excessivas”, explica Vicente Beraldi Freitas, médico especializado em psiquiatria da Moema Medicina do Trabalho..

A crise de saúde mental afeta principalmente mulheres, que representam 64% dos afastados, muitas vezes sobrecarregadas por responsabilidades familiares e pressões econômicas. A situação também é agravada pela escassez de diagnósticos de condições como burnout, que não figura entre os afastamentos mais registrados. Além dos impactos individuais, a crise afeta a economia. A OMS estima que transtornos mentais custam US$ 1 trilhão anuais, devido à perda de produtividade. Empresas que não se adaptam ao novo cenário enfrentam não só prejuízos financeiros, mas também uma maior rotatividade de funcionários e queda no desempenho.

“Nos últimos anos, a revolução tecnológica e a crescente digitalização foram intensificadas pela pandemia, além disso se tem o aumento da pressão e das metas dentro das empresas, com isso as frustrações são mais evidentes”, detalha Vicente Beraldi Freitas. Que complementa: "Vivemos em uma realidade onde as pessoas enfrentam dificuldades, como conviver com padrões irreais nas redes sociais e altos anseios, tornando-as mais sensíveis a gatilhos para problemas psiquiátricos."

A mudança no perfil dos problemas de saúde dos trabalhadores é notável. Tatiana Gonçalves, sócia da Moema Medicina do Trabalho, observa que "há 20 anos, os afastamentos eram majoritariamente por acidentes de trabalho e problemas ortopédicos. Hoje, vemos um crescimento exponencial de pacientes com problemas psiquiátricos."

Principais doenças e suas causas

Os transtornos de ansiedade, a depressão e a síndrome de Burnout são doenças psiquiátricas marcadas por uma preocupação constante e excessiva com a possibilidade de eventos negativos.

Contudo, existem diferenças entre elas:

- Burnout: Uma condição caracterizada por exaustão extrema e sentimentos de frustração relacionados ao trabalho. Beraldi enfatiza a necessidade de diagnósticos precisos e acompanhamento por profissionais especializados. A atualização do Ministério da Saúde, que incluiu o Burnout na lista de doenças relacionadas ao trabalho, reforça a importância do reconhecimento dos fatores psicossociais no ambiente corporativo.

- Crise de ansiedade: Caracterizada por uma preocupação constante e excessiva, pode levar a sintomas físicos como falta de ar, sudorese e arritmia. "A ansiedade é uma patologia desencadeada por fatores internos ou externos, exacerbada pela pandemia e a crescente digitalização," explica Vicente Beraldi.

- Depressão: Uma doença crônica e recorrente que causa tristeza profunda e desesperança, afetando a capacidade funcional do indivíduo. É essencial procurar ajuda médica e diferenciar a tristeza patológica daquela transitória, provocada por eventos difíceis da vida.

Dentre as causas desses males estão vários fatores como estresse no trabalho e conflitos relacionados a competências, autonomia, relações com clientes, realização pessoal e falta de apoio social. Além de fatores organizacionais, causados por sobrecarga de trabalho, desalinhamento entre objetivos da empresa e valores pessoais, e isolamento social. Além disso, existem fatores pessoais, com relações familiares e amizades.

NR1 chega para organizar empresas

Para enfrentar essa situação a atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1) entrará em vigor em maio de 2025. Ela exige que as empresas incluam a avaliação dos riscos psicossociais em seus processos de Gestão de Segurança e Saúde no Trabalho (SST). Porém, a mudança vai muito além do cumprimento das exigências legais. As empresas precisam entender que a saúde mental de seus colaboradores é vital para a manutenção do bom ambiente de trabalho e da produtividade.

Os riscos psicossociais, que incluem fatores como sobrecarga de trabalho, assédio moral, pressão por metas excessivas e falta de suporte, são um problema crescente no ambiente de trabalho brasileiro. Esses fatores psicossociais têm causado um aumento expressivo nos casos de afastamento por doenças mentais. Em muitos casos, esses afastamentos tornam-se crônicos, criando um ciclo prejudicial tanto para o colaborador quanto para a organização.

Tatiana Gonçalves, especialista da Moema Medicina do Trabalho, afirma: "A saúde mental dos trabalhadores nunca foi tão crucial para o sucesso das empresas. A mudança nas normas é apenas o começo. O mais importante é que as empresas se conscientizem de que essa é uma questão estratégica para manter seus colaboradores motivados, produtivos e saudáveis. Quando as empresas cuidam do bem-estar psicológico de seus funcionários, o retorno é visível em produtividade, engajamento e, claro, na redução de afastamentos."

Rogério Sudré, diretor administrativo da Confirp Contabilidade, relata: "As áreas de recursos humanos devem estar cada vez mais próximas dos colaboradores, acompanhando desde a contratação e iniciando ações aprofundadas quando necessário."

Vicente Beraldi Freitas sugere medidas para combater esses problemas:

1. Grupos de vivência: Empresas podem criar grupos para lidar com situações e pessoas.

2. Setor de acompanhamento: Desenvolvimento de setores para preparar e acompanhar as equipes.

3. Ambientes colaborativos: Criação de ambientes justos e colaborativos para manter a saúde mental e a qualidade de vida dos colaboradores.

Melhorando o ambiente nas empresas

Viviane Alvarenga Saldanha Meneghello, Diretora de Gente & Gestão na Febrafar e na Farmarcas, corrobora com essas ideias. Mas ele acrescenta que as iniciativas devem ir muito além de ações pontuais, devem ser repensada toda a estrutura da empresa. Ele destaca alguns pontos:

1. Propósito e valores: É fundamental que as equipes compartilhem o propósito e os valores da empresa. Ao selecionar novos membros, buscar pessoas alinhadas com esses princípios para criar um ambiente de trabalho coeso e estimulante.

2. Estrutura e processos maduros: Uma estrutura organizacional madura e processos bem definidos são essenciais para o funcionamento eficiente das equipes. Isso inclui desde o espaço adequado para trabalho até formas de recrutamento e seleção mais assertivas.

3. Benefícios e políticas salariais: Oferecer benefícios atrativos além do salário é crucial. Exemplos são benefícios como licença-maternidade estendida, vale-creche e suporte para filhos com necessidades especiais.

4. Liderança para todos: A liderança deve ser desenvolvida em todos os níveis da organização. Assim se devem identificar talentos e fornecer formação em gestão, criando políticas de educação corporativa com bolsas de estudo e treinamentos.

5. Inovação: Um ambiente propício à inovação deve ser prioridade, com diretrizes estratégicas claras e comunicação aberta entre os colaboradores. Um clima organizacional saudável favorece o surgimento de novas ideias.

6. Endomarketing: Investir em ações de comunicação interna é fundamental, com reconhecimento e promoção do pertencimento à empresa, criando um ambiente de trabalho agradável e motivador.

7. Desenvolvimento contínuo: É preciso promover nas empresas o crescimento profissional dos colaboradores por meio de planos de carreira, educação corporativa e treinamentos, desenvolvendo habilidades técnicas e comportamentais.

De acordo com Viviane, todos esses fatores são interligados e contribuem para a construção de uma equipe equilibrada e de alto desempenho. "Ao garantir um ambiente de trabalho saudável, onde os colaboradores se sintam valorizados e motivados, colhemos resultados positivos. O investimento em cuidado com as pessoas é tangível e imensurável," ressalta.

Empresas que investem na saúde mental de seus colaboradores criam um ciclo positivo de valorização e produtividade. A coerência entre discurso e prática dos valores corporativos, aliada a ações estruturadas e contínuas, é fundamental para um ambiente de trabalho saudável.

Assim, antes que esses males acometam os colaboradores, as empresas têm um papel crucial na revisão das condições de trabalho e na busca por qualidade de vida, garantindo que isso não impacte negativamente os resultados dos negócios.

Evento sobre o tema

O impacto da saúde mental no ambiente de trabalho será o centro das discussões no evento “Saúde Mental no Trabalho em Foco”, promovido pelo Grupo Alliance (Link). O encontro gratuito, voltado para profissionais de Recursos Humanos, gestores, líderes empresariais e especialistas em saúde ocupacional, acontecerá das 9h às 13h na OAB, em São Paulo.

O evento abordará temas cruciais, com destaque para a recente atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que entra em vigor em maio de 2025 e traz novas exigências para a gestão de saúde mental no ambiente de trabalho.

Fonte: Assessoria 

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