Pix Automático estreia no Brasil, mas especialistas alertam: sem educação financeira, ferramenta pode gerar descontrole

Marcello Casal Jr/ABr

A partir do próximo dia 16 de junho, o sistema financeiro brasileiro contará com uma nova funcionalidade: o Pix Automático. A ferramenta, apresentada nesta quarta-feira (4) pelo Banco Central a empresas e instituições financeiras, promete trazer mais praticidade ao dia a dia do consumidor, permitindo pagamentos recorrentes automáticos por meio do Pix — como mensalidades escolares, contas de luz, academias, seguros e serviços de streaming.

A novidade, no entanto, acende um sinal de alerta entre especialistas em finanças pessoais. Segundo Reinaldo Domingos, presidente da Associação Brasileira de Profissionais de Educação Financeira (ABEFIN), apesar dos avanços tecnológicos serem bem-vindos, a população ainda não está preparada para lidar com ferramentas como essa sem antes desenvolver um comportamento financeiro saudável.

“A evolução do sistema financeiro é importante e não podemos criticar o Pix Automático por si só — a funcionalidade é interessante e traz praticidade. Mas ela precisa ser acompanhada de educação financeira. O que preocupa é que avançamos na forma de consumir, mas não oferecemos instrumentos para que as pessoas aprendam a lidar corretamente com o dinheiro”, afirma Domingos.

Segundo ele, o maior risco está no automatismo excessivo, quando o consumidor autoriza cobranças recorrentes sem revisar sua real necessidade ou sem fazer um planejamento financeiro adequado.

“Hoje já vemos isso com débito automático tradicional: muitas pessoas esquecem que autorizaram pagamentos de serviços que não utilizam mais — como academias, escolas, streamings. O valor continua sendo debitado, e a pessoa perde o controle. A tendência é que o Pix Automático repita esse padrão se não houver consciência financeira”, alerta.

Como funciona o Pix Automático

O Pix Automático permitirá que o usuário autorize, apenas uma vez, o pagamento automático de cobranças recorrentes emitidas por empresas. O cliente poderá configurar regras como:

- Valor máximo por cobrança;

- Utilização de saldo ou crédito;

- Cancelamento até às 23h59 do dia anterior ao vencimento, caso identifique alguma divergência.

O sistema também notificará o usuário antes de realizar o pagamento e fará até três tentativas de débito em sete dias, caso a conta esteja sem saldo no dia do vencimento. A ferramenta é gratuita para o consumidor, embora prestadores de serviço possam ser tarifados, conforme o contrato com seus intermediários financeiros.

Diferenças em relação ao débito automático e ao Pix Agendado

Diferente do débito automático tradicional — onde o valor é debitado sem notificação e a gestão é feita exclusivamente pelo banco — o Pix Automático traz mais controle ao usuário, que pode revisar e cancelar pagamentos previamente.

Já em comparação com o Pix Agendado Recorrente, outra função que também permite pagamentos frequentes, a diferença está no tipo de operação: o Agendado é ideal para transferências entre pessoas físicas, como mesadas ou serviços informais, enquanto o Pix Automático é voltado exclusivamente para cobranças emitidas por empresas.

Educação antes da automação

Domingos destaca que o maior erro dos consumidores é adotar novas tecnologias financeiras sem fazer uma análise prévia do orçamento. Ele recomenda uma “faxina financeira” antes de autorizar qualquer pagamento automático.

“Antes de aderir ao Pix Automático, é fundamental analisar se o débito cabe no orçamento e se o serviço contratado ainda faz sentido. Muitas vezes as pessoas se esquecem de revisar os contratos e continuam pagando por algo que não usam”, orienta.

Além disso, ele lembra que há regras importantes a serem observadas: se o valor cobrado ultrapassar o limite pré-estipulado, o pagamento será bloqueado — mas é o consumidor que precisa verificar isso.

“Quem vai se acostumar a revisar valores e regras com antecedência? Se não houver esse hábito, o risco de cobranças indevidas ou excessivas aumenta. O Pix Automático é bem-vindo, mas sem educação financeira, ele pode virar um problema”, conclui Reinaldo Domingos. Assim, a tecnologia avança, mas é o comportamento financeiro que determinará se esse avanço será positivo ou perigoso.

Fonte: Assessoria