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Maceió/Al, 07 de julho de 2025

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04/07/2025 às 13:58

Saúde mental de quilombolas será mapeada por pesquisadores da Ufal

Saúde mental de quilombolas será mapeada por pesquisadores da Ufal Saúde mental de quilombolas será mapeada por pesquisadores da Ufal

As comunidades quilombolas remanescentes localizadas no município sertanejo de Poço das Trincheiras, Jacu-Mocó e Alto do Tamanduá serão as primeiras beneficiadas pelo projeto intitulado Transtornos de Depressão e Ansiedade em Comunidades Quilombolas do Estado de Alagoas: Estudo Epidemiológico e do Microbioma Intestinal. Trata-se de uma iniciativa que tem parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e vai integrar o Genoma SUS. Além do levantamento epidemiológico dos transtornos mentais, também está sendo realizado o sequenciamento genético das famílias, o qual buscará estabelecer possíveis relações entre alterações genéticas que podem estar associadas aos problemas de saúde mental, especialmente ansiedade e depressão.

O estudo desenvolvido faz parte da pesquisa de doutorado de Marcílio Melo, com orientação do professor Marcelo Duzzioni, doutor em Farmacologia e coordenador do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde (PPGCS), da Universidade Federal de Alagoas. Esse projeto do doutorando chamou a atenção da Fiocruz, que integra a iniciativa nacional Genoma SUS. “O sequenciamento completo do genoma de um paciente, hoje, é muito caro. Não temos esse recurso. Então, quando a Fiocruz fez a proposta da nossa participação no Projeto Genoma SUS, ficamos encantados com essa possibilidade e, desde então, estamos trabalhando para viabilizar isso”, afirmou Duzzioni.

Na avaliação do docente, para um mapeamento do genoma completo, é extremamente importante a inclusão dessas comunidades. “Elas tiveram poucas trocas com o mundo externo, o que resultou em muitos casamentos consanguíneos e, por conseguinte, preservam ainda muito da genética ancestral”, argumentou o orientador, referindo-se às famílias quilombolas Jacu-Mocó e Alto do Tamanduá.

O doutorando Marcílio Melo conta que o projeto está focado em quatro pilares. O primeiro será o levantamento epidemiológico dos transtornos mentais nas comunidades quilombolas alagoanas; o segundo, o foco será o sequenciamento genético; o terceiro, o estudo da relação entre alterações do microbioma intestinal (disbiose) e os transtornos mentais; e o quarto, as alterações do perfil metabólico, como diabetes, hipertensão e a relação com os transtornos de ansiedade e depressão.

Segundo Melo, a escolha de Poço das Trincheiras para base inicial do projeto se deu em 2023, quando a Folha de São Paulo publicou reportagem com relatos de muitos casos de tentativas e de suicídios, na comunidade Jacu-Mocó. Ainda no período de formatação do projeto, o doutorando foi até lá junto à equipe da Secretaria de Estado da Saúde de Alagoas (Sesau). “Na verdade, são duas comunidades rurais, Jacu e Mocó, mas, por conta dos casamentos consanguíneos, é praticamente uma só família. Vivem praticamente isolados. Para chegar à pista principal do município, caminham quase uma hora a pé. Quando chove, é quase impossível sair de lá”, relatou o doutorando, acrescentando que o Alto do Tamanduá, que basicamente fica à beira da pista principal da cidade, é uma comunidade de acesso mais fácil, uma das mais urbanizadas.

O projeto já foi submetido ao Comitê de Ética, essencial à liberação da aplicação da pesquisa nas comunidades. A ideia, segundo Melo, é aplicar Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20), desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), com o objetivo de avaliar os transtornos mentais. Além do Inventário de Depressão de Beck, escala de autorrelato, com 21 itens, para levantamento da intensidade dos sintomas depressivos, e o de Ansiedade de Beck, uma lista de 21 itens que descrevem sintomas de ansiedade, como sensação de medo, inquietação, tensão muscular e preocupação excessiva. O trabalho de campo será iniciado este ano de 2025, mas já estão sendo realizadas reuniões dos pesquisadores com representantes das comunidades e da Fiocruz, com gestores do estado e do município, agentes de saúde e profissionais da Supervisão de Atenção Psicossocial (Suap). Tudo isso para ajuste e integração dos procedimentos.

“Estamos alinhando com os profissionais do município, desde a questão do transporte, até as datas das coletas de sangue, os hemogramas, o perfil metabólico. Todo esse material biológico vai ser enviado ao laboratório conveniado com o município. Também realizamos encontros com os agentes de saúde, o que foi fundamental para nossa percepção do contexto onde as famílias quilombolas estão inseridas”, adiantou o doutorando.

Após a aplicação da pesquisa de campo, a equipe vai estabelecer os índices tanto de ansiedade quanto de depressão para correlacioná-los com variáveis, como parâmetros sanguíneos e também de fezes. Ao final, todo o trabalho será discutido com as autoridades para propositura de soluções adequadas para o cuidado com a saúde mental das referidas comunidades. “Se for apurada uma alteração no microbioma intestinal geral na comunidade, será possível, a partir de um trabalho conjunto com profissionais da Nutrição, estabelecer um plano alimentar comunitário, com a implementação de hortas. Dando certo, será possível pensar em ações que não passem, necessariamente, por uma terapia medicamentosa. Se houver alterações no perfil genético, poderemos entender a predisposição para certas doenças. Isso vai facilitar um planejamento financeiro e a priorização das ações de saúde pública”, afirmou Melo.

Ele ressalta que, se os demais municípios onde existem comunidades quilombolas também abrirem suas portas, assim como vem acontecendo em Poço das Trincheiras, será possível dar continuidade à pesquisa de forma satisfatória.

Para Aline Jacu-Mocó, liderança ativa da comunidade, todos têm o papel fundamental de apoiar, de se apoiar, de ajudar ainda mais os profissionais da área de saúde mental e os pesquisadores que estão preocupados com a população. “Na comunidade quilombola onde resido, é preocupante o número de pessoas que têm problemas mentais, que consomem remédio para poder dormir. As pessoas vivem muito ansiosas e deprimidas, isso prejudica a vida em comunidade. É muito assustador. Espero que todo esse movimento beneficie a comunidade de forma geral, para que a gente possa viver com mais tranquilidade, viver mais feliz”, avaliou.

Saiba mais em: ufal.br

Ascom Ufal

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