Grupo da Ufal analisa arquitetura residencial em Maceió nos anos 60

Mais de 500 projetos da Semurb foram catalogados e alguns deles serão recriados em 3D

Entre platibandas e cobogós, os traços modernos da arquitetura da década de 1960 em Maceió são objeto de muitos estudos na Ufal. O Núcleo de Pesquisa sobre Projetos Especiais (Nuppes), vinculado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) tem se debruçado agora na pesquisa sobre o projeto enquanto documento histórico, e o recorte é feito a partir de residências unifamiliares nos bairros Farol, Pinheiro e Pitanguinha.

O estudo é feito por meio do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), ciclo 2024/2025, que está na reta final e já apresenta alguns resultados. Os alunos Rosana Santos e Madson L. Almeida tiveram orientação da professora Manuella de Andrade e do pesquisador externo Ítalo Monteiro, para realizar um extenso trabalho que envolveu revisão bibliográfica, catalogação e categorização dos projetos aprovados na década de 1960, registrados no acervo municipal na Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb) e eventos acadêmicos para debater cada processo de desenvolvimento.

O ciclo do Pibic vai encerrar em agosto com algumas atividades práticas, mas o grupo já identificou peculiaridades que retratam aspectos da produção arquitetônica da época. “A análise dos projetos revelou que a grande maioria das obras era assinada por engenheiros, como Carlos Gilberto de Andrade Lyra, o que reflete o contexto profissional da época. Entre os profissionais encontrados, destacam-se as arquitetas Zélia Maia Nobre e Edy Marreta, ambas notáveis pela qualidade dos projetos desenvolvidos”, comentou Madson.

Durante as primeiras atividades, o grupo teve apoio do coordenador do Acervo Público de Alagoas, Fagner Rios, para acessar o material e localizar projetos de residências unifamiliares modernas construídas neste período. Foram mais de 500 projetos catalogados e após uma varredura detalhada da produção residencial da década de 1960, o grupo escolheu 19 projetos para aprofundar os estudos em oficinas abertas para estudantes e profissionais da Ufal.

“Dentre os inúmeros projetos levantados, observou-se uma variedade de abordagens dentro da linguagem moderna. Muitos exemplares revelam uma intenção modernista com expressividade singela, como os projetos localizados na Gruta de Lourdes, região que, à época, ainda era registrada como parte do bairro Farol. Por outro lado, alguns projetos apresentam maior dimensão espacial e um uso mais evidente dos elementos modernos, alcançando uma maior expressividade arquitetônica”, disse o pesquisador.

Nas análises dos projetos escolhidos, a pesquisa destaca que essa diversidade não estabelece hierarquias de valor. “Revela a pluralidade com que a modernidade foi apropriada na cidade de Maceió. Elementos como platibandas, cobogós, pátios internos e jardins se apresentam com diferentes graus de presença e refinamento, compondo um panorama vasto e heterogêneo da arquitetura residencial moderna local”, conclui.

Palestras e oficinas

O vasto material analisado no ciclo 2024/2025 do projeto Pibic do Núcleo de Pesquisa sobre Projetos Especiais (Nuppes) rendeu diversas atividades para discutir, pelo viés técnico, o valor cultural ente da arquitetura residencial unifamiliar moderna e apontar a relevância do projeto no processo de valoração do patrimônio moderno.

O primeiro evento de extensão foi o ciclo de palestras Onde está a arquitetura moderna residencial de Maceió? Que contou com a presença de especialistas e pesquisadores discutindo diferentes abordagens sobre o morar moderno, obras emblemáticas e interpretações contemporâneas da arquitetura residencial na capital.

Os professores Ítalo Monteiro e Denise Lages ministraram a primeira sessão de palestras abordando as transformações urbanas e arquitetônicas desde a década de 1940 até 1960, com reflexões sobre os modos de habitar e os elementos característicos da linguagem moderna.

Já a contribuição feminina na arquitetura local foi lembrada por Letícia Bayner, na segunda sessão de palestras, destacando o legado da arquiteta Zélia Maia Nobre. O evento também contou com a participação da arquiteta Mathe Leão, que analisou os atributos formais e espaciais que definem as residências unifamiliares modernas.

“As palestras foram muito enriquecedoras pra mim, não somente porque faço pesquisa sobre o tema, mas porque tive a oportunidade de assistir e discutir presencialmente sobre produções de pessoas que admiro e já acompanhava nas minhas leituras. Assim como foi muito bom compartilhar o conhecimento e abrir novas discussões que eu não teria oportunidade de vivenciar, se não fosse por esses eventos”, reforçou a estudante de arquitetura da Unima, Brenda Abreu.

A última sessão de palestras trouxe reflexões sobre identidade e memória, com a professora Maria Angélica Silva e a participação dos pesquisadores Madson Almeida e Rosana Santos, que apresentaram os resultados preliminares das atividades desenvolvidas.

O Nuppes/Ufal avançou para uma etapa mais prática da pesquisa com a realização de oficinas para aprofundar a análise dos projetos levantados e filtrados na fase inicial. Os 19 projetos escolhidos nesse trabalho foram apresentados pela equipe de pesquisadores que elaborou 32 cards ilustrativos para evidenciar os atributos da arquitetura moderna, como os elementos vazados e a composição prismática das fachadas. Esse material auxiliou os participantes nas discussões.

“A dinâmica de conectar os elementos arquitetônicos dentro de uma lógica projetual foi muito interessante, podendo entender melhor consequentemente a obra a ser analisada. Outro ponto a destacar foi a possibilidade de interação numa lógica heterogênea de grupo”, destacou o estudante Paulo André, que teve a oportunidade de participar das oficinas com um grupo formado por alunos de diferentes períodos do curso.

Próximos passos

A etapa final da pesquisa Pibic inclui o redesenho dos projetos selecionados a partir das oficinas. O grupo vai recriar imageticamente a ambiência da época a fim de contribuir para uma leitura mais sensível e aprofundada do legado arquitetônico moderno em Maceió.

De acordo com os pesquisadores, uma parte do trabalho já será apresentada na 18ª Semana de Arquitetura e Urbanismo, organizada pelo Programa de Educação Tutorial (PET Arquitetura) no início de agosto, e a expectativa é publicar a pesquisa em outros eventos e revistas. Madson Almeida também adianta: “Está proposto que a investigação continue no próximo ciclo do Pibic, ampliando o tempo e a localidade urbana”.

Ascom Ufal