OPINIÃO E INFORMAÇÃO Facebook Twitter
Maceió/Al, 02 de agosto de 2025

Notícias

24/07/2025 às 14:57

Entre o hype e a realidade: qual o caminho da computação quântica até a maturidade?

Paulo Watanave Paulo Watanave

A computação quântica, com sua promessa de resolver problemas hoje intransponíveis, solidifica-se como a maior aposta tecnológica global. O entusiasmo permeia desde o SXSW 2025, onde líderes como Arvind Krishna (IBM) e Jensen Huang (Nvidia) projetaram sua chegada ao mercado nesta década. Até o Google vislumbra aplicações práticas nos próximos cinco anos. O Brasil, ciente do potencial disruptivo, também se posiciona: o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação elabora um plano nacional de desenvolvimento, prevendo um investimento de R$ 5 bilhões até 2024, combinando setores público e privado para inserir o país na vanguarda.

Apesar do otimismo, é fundamental ir além do "hype" para compreender os desafios que se impõem à tecnologia revolucionária. A Pesquisa Tecnologia Bancária 2025, do Febraban, embora a posicione na curva de adoção de tecnologias disruptivas junto a Cloud, IA e Blockchain, aponta para uma realidade mais complexa. Para Paulo Watanave, Diretor de Operações de Data & AI na NAVA, as empresas precisam ter clareza sobre o que está, de fato, em jogo: "Há, ainda, muitos obstáculos técnicos a serem superados, especialmente as instabilidades físicas dos próprios qubits, o iminente risco à criptografia atual e a viabilidade comercial em larga escala", afirma.

A verdadeira complexidade da computação quântica reside na sua natureza fundamental. Diferente dos bits clássicos (0 ou 1), os qubits – os "dançarinos quânticos" – podem ser 0 e 1 simultaneamente, numa superposição que os torna exponencialmente mais poderosos. Contudo, a fragilidade desses estados é o seu calcanhar de Aquiles: a decoerência. A alta taxa de erros nos qubits, a exigência de condições físicas extremas – como temperaturas próximas ao zero absoluto e isolamento total contra vibrações e ruídos –, são manifestações desse desafio primordial. “Qualquer mínima alteração nesses fatores torna o sistema instável, dificultando a escalabilidade e a viabilidade prática no curto prazo”, explica Watanave. “Apesar dos avanços em linguagens de programação quânticas, o contexto geral ainda está numa fase quase experimental, onde o desafio de engenharia é tão monumental quanto o da própria física.”

Essa batalha contra a decoerência gera outra questão crucial: o "Quantum Advantage" versus "Quantum Supremacy". Enquanto a supremacia (demonstrada pelo Google) prova que um computador quântico pode resolver um problema em segundos que levaria milênios para um supercomputador clássico, o "advantage" se refere à capacidade de resolver problemas comercialmente relevantes de forma prática. Estamos no início da jornada para o advantage. O caminho mais provável no curto e médio prazo é a computação híbrida quântico-clássica, onde os processadores quânticos atuam como aceleradores especializados para partes de problemas complexos, operando em conjunto com a infraestrutura clássica.

Do ponto de vista de segurança, a computação quântica representa um desafio existencial para a criptografia que hoje protege nossos dados. “Atualmente, a maioria das ferramentas de segurança baseadas em criptografia pode ser facilmente superada por um computador quântico de grande escala”, destaca Watanave. Essa preocupação levou ao surgimento do conceito “Colha Agora, Decifre Depois”: dados criptografados hoje, mas roubados, podem ser armazenados por atacantes e decifrados no futuro, quando computadores quânticos mais poderosos estiverem disponíveis.

Diante disso, a transição para a Criptografia Pós-Quântica (PQC) é uma corrida global. A preocupação com a segurança levou o Centro Nacional de Segurança Cibernética do Reino Unido a estabelecer um cronograma para que grandes organizações atualizem seus sistemas criptográficos até 2028. Até lá, a adoção ampla da computação quântica pode ser deliberadamente adiada, para evitar vulnerabilidades massivas durante a transição criptográfica.

Além dos desafios técnicos e de segurança, a computação quântica levanta profundas questões éticas e sociais. “A escalabilidade cria um abismo de poder computacional se o acesso estiver restrito apenas às big techs ou a nações com recursos ilimitados, o que pode gerar implicações graves para a soberania digital, a privacidade e até mesmo a vigilância”, pondera Watanave. A capacidade de simular moléculas para novos fármacos é tão poderosa quanto a de quebrar sistemas de defesa, levantando a discussão sobre tecnologias de duplo uso.

Outro ponto pouco comentado é a escassez de talentos especializados em computação quântica. Não basta ter cientistas de dados ou programadores; são necessários físicos, matemáticos e engenheiros com um entendimento profundo da mecânica quântica e de suas aplicações computacionais. A formação dessa nova geração de especialistas é um investimento de longo prazo. Para o executivo, estamos vivenciando o nascer de uma fronteira tecnológica promissora, com potencial para transformar radicalmente da ciência à indústria (descoberta de fármacos, modelagem financeira complexa, otimização logística, novos materiais). Apesar do entusiasmo crescente, é fundamental manter uma visão crítica e realista quanto aos desafios que ainda precisam ser superados. “Só assim será possível garantir que os benefícios dessa revolução tecnológica sejam amplamente distribuídos e sustentáveis no longo prazo, com uma orquestração cuidadosa entre o potencial do caos quântico e a governança humana.”

Sobre a NAVA

Com mais de 29 anos de experiência, a NAVA é especializada em transformação digital, modernização tecnológica e soluções que impulsionam a eficiência e o crescimento das maiores empresas do Brasil. Especialista em Digital Strategy, Agile Development, Data, IA, Cloud, Cibersegurança e Infraestrutura de TI, a NAVA integra tecnologia de ponta em cada etapa do negócio dos clientes: do planejamento à construção e sustentação de projetos feitos sob medida, sempre com foco no sucesso e inovação.

Fonte: Assessoria

Comentários

Coqueiro Seco
Siga o AL1 nas redes sociais Facebook Twitter

(82) 996302401 (Redação) - Comercial: [email protected]

© 2025 Portal AL1 - Todos os direitos reservados.