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Maceió/Al, 21 de novembro de 2024

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Arnóbio Cavalcanti Arnóbio Cavalcanti
Doutor em Economia pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, HHESS, França. Professor da Universidade Federal de Alagoas com linhas de pesquisa em Finanças Públicas, Economia do Setor Público, Macroeconometria e Desenvolvimento Regional.
19/01/2024 às 15:45

“Estudo economia diariamente, para nunca ser enganado por nenhum economista”

Eu costumo plagiar essa frase da economista Joan Robinson em conversas com colegas, sempre que sou questionado para falar sobre algum tema de economia.

Será que J. Robinson, uma das mais importantes economistas inglesas do século XX e introdutora do termo "monopsônio", tem razão? Vejamos...

Diferentemente das ciências exatas, onde existe um único paradigma para os problemas tratados, na ciência econômica coexistem três discursos principais que correspondem a escolas diferentes: neoclássico, keynesiano e marxista.

Nascida por volta de 1870 (Menger, Gevons e Mashall), a corrente neoclássico, também chamado de liberal, tem como princípio a ideia que o indivíduo age sempre de forma racional, buscando tirar o melhor proveito das suas ações com foco no seu bem-estar. Se cada indivíduo procurar agir racionalmente perseguindo seu interesse, a coletividade atingirá automaticamente o ótimo coletivo (bem estar social). Eles consideram também que o valor (preço) de um produto (bem) é proporcional a utilidade que ele nos proporciona (valor utilidade).

A economia, segundo os neoclássicos, é constituída de consumidores e produtores, sendo que o “encontro” desses dois, constitui o mercado. Os produtores ofertam bens no mercado, enquanto que, os consumidores consomem os produtos desse mercado. O encontro dos produtores e consumidores vai permitir negociar livremente um preço “ideal”. Se houver muita oferta de produto, o preço vai cair, por outro lado, se houver escassez de produtos no mercado, o preço vai aumentar, de tal forma que o mercado estará sempre em “equilíbrio”. Temos que deixar os indivíduos ficarem livres para negociar no mercado: “a oferta cria sua própria demanda” (Lei de Say). Nada de intervenção na economia.

Todavia, os neoclássicos ampliaram seus campos de estudos e, atualmente, enveredaram para novas correntes: Economia da Coisa Pública (Becker), Teoria dos Jogos (Nash), Crescimento Endógeno (Lucas), Antecipações racionais (Muth e Sargent), Equilíbrio Geral (Allais e Debreu), entre outros.

O discurso keynesiano, introduzida na segunda metade dos anos 1930 (Keynes), coloca em xeque a famosa Lei de Say. Para os keynesianos as condições de livre escolha dos agentes na economia não garantem, necessariamente, o equilíbrio dos mercados. Os agentes correm o risco de errar nas suas previsões, chegando-se condições de sub-emprego.

Para eles, os neoclássicos erram ao acreditar que a oferta possa criar sua própria demanda. A apologia do individualismo e da economia de mercado não garantem o bem estar social. Ao contrário, “é a demanda que cria sua própria oferta”. Se não estiver o estado garantindo algumas conquistas sociais, por exemplo, corre-se o risco de o mercado oferecer produtos e os consumidores (trabalhadores) não terem renda suficientes para adquiri-los. A presença do Estado na economia será sempre desejável principalmente para corrigir as distorções encontradas no mercado, garantindo, assim, empregos e salários dignos, entre outros.

Atualmente existem várias correntes concorrendo para ampliar e aprofundar os conceitos keynesianos, entre eles, citamos a Teoria do Desequilíbrio (Malinvaud), Síntese Neo-Keynesiana (Hicks e Hansen), Escola de Cambridge (Sraffa), entre outros.

Por fim, existe, ainda, o discurso marxista (Marx), que aparece por volta de 1870, considera que o modo de produção capitalista está estruturado na exploração dos trabalhadores e define que, desta maneira, nunca vai haver equilíbrio na economia do mercado. Nem a análise neoclássica, nem a keynesiana, levarão ao” bem estar da sociedade”.

A falha do sistema capitalista se deve pelo fato de que o modo de produção capitalista, está estruturado num sistema histórico que tem por lei a “acumulação pela acumulação”, onde a classe capitalista sobrevive da exploração da classe de trabalhadores assalariados. O discurso marxista preconiza que, agindo dessa maneira, o capitalismo está condenado a viver em crises periódicas eternas.

Para os marxistas, o valor dos bens é determinado pela quantidade pela quantidade média do trabalho empregado na sua produção (valor trabalho), diferentemente dos neoclássicos e dos keynesianos, que estruturam seus discursos na ideia de que o valor dos bens corresponde a utilidade que ele proporciona para o indivíduo (valor utilidade).

Existe uma renovação das escolas marxistas, entre elas, destacam-se: Marxistas do Terceiro Mundo (Emmanuel), Regulação (Aglietta), Trotskystas (Mendel), entre outros.

Assim, dentro do que se foi falado dessas três escolas econômicas, fica claro que, ao se ler um texto econômico, torna-se imprescindível observar sob qual perspectiva (corrente de pensamento) o autor está analisando o problema.

Agora devolvo para vocês. Será mesmo que Joan Robinson está correta na sua afirmação?

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