Embora existam muitas tendências na economia, o keynesianismo é, talvez, a corrente que gerou maior impacto na sociedade atual, notadamente nos países emergentes como o Brasil.
Trata-se de um movimento iniciado por John Maynard Keynes cujas ideias podem ser sintetizadas na sua obra Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, publicada em 1936, época da Grande Depressão, quando a taxa de desemprego subiu para mais de 25% nos EUA e até 33% em alguns países. Keynes, cujo nome inspirou o keynesianismo, é, ainda hoje, um pensador a quem quase todo economista se refere quando o assunto é ciclo de desenvolvimento econômico ou macroeconomia, seja para validar e ampliar sua teoria, seja para negar seus postulados.
Keynes (1883 - 1946) foi, sem dívida nenhuma, um dos maiores economistas do século XX. Suas contribuições inspiraram nomeadamente a política intervencionista do New Deal - com construção de grandes infraestruturas - utilizada pelo governo dos EUA para sair da crise mundial de 1929, bem como dominou a maioria das políticas econômicas dos países ocidentais até a década de 1970. O nome de Keynes está associado tanto as políticas de reconstrução da Europa no pós-segunda guerra mundial, como também aos acordos de Bretton Woods, em 1944, que resultaram na criação do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional.
Destacamos, ainda, que a teoria de Keynes influenciou sobremaneira a política econômica brasileira - entre 1930 a 1984 – período que vai do governo de Getúlio Vargas ao término do regime militar de 1964. A partir de 1930, o Estado brasileiro passou a intervir de forma cada vez mais decisiva no conjunto da economia. Foi nesse período que o país iniciou seu processo de industrialização, baseado em medidas intervencionista de Substituição de Importação e também viveu o “milagre brasileiro”. A indústria nacional, por exemplo, registrou a terceira maior taxa de crescimento do mundo. O Brasil rural se transformou num país urbano.
Os fundamentos do keynesianismo
Em termos teóricos, a revolução keynesiana pode ser entendida como uma reversão da teoria que exercia domínio na época de Keynes, a escola neoclássica. A fragilidade da visão neoclássica, segundo Keynes, encontra-se na impossibilidade de conseguir prover meios para regular uma “crise”, quando a demanda da economia fosse insuficiente.
Os postulados do keynesianismo estão baseados em dois princípios fundamentais: intervenção governamental e política fiscal, como mecanismos para garantir um crescimento econômico sustentável.
A refutação da lei de Say
Keynes rejeita a ideia neoclássica então predominante, à época, que a economia de mercado se regula espontaneamente e garante o pleno emprego dos recursos. Para Keynes, as oscilações livres dos “preços” das mercadorias não asseguram o equilíbrio dos mercados. Keynes refuta a famosa “lei de Say”, segundo a qual a oferta dos bens cria naturalmente a sua própria procura, fazendo com que os mercados permaneçam em perfeito equilíbrio. Ao contrário, Keynes afirmava que é a demanda a força motriz da economia, e não a oferta.
São os governos que devem atuar para corrigir as irregularidades produzidas pelos ciclos e crises econômicas. Cabe ao governo implementar programas de investimento estruturantes ou benefícios fiscais, a fim de estimular a procura, sempre que a economia se apresentar desaquecida.
Intervenção pública
Ao contrário do que os críticos afirmam, Keynes não recomendava que as autoridades públicas prossigam com uma política econômica ativa a qualquer custo. Para ele, no longo prazo, as contas governamentais devem ser equilibradas. Todavia, quando a economia de um país entrar em recessão, mesmo que seja no curto prazo, Keynes defendeu a intervenção estatal cíclica. Para ele, somente o Estado, através da sua intervenção, é capaz de restabelecer equilíbrios fundamentais da economia. Keynes afirmava que a ausência do Estado na economia, como defendem os economistas liberais, é um grande "engodo".
A questão do emprego e dos salários
Keynes assinala que os salários não representam apenas um custo de produção, mas também exercem um papel importante na determinação da quantidade demandada na economia. Além disso, no curto prazo, diferentemente dos neoclássicos, Keynes defendeu que os salários nominais são totalmente rígidos, pois os assalariados sempre recusam uma redução na sua remuneração. Na ocorrência de redução de salários, vai haver diminuição da demanda efetiva e aparecimento de uma espiral deflacionista, pois os empresários irão baixar os preços dos produtos para desovar suas produções. Segundo Keynes, a única forma de redução dos salários reais na economia é através da ocorrência do fenômeno da inflação. Finalmente, contradizendo os economistas neoclássicos, que acreditavam na existência do desemprego voluntário, Keynes defendia a existência do desemprego involuntário. Para ele, basta que a demanda seja muito baixa (ou expectativas demasiado pessimistas) que a economia vai à subprodução, engendrando assim desemprego involuntário, pois os empregados recusam oferecer o seu trabalho ao preço abaixo da subsistência.
O keynesianismo atual
Conforme visto, o keynesianismo dominou grande parte da política e da teoria econômica no mundo ocidental desde a crise de 1929 até à década de 1970. Esse período ficou conhecido na economia como “Os Trinta Anos Gloriosos”. Nessa época, a maioria dos países ocidentais se orientou por práticas keynesianas e registaram índices exuberantes de crescimento econômico, acompanhados de fortes investimentos em sua infraestrutura. Foi nesse ciclo que o Brasil construiu seu parque industrial e viveu o “milagre brasileiro”, onde a indústria nacional cresceu 14% a.a. durante quase 6 anos seguidos.
A partir da segunda metade dos anos 1970, com o aparecimento da estagflação, o keynesianismo perdeu seu dinamismo e popularidade no mundo ocidental. Contribuiu para isso, as críticas vindas dos economistas monetaristas, liderados pelo prêmio Nobel da economia M. Friedman, sendo substituída gradativamente por ideias neoliberais.
O keynesianismo vai reaparecer com força nos anos 2000, notadamente, durante a crise financeira internacional de 2007/2008, precipitada pela falência do tradicional banco de investimento norte-americano Lehman Brothers. Países como o Brasil, Estados Unidos e Reino Unido, por exemplo, se inspirarem na corrente keynesiana para reestabelecer políticas intervencionistas. Foi durante este período, quando o mundo mergulhava num ciclo de depressão, que o governo Lula II implantou o Programa de Aceleração de Crescimento – PAC, um importante pacote de investimentos em infraestrutura. A economia brasileira reage positivamente e, em 2010, atinge um crescimento de 10% a.a.. De fato, a era Lula I e II, entre os anos 2014 a 2010, o PIB brasileiro cresceu em média 5% a.a., correspondendo o dobro de crescimento anual das décadas 1980 e 1990. Esse período ficou conhecido na literatura econômica como “milagrinho”.
De fato, a obra de Keynes influenciou a maioria dos economistas subsequentes, muitos dos quais se consideram keynesianistas. Com isso, surgiram novas doutrinas, como o neokeynesianismo, a nova economia keynesiana e o pós-keynesianismo.
O que acha das ideias de Keynes? Você acredita mesmo que a edificação do parque industrial e a atual infraestrutura brasileira são heranças das ideias intervencionistas estatal de Keynes?
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