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Maceió/Al, 04 de dezembro de 2024

Colunistas

Arnóbio Cavalcanti Arnóbio Cavalcanti
Doutor em Economia pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, HHESS, França. Professor da Universidade Federal de Alagoas com linhas de pesquisa em Finanças Públicas, Economia do Setor Público, Macroeconometria e Desenvolvimento Regional.
26/11/2024 às 12:07

Os Ciclos econômicos: apresentação e análise

No longo prazo, o estudo do comportamento das economias de mercado tem sido caracterizado por dois tipos de fenômenos: a tendência de crescimento e as flutuações mais ou menos importante da atividade produtiva em torno desta tendência. Os ciclos econômicos se intercalam mais ou menos regular em fases de expansão e de contração econômica.

A fase expansão ocorre quando há um período contínuo de crescimento que vai de um ponto de baixa atividade econômica para um ponto de alta produção. Nessa fase, é comum que as pessoas gastem mais e que as empresas tenham suas vendas aquecidas e aumentem suas lucratividades. Inversamente, na fase de contração, a economia começa a encolher, reduzindo progressivamente seus indicadores financeiros.  As empresas geram queda no faturamento, perda do faturamento e o desemprego aumente.

Os ciclos há muito têm fascinado os economistas. Durante o período dos trinta anos gloriosos, nas décadas de 1950 e 1970, quando houve grandes transformações econômicas e sociais nos países desenvolvidos, chegou-se a pensar que os ciclos tenderiam a desaparecer em favor de um crescimento mais regular. Contudo, após o primeiro e segundo choque do petróleo, as preocupações com os ciclos voltaram ao centro do debate econômico.

Os ciclos econômicos de curta duração

C. Juglar (1862) foi o primeiro economista a demonstrar a existência de ciclos de curto prazo. Para ele, as economias capitalistas produziam ciclos econômicos de duração aproximada de dez anos. Em seu trabalho, intitulado “As Leis das Crises”, Juglar demonstrou que os ciclos ocorridos nas economias capitalistas eram resultantes dos desvios existentes nos níveis de suas produções.

Pesquisas posteriores ilustraram outro tipo de ciclo curta duração. Em 1923, o economista americano J. Kitchin demonstrou a presença de ciclos menores, desta vez com duração de aproximadamente quarenta meses, que se assemelhavam, em certa medida, aos ciclos de Juglar. O ciclo de Kitchin está relacionado à gestão de estoques pelas empresas. Segundo ele, sempre que as empresas do setor de distribuição e as indústrias de transformação acumulam estoques, elas recorrem posteriormente à liquidação desses estoques, gerando flutuações econômicas.

Os ciclos econômicos de longa duração

O economista russo N. Kondratieff foi pioneiro no estudo das flutuações de longa duração nas economias capitalistas. Ele iniciou suas pesquisas sobre o comportamento de longo prazo dessas economias em 1919 e, em 1920, fundou em Moscou o Instituto de Estudos Conjunturais.

Analisando o crescimento industrial de vários países capitalistas, a partir de dados estatísticos e documentais desde o final do século XVIII, Kondratieff descobriu que os ciclos de longa duração nas economias ocidentais ocorriam entre cinquenta e sessenta anos. Seus estudos revelaram que o movimento de longa duração dos ciclos decorria da defasagem entre a produção e os preços.

Anos depois, o economista J. Schumpeter (1939) buscou explicar esses ciclos longos por meio de ondas de inovação e propôs uma combinação entre os ciclos de Kondratieff, Juglar e Kitchin. Schumpeter estudou as flutuações ocorridas nas principais economias mundiais desde a Revolução Francesa e denominou essas flutuações como ciclos de Kondratieff.

Analisando esses ciclos, Schumpeter elaborou justificativas para as flutuações econômicas globais, baseadas no processo de inovação tecnológica.

Os estudos de Schumpeter ajudaram a compreender a fase de expansão econômica dos "trinta anos gloriosos", bem como identificou o ano de 1973, como o início de um período de declínio de longo prazo da economia mundial.  

Uma teoria de ciclos reais

Na segunda metade da década de 1970, após quase trinta anos de expansão econômica (1945-1975) da economia mundial, foi um verdadeiro despertar para muitos economistas. O arcabouço keynesiano básico passou a não ser suficiente para compreender os ciclos econômicos, nem tampouco para oferecer respostas adequadas às mudanças no ambiente econômico ou na política monetária e fiscal ocorridas nos diversos países.

Foi nesse contexto que surgiu a corrente da "nova economia clássica". Essa escola se distanciou da visão acumulada dos ciclos e consolidou, na década de 1980, a Teoria dos Ciclos Reais (TCR).

A TCR sustenta que as flutuações no produto e no emprego decorrem de uma série de choques reais que atingem a economia dos países, todavia os mercados se ajustando rapidamente e permanecendo em equilíbrio. As políticas fiscais e monetárias são ineficientes. Essa abordagem, tão importante para o desenvolvimento da macroeconomia, rendeu aos seus principais proponentes, Finn E. Kydland e Edward C. Prescott, o Prêmio Nobel de Economia em 2004.

Reflexão

Certamente, uma análise de ciclos econômicos atingiu novos patamares. Com o avanço da ciência de dados e da inteligência artificial, os economistas hoje dispõem de ferramentas cada vez mais sofisticadas para prever tendências econômicas. Será possível prever com precisão um novo ciclo para a economia mundial?

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