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Maceió/Al, 04 de dezembro de 2024

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Arnóbio Cavalcanti Arnóbio Cavalcanti
Doutor em Economia pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, HHESS, França. Professor da Universidade Federal de Alagoas com linhas de pesquisa em Finanças Públicas, Economia do Setor Público, Macroeconometria e Desenvolvimento Regional.
03/12/2024 às 09:59

A curva de Phillips e a lei de Okun: história de dois instrumentos de análise de desemprego no Brasil em 2024

A Curva de Phillips e a Lei de Okun buscam estabelecer uma relação entre desemprego e outros fatores econômicos. Para a Curva de Phillips, esse fator é a inflação, enquanto para a Lei de Okun, é o Produto Interno Bruto (PIB). A Curva de Phillips afirma que há uma relação inversa entre desemprego e inflação, ao passo que a Lei de Okun estabelece uma relação inversa entre desemprego e crescimento do PIB.

Este artigo apresenta uma visão geral da história e aplicabilidade da Curva de Phillips e da Lei de Okun, oferecendo uma análise relevante para a economia brasileira atual.

A curva de Phillips

O economista neozelandês Alban William Phillips foi o primeiro a abordar esse assunto em um artigo de 1958. Phillips identificou uma relação estatística entre Taxas de Desemprego e Taxas de Variação de Salários na Grã-Bretanha, analisando dados de 1861 a 1957.

A relação estatística foi formalizada por Robert Lipsey. Posteriormente, Paul Samuelson (Prêmio Nobel de 1970) e Robert Solow (Prêmio Nobel de 1987) propuseram uma interpretação dentro do quadro teórico keynesiano. Eles argumentaram que essa relação indica uma correlação inversa entre taxa de inflação e taxa de desemprego: ao aumentar a inflação, diminui-se o desemprego, e vice-versa.

Em função da Curva de Phillips, na década de 1960, a maioria das economias ocidentais acreditava que estímulos fiscais aumentassem demanda agregada, reduzindo desemprego e elevando salários devido à competição por mão de obra qualificada. Com isso, as empresas aumentariam os salários para atrair os trabalhadores mais qualificados, repassando esses custos aos consumidores na forma de aumentos de preços. Muitos governos passaram a adotar a estratégia "stop-go" onde uma taxa-alvo de inflação era estabelecida, e políticas fiscais e monetárias eram usadas para expandir a economia. A inflação era considerada um “mal necessário” para diminuir o desemprego.

A partir da década de 1970, no entanto, o compromisso entre inflação e desemprego perdeu validade na política econômica. O conceito original da Curva de Phillips foi refutado devido à estagflação, fenômeno que combinou inflação alta com desemprego crescente. O primeiro choque petrolífero (1973) acentuou essa tendência: inflação e desemprego subiram simultaneamente. Nos EUA, entre 1973-1975, por exemplo, PIB caiu por seis trimestres consecutivos a inflação triplicou.

Embora apresente limitações, a Curva de Phillips continua a ser uma ferramenta útil para formuladores de políticas econômicas, uma vez que fornece um marco teórico essencial para compreender a relação entre inflação e desemprego no contexto do desenvolvimento econômico.

A lei de Okun

Proposta pelo norte-americano Arthur Okun (1928-1980), em 1962, a Lei de Okun estabelece uma correlação positiva entre o crescimento econômico de um país, medido pelo PIB, e a diminuição do desemprego, sendo hoje uma ferramenta fundamental na economia do trabalho.

A Lei de Okun sugere que, para reduzir o desemprego, o país ou região precisa alcançar um crescimento econômico sustentável, superior a 2% do PIB. Apenas um crescimento forte é necessário para garantir a redução do desemprego.

Estudos empíricos têm sido elaborados para analisar a validade da Lei de Okun, entre outros foram utilizados dados macroeconômicos dos EUA, França e Brasil para avaliar o efeito multiplicador da produtividade do emprego no crescimento da renda. Uma análise realizada com base em modelos econométricos mostrou os seguintes resultados:

- EUA: para uma redução de 1% no desemprego requer crescimento de 3% do PIB;

- França: para uma redução de 1% no desemprego requer crescimento de 2,5% do PIB;

- Brasil: para uma redução de 1% no desemprego requer crescimento de 4% do PIB.

Esses resultados demonstram a relevância da Lei de Okun como ferramenta analítica para entender a relação entre crescimento econômico e redução do desemprego. Sugerem ainda que as políticas econômicas implementadas nesses países devem priorizar o crescimento sustentável para alcançar reduções significativas no desemprego.

Reflexão

A taxa de desocupação no Brasil no terceiro trimestre de 2024 foi de 6,4%, uma redução de 1,3 ponto percentual em relação ao mesmo período de 2023 (7,7%). De acordo com o IBGE, a queda na taxa de desemprego ocorreu em todos os níveis de escolaridade, com destaque para as pessoas com ensino médio incompleto, que apresentaram a maior diminuição.

Para você, a queda na taxa de desemprego no Brasil, que ocorrerá em 2024, deve-se à Curva de Phillips (aumento da inflação) ou à Lei de Okun (crescimento do PIB)? Ou ambos?

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