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Maceió/Al, 02 de janeiro de 2025

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Arnóbio Cavalcanti Arnóbio Cavalcanti
Doutor em Economia pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, HHESS, França. Professor da Universidade Federal de Alagoas com linhas de pesquisa em Finanças Públicas, Economia do Setor Público, Macroeconometria e Desenvolvimento Regional.
30/12/2024 às 05:34

A Economia Marxista: Conceitos e Teses

 A economia marxista é uma escola de pensamento econômico baseada nos trabalhos de Karl Marx, principalmente "O Manifesto Comunista" e "O Capital", além de obras de seus sucessores marxistas. 

O método marxista não segue a escola racionalista de René Descartes nem o pensamento empirista de Francis Bacon. Os marxistas defendem que os fenômenos econômicos resultam de múltiplas causas, exigindo abordagens variadas de investigação, adaptadas ao contexto específico do estágio de desenvolvimento capitalista. De fato, a teoria marxista baseia-se no método dialético de Friedrich Hegel, que propõe uma lógica de causalidade complexa e relações não lineares na realização dos fenômenos econômicos.

A base da teoria marxista reside numa análise materialista da evolução histórica. Os marxistas entendem a economia como uma sucessão de modos de produção - produção feudal, produção capitalista, produção socialista e comunista. Essa visão dialética enfatiza a luta de classes e as contradições econômicas como motores do progresso histórico.

A infraestrutura econômica, ou seja, a base econômica da sociedade, é o fator determinante de sua evolução, e não a superestrutura ideológica, jurídica e política. Essa visão marxista enfatiza que as condições materiais e econômicas moldam as instituições, ideologias e relações sociais.

Este artigo explora a diversidade das abordagens econômicas marxistas. Em seguida, apresentaremos os conceitos e teses marxistas e as principais escolas de pensamento.

Terminologia e conceitos usados pela escola marxista

Materialismo histórico

O pensamento econômico marxista baseia-se no materialismo histórico, inspirado em Ludwig Feuerbach. Essa concepção sustenta que os agentes econômicos pensam, agem e produzem com base nas suas condições socioeconômicas, porém a estrutura social é determinada pelas condições de reprodução material. Em outras palavras, as condições materiais e econômicas moldam as ideias, valores e comportamentos humanos, e não o contrário.

Teoria do Valor-Trabalho

A Teoria do Valor-Trabalho, proposta por Karl Marx, afirma que o valor de um produto é determinado pela quantidade de trabalho socialmente necessário para sua produção. Segundo Marx, o trabalho é o único elemento criador de riqueza e responsável por atribuir valor aos bens. Essa teoria é central na crítica de Marx ao capitalismo e fundamenta suas ideias no conceito de mais-valia.

Exploração e mais-valia

A teoria marxista do valor econômico centra-se na noção de mais-valia, que representa a exploração dos trabalhadores e é fundamental para entender a teoria da exploração social. 

Segundo Marx, a distribuição da riqueza é determinada pela divisão da sociedade em duas classes antagônicas: classe burguesa (detentora do capital) e classe proletária (com apenas sua força de trabalho). O capitalismo explorao trabalhador apropriando-se da mais-valia, pois o capitalista não remunera pelo valor total produzido pelo trabalhador, paga apenas o valor da força de trabalho.

Capital

O marxismo econômico concebe o capital como uma expressão de relações sociais de produção historicamente determinadas, transcendendo sua definição como simples ferramentas de produção. Seu objetivo principal é gerar lucro mediante a produção de bens para venda (valor de troca), a exploração da força de trabalho e a valorização do próprio capital.

Valor dos bens

Para Karl Marx, o valor de um bem possui duas dimensões: valor de uso e valor de troca. Com isso, o valor uso tem um propósito prático e representa a capacidade de satisfazer necessidades humanas, enquanto o valor de troca corresponde o valor monetário de ser trocado por outros bens ou serviços.

Marx argumenta que essas contradições são inerentes ao capitalismo e impossíveis de serem resolvidas dentro do sistema.

Teses marxistas

Funcionamento do sistema de exploração

Para Karl Marx, os capitalistas pagam apenas o necessário para reproduzir a força de trabalho. Com isso, os trabalhadores geram um valor excedente, mais-valia, apropriado pelos capitalistas. A mais-valia, por sua vez, é reinvestida pelos capitalistas, resultando na acumulação do capital. Todavia, a concorrência, entre os capitalistas, produz a concentração de riqueza e desigualdade social, levando a crises periódicas do sistema capitalista

Enfim, Marx argumenta que a dinâmica capitalista, baseada na concentração de riqueza e desigualdade extrema, leva a uma contradição insolúvel: colapso do sistema capitalista.

Tendência da queda da taxa de lucro

Karl Marx defendeu que a taxa de lucro dos capitalistas tende a diminuir à medida que a mecanização substitui os assalariados. Isso ocorre porque os capitalistas investem em inovações tecnológicas para superar concorrentes. As máquinas substituem trabalhadores, reduzindo a força de trabalho. Quanto menos assalariados, menor será a mais-valia, tornando a taxa de lucro menor. Estabelece-se assim um vicioso com crises periódicas e reorganização do sistema. Essa tese é central na crítica marxista ao capitalismo.

Estado de bem-estar

O marxismo econômico considera que as iniciativas estatais controladas pelas elites têm caráter paternalista, pois os benefícios sociais são limitados e visam apenas a manutenção do status quo. Para ele, o Estado Social Keynesiano é ineficiente em abordar desigualdades, pois, na sua essência, perpetua o sistema capitalista. 

Autores marxistas, como Gramsci e Althusser, por exemplo, criticam o Estado social keynesiano por não questionar a propriedade privada e mantém a exploração capitalista.

Desemprego

Os economistas marxistas consideram que o desemprego é uma característica intrínseca do capitalismo, resultado da concentração de capital. Os desempregados constituem o exército de reserva do capitalismo que servem somente para pressionar os salários para baixo, tornando uma fonte desigualdade social e concentração de riqueza.

Principais escolas econômicas marxistas contemporâneas

Escola da regulação 

A Escola de Regulação, fundada por Michel Aglietta e Robert Boyer, oferece uma abordagem inovadora da teoria marxista, incorporando elementos institucionalistas e pós-keynesianos. Principais características. Os teóricos dessa escola advogam que o sistema capitalista tende a se reproduzir, apesar da incerteza e da instabilidade econômica. A Escola de Regulação identifica três modos principais de regulação das economias capitalistas: instituições, políticas, relações sociais.

Teoria dos sistemas mundiais 

A Teoria dos Sistemas Mundiais (TSM) analisa a economia global como um sistema complexo, hierárquico e dinâmico, estruturado por três tipos de países: Centro(nações industrializadas, ricas e poderosas), Semiperiferia (países em transição) e Periferia (países pobres, agrários e dependentes). Essa estrutura colonialista gera uma exploração econômica e política entre as nações, produzindo transferência de riqueza da periferia para o centro e desigualdade global

No Brasil, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é um dos principais representantes da Teoria dos Sistemas Mundiais (TSM). 

Teorias neogramscianas e de hegemonia 

Na sua obra Cadernos do Cárcere" (1929-1935)Antonio Gramsci atribui grande relevância ao conceito de hegemonia como categoria teórico-política. Originalmente, o termo designava a influência das classes trabalhadoras sobre as demais.

Gramsci, de fato, ampliou seu significado para explicar a dinâmica da dominação burguesa e também as estratégias proletárias contra o capitalismo contemporâneo. Seu trabalho se baseou nas ideias de Karl Marx (luta de classes) e Vladimir Lenin (estratégia revolucionária), destacando o papel da cultura e da ideologia na luta de classes.

Esse conceito continua relevante, explicando o comportamento dos movimentos sociais contemporâneos.

Reflexão

Ao logo do texto, constatamos que a economia marxista oferece uma perspectiva crítica sobre o capitalismo, destacando suas contradições e limitações. 

Na sua opinião, as teses e conceitos marxistas continuam influenciando o pensamento econômico contemporâneo?

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