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Maceió/Al, 15 de janeiro de 2025

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Arnóbio Cavalcanti Arnóbio Cavalcanti
Doutor em Economia pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, HHESS, França. Professor da Universidade Federal de Alagoas com linhas de pesquisa em Finanças Públicas, Economia do Setor Público, Macroeconometria e Desenvolvimento Regional.
14/01/2025 às 10:46

O Valor do Conhecimento: A Teoria do Capital Humano de Theodore Schultz e Gary Becker

Desde os primórdios da história, o valor do capital humano, representado pelo conhecimento, evoluiu conforme as necessidades de cada época. Mas foi com o advento do sistema capitalista, que o conhecimento adquiriu importância fundamental.

Muitos economistas do passado, como Adam Smith, Karl Marx e Alfred Marshall, já buscaram explorar o impacto do capital humano nos processos socioeconômicos, porém não conseguiram desenvolver um modelo analítico sistemático. No entanto, foi apenas na década de 1960 que a Teoria do Capital Humano ganhou forma e efetividade. Theodore Schultz (Prêmio Nobel de 1974) e Gary Becker (Prêmio Nobel de 1992), ambos da Universidade de Chicago, desenvolveram o primeiro modelo econômico, destacando a educação como fator crucial no desenvolvimento socioeconômico.

Este artigo visa abordar a Teoria do Capital Humano por meio de um breve levantamento histórico, realizado por uma revisão bibliográfica de literatura publicada sobre o tema.

A Teoria do Capital Humano: De Adam Smith a Gary Becker

Em 1776, Adam Smith discorre pela primeira vez sobre o tema quando escreve “A Riqueza das Nações”, sem utilizar a terminologia, ele se aproxima do que futuramente passaria a considerado a teoria do capital humano. Nessa obra, o capital humano assume a forma de fator de produção, juntamente com o capital, sendo considerado o principal instrumento de mensuração do valor das mercadorias. A capacitação dos indivíduos é fonte de prosperidade, todavia deve ser iniciativa individual, pois Smith assume que o estado deve exercer poucas funções.

Para Adam Smith, a busca de conhecimento é fundamental para melhorar a condição do indivíduo, levando-o à prosperidade. No entanto, ele atribui poucas funções ao Estado, defendendo a liberdade individual na escolha profissional. Smith sustenta que o mercado de trabalho deve ser livre, permitindo aos indivíduos escolherem suas profissões sem restrições. Essa liberdade é regulada pela "mão invisível", que equilibra a oferta e demanda de empregos e mão de obra.

Alfred Marshall, em sua obra "Principles of Economics" (1890), abordou o conceito de capital humano. Ele afirmou que "toda riqueza consiste em coisas desejáveis" e classificou-a em dois grupos: bens materiais e imateriais. Os bens imateriais incluem qualidades e habilidades, que Marshall considerou como capital humano. Ao adquirir conhecimento, o trabalhador aumenta sua confiança e eficiência na execução de suas atividades laborais.

Alfred Marshall destaca também que, a falta de oportunidades entre crianças da classe trabalhadora limitava o potencial de descoberta de talentos excepcionais, prejudicando o desenvolvimento da riqueza nacional.

Karl Marx, em sua obra "O Capital" (1867), apresenta uma perspectiva crítica sobre o conceito de capital humano. Marx argumenta que a divisão do trabalho é utilizada pela classe dominante para explorar a força de trabalho assalariada e consolidar o poder dominante da burguesia. Ele critica Adam Smith por considerar suas ideias sobre oferta e demanda de mão-de-obra como superficiais e ideologicamente motivadas pela classe burguesa. Para Marx, o investimento em educação é fundamental para transformar as relações sociais e empoderar os trabalhadores, permitindo-lhes assumir o controle do Estado.

A consolidação do conceito de capital humano recebeu contribuições significativas ao longo dos anos. No entanto, foi na década de 1960 que a Teoria do Capital Humano se consolidou como ramo da economia. O artigo Investment in Human Capital: A Theoretical Analysis, publicado por Gary Becker em 1964, marcou um divisor de águas, impulsionando definitivamente essa teoria.

Distinção e mensuração do capital humano

Schultz propõe uma dicotomia na mensuração do capital humano: abordagem quantitativa, focada na quantidade de indivíduos, e abordagem qualitativa, que considera fatores como conhecimento, habilidades e competências.

Para a formação do capital humano, Schultz leva em conta elementos como:  recursos relativos à saúde, capacitação e nível de escolaridade, enquanto para medir o estoque de capital humano, o autor leva em conta três aspectos: anos de escola completados, anos escolares completados em diferentes momentos do tempo e os custos de educação como medida. Já a mensuração o do estoque autor considera: anos de escolaridade, trajetória educacional e custos de educação.

Becker conceitua capital humano como investimentos em capital intelectual e habilidades produtivas. Esses investimentos, realizados através da educação formal e informal, geram um estoque de conhecimentos e competências inerentemente ligados ao indivíduo, justificando seu caráter humano.

A colaboração teórica de Schultz e Becker foi fundamental para o desenvolvimento do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), uma ferramenta do PNUD para avaliar o progresso socioeconômico dos países.

A teoria de crescimento econômico depois de Schultz e Becker

O crescimento econômico é um tema fundamental na Economia. O modelo de Solow (1956), premiado com o Nobel em 1987, estabeleceu uma base teórica para entender o crescimento, destacando a importância dos fatores de produção (recursos naturais, capital e trabalho) na determinação do crescimento econômico entre países e regiões. Essa abordagem influenciou significativamente a teoria econômica subsequente.

A contribuição de Schultz e Becker destacou a importância do capital humano na teoria do crescimento econômico. Os modelos tradicionais de Solow (1956), centrados em capital físico e quantidade de mão-de-obra, foram complementados pela consideração da qualidade da força de trabalho, explicando melhor as disparidades de produtividade e crescimento entre países e regiões.

A partir de então, a teoria do crescimento econômico incorporou investimentos em capital humano como fator determinante, originando a Teoria do Crescimento Endógeno, que enfatiza a importância das variáveis internas, como inovação, educação e conhecimento.

A crítica de Sen

A Teoria do Crescimento Endógeno tem sido criticada por economistas marxistas e keynesianos, como Amartya Sen (Prêmio Nobel de 1998), que argumentam que a noção de "capital humano" reduz o ser humano a uma unidade de produção, ignorando dimensões sociais e políticas.

Sen destaca que o desenvolvimento de educação e saúde não deve ser visto apenas como meio de aumentar produtividade, mas também como direitos humanos fundamentais. Além disso, critica a Economia do Bem-Estar baseada na moral utilitária por apresentar limitações informacionais.

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